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24 de Agosto de 2021 Aquaculture Brasil
Cintia Labussière Nakayama

Zootecnista pela UNESP, doutora em aquicultura pela FURG, docente na UFMG e presidente da AQUABIO.

Cintia conta que a paixão pela aquicultura em sua essência veio pela cultura, por meio do prato, ou do garfo! Brincadeira a parte, à tradição familiar oriental pesou na decisão, contudo, Cintia destaca que os estágios na área foram decisivos, inclusive  para optar por seguir a área da pesquisa. Atualmente Cintia é diretora do Laboratório de Aquacultura na UFMG, onde também é docente.

 

 

AQUACULTURE BRASIL: Qual a sua formação acadêmica e situação profissional atual? 

Cintia Labussière Nakayama: Sou zootecnista, graduada pela Universidade Estadual Paulista – UNESP de Botucatu, mestre e doutora em Aquicultura pela Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Desde 2012 sou docente na Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, lotada na Escola de Veterinária, no Departamento de Zootecnia. Ministro aulas na graduação em Aquacultura e mais recentemente (2019) me credenciei ao programa de pós- graduação em Zootecnia. Depois de quase 7 anos, estou finalizando o mandato como diretora do órgão complementar Laboratório de Aquacultura-LAQUA (complexo de laboratórios) na UFMG. E no final de 2020 assumi como presidente da Aquabio.

 

AQUACULTURE BRASIL: Algo que nós sempre gostamos de saber, vindo da zootecnia que é uma grande área, qual motivação levou você a se especializar em aquicultura?

Cintia Labussière Nakayama: Realmente a escolha não foi fácil, ainda mais quando a profissão acaba oferecendo um leque tão diversificado de atuação. Mas acredito que a paixão pela aquicultura em sua essência veio pela cultura, por meio do prato, ou do garfo! Explicando melhor, eu atribuo à tradição familiar oriental no consumo de pescado e meu pai que gostava de pescar, levando os filhos para pegar peixe. O gosto e a afinidade pela área só foi aumentando ao longo do curso de zootecnia. Objetivando mais prática e conhecimento em aquicultura cheguei até a pós-graduação na FURG. Anterior a pós-graduação, eu ressalto a grande importância que o estágio obrigatório na graduação contribuiu em seguir carreira, naquele período tive a oportunidade de estar tanto no campo quanto na academia, foi decisivo para seguir na área me especializando. Esse percurso de aprendizagem foi enriquecedor e gratificante que trago até os dias de hoje. A oportunidade de conhecer vários profissionais excelentes no caminho, naquela época também foi determinante.

 

 

AQUACULTURE BRASIL: Na UFMG além de professora, você é diretora do Laboratório de Aquacultura (Laqua). Quais os principais projetos desenvolvidos pelo laboratório? O laboratório recebe alunos da graduação e também de pós-graduação?

Cintia Labussière Nakayama: Dentro da estrutura institucional da UFMG, o LAQUA é classificado como um órgão complementar devido a sua complexidade em variedade de atividades exercidas, número de laboratórios, ações de ensino, pesquisa e extensão entre departamento e unidades etc, isso tudo acontecendo em uma área de mais de 2.000 m2 de laboratórios construídos. Vou elencar de forma objetiva as atividades e projetos de pesquisas com base nos 11 professores que atuam diretamente no LAQUA, por área: fisiologia de organismos aquáticos, reprodução, larvicultura de peixes, ranicultura, melhoramento genético em peixes, nutrição, comportamento em peixes, maricultura, aquaponia, beneficiamento e processamento de pescado e ornamentais. Por estarmos inseridos em meio urbano, a forte característica do LAQUA, as áreas de estudo e ensino acontecem em sistemas fechados, em recirculação de água ou bioflocos, de forma intensiva, com espécies de peixes como tilápia, pacamã, tambaqui, pirapitinga, panga, várias espécies de ornamentais, rã-touro e camarões. A atuação de estudantes é intensa, nessas duas gestões do LAQUA registramos, entre 100 a 112 estudantes de iniciação científica Junior, graduação e pós-graduação, e pós-doutorandos, tanto da comunidade interna quanto externa a UFMG, com atuação e de forma prática, seja no ensino, vivência, extensão ou nas pesquisas. 

 

AQUACULTURE BRASIL: Como coordenadora do projeto de pesquisa “Produção de tambaqui no biofloco” conte-nos um pouco mais a respeito desse projeto, ele é desenvolvido na UFMG? Quais são os principais objetivos? 

Cintia Labussière Nakayama: O projeto tem parceria na UFMG com prof. Ronald Kennedy Luz e Gisele Cristina Fávero, e na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) com o prof. Glauber Palheta e Nuno Melo e é desenvolvido na UFMG. Em 2019 o prof. Ronald iniciou os trabalhos com tambaquis (larvicultura e alevinagem) de forma intensiva em sistemas de recirculação de água. Com os bons resultados obtidos pela equipe dele, começou-se a pensar em sistema de bioflocos (BFT). Pelos benefícios já conhecidos do sistema em relação à qualidade de água, dos índices zootécnicos em outras espécies, a promoção de biossegurança, bem-estar, suplemento alimentar por meio dos microrganismos presentes no biofloco, melhores respostas imunes e de resistências a patógenos, entre outros, fomos motivados a trabalhar com tambaqui no BFT. Apesar do meu conhecimento prévio em sistema de BFT, mas não com tambaquis, no final de 2019 os primeiros estudos com juvenis foram concluídos. Os resultados de sobrevivências foram bons, os índices de crescimento não foram excelentes, mas revelaram a adaptação dos tambaquis no BFT e nos motivaram a continuar os trabalhos com a espécie em bioflocos. Mesmo em meio a pandemia, os trabalhos não pararam e nesse pouco tempo de estudo, estamos aprendendo a lidar melhor com o tambaqui no BFT, obtendo resultados melhores de desempenho a cada estudo. Avaliando as pouquíssimas informações disponíveis da espécie em BFT, somando aos nossos resultados, os estudos estão só no começo dessa longa caminhada. Pensamos que o BFT pode trazer uma oportunidade na produção comercial para tambaqui, sobretudo em sistemas intensivos, por hora, mais focados nas fases iniciais/alevinagem (animais até 5 g, por exemplo) como estratégia e benefícios de um sistema bifásico. Embora a proposta seja animadora e promissora não será construída a curto prazo. E como costumamos dizer na ciência, mais estudos são necessários, o que motiva a continuidade do projeto. 

