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12 de Dezembro de 2021 Aquaculture Brasil
Adriana Ferreira da Silva

Zootecnista pela UEM e doutora em Ciências Marinhas pela Universidade Nacional Autônoma do México - UNAM.

Adriana já colocou o pé no curso de zootecnia sabendo o que queria: piscicultura! O mestrado na FURG, no entanto, foi o “divisor de águas” da sua trajetória profissional. Atualmente na cidade de Mérida, capital de Yucatán no México, Adriana conta aos leitores um pouco da sua trajetória e situação atual. E sobre o futuro, não tem planos de voltar a morar no Brasil.

 

 

 

 

AQUACULTURE BRASIL: Afinal, Adri é uma brasileira vivendo no México ou uma mexicana que teve passagem pelo Brasil?

Adriana Ferreira da Silva: Sou brasileira vivendo no México, natural de Londrina no Paraná. Mas na verdade meu sobrenome entrega minha nacionalidade.

 

AQUACULTURE BRASIL: Graduada em Zootecnia pela Universidade Estadual de Maringá - UEM (2007), faculdade localizada no interior do estado do Paraná, como foi sua aproximação com a aquicultura?

Adriana Ferreira da Silva: Na verdade, minha história com a aquicultura começou antes da minha vida acadêmica iniciar. Nascida em Londrina no Paraná, a “Meca” ou polo da produção de tilápia nacional, já vivenciava a aquicultura de forma empírica. Quando comecei meus estudos em Maringá, precisamente no meu primeiro dia de aula, busquei o professor de piscicultura Ricardo Pereira Ribeiro e desde 2002 oficialmente/ profissionalmente iniciei minha jornada na Aquicultura, quase 20 anos.

 

AQUACULTURE BRASIL: Mestre em Aquicultura pela Universidade Federal do Rio Grande - FURG (2009), e doutora em Ciências Marinhas pela Universidade Nacional Autônoma do México UNAM (2014). Como foram essas experiências e o que te fez ficar no México?

Adriana Ferreira da Silva: Durante minha trajetória na graduação me apaixonei pelos crustáceos, especificamente camarão. Sabia que era necessário uma pós nessa área. Fiz inúmeros estágios em fazendas e Centros de pesquisa e optei pelo mestrado na FURG. Buscava nesse momento trabalhar com nutrição de camarões. Foi quando conheci o Dr. Ronaldo Cavalli, que estava de malas prontas para o Nordeste do Brasil. Ele me indicou trabalhar com um colega, Wilson Wasielesky, nosso famoso “Mano”. Neste momento começava uma nova etapa da minha vida, seria o “divisor de águas” da minha trajetória profissional. Tive a honra de aprender sobre a tecnologia de Bioflocos com os pioneiros no Brasil, cheguei exatamente quando eles estavam apenas começando. Minha história com México foi completamente aleatória. Ainda queria muito desenvolver trabalhos com nutrição e durante meu tempo na FURG conheci um colega mexicano, Dr Manuel Valenzuela, quem me indicou a Dra Gabriela Gaxiola da UNAM no México como assessor. Antes de entrar no doutorado, fiz estágio por um período de 2 meses, apliquei para o doutorado, passei e estou aqui desde então.Surgiram muitas oportunidades na área acadêmica e também empresarial, agarrei e me dediquei, o resultado vocês estão conhecendo aqui na revista!

 

AQUACULTURE BRASIL: Além de pesquisadora, também é empreendedora. Quantos anos tem a empresa que você fundou, a “Acuícola Garza”? Como surgiu a ideia de produzir tilápias em BFT?

Adriana Ferreira da Silva: A Acuícola Garza acaba de completar 7 anos operando como uma fazenda produtora e comercializadora de peixes e camarões. Trabalhamos com a tecnologia de Bioflocos desde que iniciamos em 2014. Utilizamos o BFT em todo o ciclo em nossos 65 tanques. Nossa fazenda é uma das maiores da região com uma capacidade de produção de 500 toneladas por ano. Estamos localizados em uma região turística e praticamente toda nossa produção se comercializa em Cancun e Riviera Maya. É uma fazenda comercial, mas também fazemos pesquisa para melhoria contínua da nossa produção. Acuícola Garza é a terceira empresa que fundei aqui no México, Kamer e Corium Fish foram as primeiras. Meus sócios queriam produzir tilápia com alguma técnica ecológica e própria para a região. Aqui não podemos escavar então construir viveiros não era uma opção. Não temos rios, então troca de água seria outro problema. O BFT se casou perfeitamente com os objetivos técnicos e comerciais da Companhia e hoje somos referência como fazenda “eco-friendly” no México.

