O consumo de polvo segue numa crescente demanda - da Ásia ao Mediterrâneo e, cada vez mais, nos Estados Unidos. Na Coreia do Sul, onde as vezes são ingeridos vivos.
O número de polvos na natureza está diminuindo e os preços subindo. Estima-se que 350 mil toneladas são capturadas a cada ano - mais de 10 vezes o volume de 1950.
Nesse contexto, a corrida para descobrir o segredo para criar polvos em cativeiro se arrasta há décadas. Polvos consomem apenas alimentos vivos e precisam de um ambiente cuidadosamente controlado.
Empresas em países como México, Japão e Austrália já investiram nessa área, mas foi uma multinacional espanhola, a Nueva Pescanova (NP), a primeira a anunciar o início de fato do cultivo, previsto para 2022. A carne do animal começaria a ser comercializada em 2023.
A companhia desenvolveu seu método com base em uma pesquisa do Instituto Oceanográfico Espanhol que aborda os hábitos reprodutivos do polvo comum - Octopus vulgaris.
Conforme a PortSEurope, a fazenda comercial estará localizada perto do porto de Las Palmas, nas Ilhas Canárias, com produção prevista de 3 mil toneladas de polvo por ano. Ainda de acordo com o portal, a iniciativa, segundo a empresa, ajuda a reduzir a quantidade de animais selvagens retirados da natureza.
Procurada diversas vezes pela reportagem da BBC, a Nueva Pescanova não respondeu aos pedidos de detalhamento sobre as condições em que os polvos serão mantidos. Informações como tamanho dos tanques, a comida com que os animais serão alimentados e como serão abatidos não foram reveladas.
Um grupo de pesquisadores dos EUA, Austrália e Inglaterra descreveu alguns anos atrás a criação dos animais em cativeiro como "ética e ecologicamente injustificada".
Em outubro deste ano, a organização ativista Compassion in World Farming (CIWF) tentou contato com governos de vários países - incluindo a Espanha - instando-os a banir a iniciativa.
"Esses animais são incríveis. São solitários e muito espertos. Colocá-los em tanques estéreis sem estimulação cognitiva é errado", diz Elena Lara, gerente de pesquisa da CIWF. Segundo ela, qualquer pessoa que assistiu ao documentário vencedor do Oscar de 2021 - Professor Polvo (My Octopus Teacher) - entenderá a questão.
Os polvos têm cérebros grandes e complexos. Sua inteligência foi comprovada em vários experimentos científicos - em que foram, por exemplo, observados usando coco e conchas do mar para se esconder e se defender e em que mostraram que podem aprender tarefas rapidamente.
Também conseguiram escapar de aquários e roubar armadilhas colocadas por pescadores.
Os animais não têm esqueletos para protegê-los e são altamente territoriais. Portanto, poderiam ser facilmente machucados em cativeiro. Se houvesse mais de um polvo em um tanque, os especialistas dizem que eles poderiam começar a comer uns aos outros.
Se a fazenda de polvos for instalada na Espanha, aparentemente as criaturas criadas lá receberão pouca proteção sob a lei europeia. Os polvos - e outros cefalópodes invertebrados - são considerados seres sencientes, mas a legislação da UE que cobre o bem-estar dos animais de criação só se aplica aos vertebrados - criaturas que têm espinha dorsal.
Além disso, de acordo com a CIWF, não existe atualmente nenhum método cientificamente validado para seu abate humanitário.
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Fonte: BBC News
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