 

AQUACULTURE BRASIL: Sobre a produção de tilápia em Bioflocos, você vê esse como um caminho para o Brasil, que no momento sofre diante de uma crise hídrica que atinge até mesmo o estado do Paraná, maior produtor nacional de tilápias?

Adriana Ferreira da Silva: Eu sempre enfatizo que o BFT não é para qualquer região e deve estar alinhado com os objetivos de cada empresa e com os recursos essenciais presentes, como disponibilidade de energia e mão de obra especializada por exemplo. Realmente no Brasil o uso do BFT no ciclo completo não seria necessário na maioria das regiões, já que temos recursos suficientes para produzir a menor custo monetário e ambiental. Acredito que produzir alevinos no BFT e depois engordar em sistema convencional seja uma opção na maioria dos estados brasileiros. No caso específico de certas regiões e agora com essa crise hídrica o aquicultor deve repensar nas estratégias de produção e claro, o BFT é uma opção que deve ser levada em consideração. Existem ao redor do mundo muitas fazendas de ciclo completo trabalhando tilápia nos bioflocos, portanto, é uma realidade não mais algo piloto comercial.

 

AQUACULTURE BRASIL: Quais as principais vantagens que você vê no cultivo de tilápia em bioflocos? E quais os principais desafios?

Adriana Ferreira da Silva: A principal vantagem é a produção utilizando poucos recursos naturais (terreno e água principalmente) e menos alimento comparado com os sistemas tradicionais. A qualidade do produto é sem dúvida superior, tanto em características organolépticas tanto em características nutricionais. Os mercados verdes são tendências e quem não se incorporar a eles estará fora do cenário. Quanto aos desafios, está na produção de peixes maiores a 500g, no modelo da tilápia. Nossas pesquisas demonstram que peixes maiores a este peso não conseguem aproveitar tanto os flocos, mas por outro lado seguimos utilizando pouca água e espaço. Aqui o tamanho comercial antes da pandemia era inferior a 500g agora vimos uma mudança no hábito do consumidor e querem peixes de 600 a 700g. Estamos ajustando os processos para chegar ao tamanho que nossos clientes necessitam sem ver afetado o custo final de produção.

 

AQUACULTURE BRASIL: E os camarões marinhos, tem espaço para o cultivo destes crustáceos na Acuícola Garza?

Adriana Ferreira da Silva: Nossa empresa comercializa camarão também. Produzimos por temporadas. Quando iniciamos era 50% de cada produto, depois decidimos que era mais factível a comercialização. Agora com a entrada de um novo sócio estamos nos organizando para voltar a produzir em nossas instalações. Também chegamos a produzir o langostino Australiano Cherax quadricarinatus.

 

 

 

 

AQUACULTURE BRASIL: Conte-nos um pouco de como é a aquicultura na região de Mérida e no México de modo geral.

Adriana Ferreira da Silva: Atualmente estou na capital do estado de Yucatán, Mérida. Aqui no sul/sudeste do México a aquicultura não é tão popular como é no norte do pais. Devido algumas características, como solo cárstico (rochoso), falta de rios (só existem rios subterrâneos) e por ter áreas naturais protegidas em toda costa praticamente. A grande vantagem é o clima, todo ano temos temperaturas elevadas próprias para produção de organismos tropicais e estamos ao lado da maior zona turística do país, o que ajuda a escoar a produção. Predomina aqui no sul/sudeste produção de tilápia, camarão Litopenaeus vannamei, rã, a lagosta Australiana, uma das maiores fazendas de ornatos da América Latina, pepino do mar, laboratórios de alevinosde tilápia e recentemente um laboratório de larvas de camarão. Já no norte do México temos as grandes fazendas de camarão, lembrando que o México perde só para o Equador na produção Latino Americana, tilápia e peixes marinhos diversos. No centro do país a truta, a carpa, bagre, ostras e peixes nativos de água doce como o peixe lagarto (parecido com o nosso pirarucu).

 

AQUACULTURE BRASIL: Previsto para ocorrer em 2021, mas adiado em virtude da pandemia, o congresso da WAS - World Aquaculture Society será realizado em 2022 em Mérida, de 24 a 27 de Maio. Você está participando da organização? Tem alguma novidade a respeito desta edição?

Adriana Ferreira da Silva: Estamos bastante emocionados com o Congresso, estou na organização e fiquei encarregada do tour nas principais fazendas da região e da mesa redonda Mulheres na Aquicultura. Muitas novidades no Congresso, esperamos contar com a presença de muitos brasileiros.

 

AQUACULTURE BRASIL: E a respeito da piscicultura marinha, que o México tem apostado em algumas espécies. Como você vê a evolução desse setor no México? Estaria o México a frente do Brasil na corrida pela produção de espécies marinhas?

Adriana Ferreira da Silva: Realmente a piscicultura marinha é uma realidade para algumas espécies, por exemplo: robalo Centropomus undecimalis, jurel Seriola lalandi, atum Thunnus orientalis, corvina Sciaenops ocellatus, cobia Rachycentron canadum, pargos Pagrus pagrus, totoaba Totoaba macdonaldi e outros. México é um país tradicionalmente pesqueiro, mais que aquícola, os avanços na piscicultura marinha vão neste contexto, a preferência no consumo realmente é de produtos marinhos. Existia apoios governamentais que ajudaram a expandir este setor, agora tudo é por capital privado. Mesmo assim esse capital injetado pelo governo contribuiu para expansão do setor. Segundo as estatísticas de produção o México produz uma variedade de organismos marinhos, não só peixes, superior ao Brasil. Dados da FAO demonstram esta realidade entre os dois países. Diferente da produção em água doce, que no Brasil é superior.

 

AQUACULTURE BRASIL: Em Abril de 2020 (pode nos corrigir se estivermos errados) você começou a fazer lives transmitidas pelo facebook. Como surgiu e como tem sido essa experiência?

Adriana Ferreira da Silva: Minha relação com a internet começou em 2016 quando criei meu blog. Neste momento comecei a ganhar gosto por trabalhar com o digital. Depois veio a era dos vídeos, na verdade desde 2019 faço Lives, mas naquela época usava a conta da empresa e não guardava os vídeos, eram ao vivo mesmo, sem repetição. Ano passado foi quando a maioria das pessoas ficaram frente aos meios digitais e acabei sendo mais visualizada. Fizemos ao redor de 80 transmissões na minha conta de facebook e outras como convidada, acho que foram mais de 100 participações entre conferências e Lives. Este ano resolvi criar meu canal de YouTube onde transmito nas segundas-feiras a retrospectiva dos vídeos anteriores que estão no Facebook e toda quarta-feira vídeos inéditos. Os temas são todos relacionados a “Tendência Aquícola”, que por sinal é o nome do meu canal.Eu amo divulgar conteúdo aquícola e marcas que sejam importantes para o desenvolvimento do setor. Temos adicionalmente cursos digitais e mentoria para produtores que buscam incursionar na aquicultura.

 

AQUACULTURE BRASIL: Das mais de 50 lives salvas em seu canal no YouTube, com diferentes especialistas e pessoas ligadas a aquicultura, qual delas foi a que mais te marcou e por quê?

Adriana Ferreira da Silva: Difícil de responder, acho que cada entrevistado aportou muito com sua trajetória e conhecimento e tenho muita estima por cada um que participou das nossas entrevistas. Escolho todos!

 

AQUACULTURE BRASIL: Cada vez mais nós vemos mulheres liderando e conquistando espaço na aquicultura. Inclusive, esse também foi um dos temas de uma de suas lives. Como você vê esse crescimento das Mulheres na Aquicultura?

Adriana Ferreira da Silva: Acho que posso dizer que sou militante neste tema, parte dos meus propósitos é ajudar mulheres para que atuem no setor. Hoje vemos uma atuação maior, mas ainda temos áreas a cobrir, principalmente nos postos de liderança. Acredito que falta promover a diversidade nas empresas, incluindo políticas efetivas de equidade de gênero, desenvolver um plano de carreira estratégico, oferecer mentorias e treinamentos e criar espaços seguros e igualdade salarial.

 

AQUACULTURE BRASIL: Pensa em voltar para o Brasil e continuar na aquicultura por aqui?

Adriana Ferreira da Silva: Para o Brasil só volto para passar férias (risos). Ajudo produtores brasileiros com cursos, consultorias e assessorias de forma remota e tenho alguns convites para cursos presenciais. Mas estou realizada aqui e muito feliz!

 

Faça o download e confira o texto completo com todas as ilustrações. Clique aqui

 

 

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Charge Edição nº Publicado em 18/09/2023
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