 

AQUACULTURE BRASIL: Sobre a Aquabio, quando a nova diretoria, da qual você faz parte como presidente, assumiu no final de 2020 (gestão 2020-2022), como vocês imaginavam ou já projetavam passar por esse desafio por tratar-se de um período de pandemia?

Cintia Labussière Nakayama: A pandemia impactou a todos, nas mais diversas formas e não seria diferente com a nossa sociedade. Tradicionalmente, a diretoria da Aquabio tenta sempre contar com representantes de todas as regiões geográficas do Brasil, o que nos leva a exercer parte das atividades de forma não presencial, sobretudo nossas reuniões. No caso das atividades presenciais, elas foram se adequando ao formato digital, nos fazendo entender que essa era a principal ferramenta que possuíamos para continuar nossas propostas de representação, de diálogo, de construção, alcance dos associados e parceiros. No caso Congresso Brasileiro de Aquicultura e Biologia Aquática (Aquaciência) 2020 que estava sendo organizado para acontecer de forma presencial em Manaus, apesar de todos os esforços das colegas responsáveis pela organização daquele evento, teve que ser cancelado. E a decisão da nova Diretoria foi pela realização do evento de forma digital em nova data de 14 a 16 de setembro de 2021.

 

AQUACULTURE BRASIL: E como está esse desafio de realizar o Aquaciência, um evento de grande porte e tão esperado, de forma totalmente online?

Cintia Labussière Nakayama: Tem sido um enorme desafio, mas, felizmente, o Aquaciência Digital 2021 ocorrerá 14 a 16 de setembro. O Aquaciência 2020 é certamente a principal ação da Aquabio impactada pela pandemia, assim como todos os eventos no Brasil e no mundo. Assim que a nova Diretoria assumiu, fomos obrigados a decidir sobre a suspensão ou cancelamento ao mesmo tempo em que observávamos a condição sanitária do país. Avançamos 2021 com desejo de realizar o evento, e nossa percepção apontou o formato online como melhor opção. Foi um momento de muitas discussões, consultas, agregação de informações, pois precisávamos aprender essa “nova forma” de fazer eventos e adaptar o formato tradicional do Aquaciência, em um curto espaço de tempo para um evento técnico-científico desse porte. Os desafios de realizar o evento continuam, pois vivemos, desde março de 2020, os impactos da pandemia em todas as esferas: no setor produtivo, nas indústrias, na academia e nos órgãos de fomento à pesquisa. Mas não pudemos nos acomodar e nem esmorecer. O momento está sendo de união de forças com todas essas frentes para mantermos o evento como palco de discussões e propostas para o setor. Continuamos trabalhado de forma árdua, a acreditar no poder de alcance do formato digital, com apoio de todos, sócios, estudantes, pesquisadores, produtores, indústria, enfim de todos atores na área para mais um grande evento.

 

AQUACULTURE BRASIL:     Ainda sobre o Aquaciência, pode fazer um breve resgate do número de participantes em congressos anteriores, quantos congressos já foram realizados e comentar um pouco sobre como está a programação do Aquaciência 2021, inscrições e como vai funcionar o evento de forma geral?

Cintia Labussière Nakayama: Até o momento tivemos 8 edições do Aquaciência. O primeiro, em 2004, foi realizado em Vitória (ES). Depois tivemos em Bento Gonçalves, RS (2006), Maringá, PR (2008), Recife, PE (2010), Palmas, TO (2012), Foz do Iguaçu, PR (2014), Belo Horizonte, MG (2016) e, finalmente, Natal, RN (2018). Ao longo dos anos, o número de participantes variou de 800, nas primeiras edições, para cerca de 1.200 participantes nas mais recentes. Para o Aquaciência 2021 Digital, esperamos bater o recorde de participantes. A programação contemplará palestras e mesas redondas com temáticas em: Sustentabilidade, Aquicultura no Brasil: presente passado e futuro, Desafios na produção de peixes nativos, Empreendedorismo na aquicultura, Aquicultura circular, Capacidade de suporte em sistemas para aquicultura, Mulheres na aquicultura, e Extensão na Aquicultura. Teremos também cerca de 20 sessões técnicas sobre temas específicos, as quais, graças à facilidade do formato digital, contarão com palestras de pesquisadores brasileiros e estrangeiros, além das já tradicionais apresentações orais. Contaremos também com a sessão de pôsteres, Stand virtual de empresas e alguns workshops.  As inscrições já estão abertas e podem ser realizadas em https://www.aquaciencia2021.aquabio.com.br/  Nessa edição abrimos uma categoria de inscrição para estudantes em situação de vulnerabilidade sócio financeira, ampliando ainda mais a participação de estudantes e de forma inclusiva. Cientes das desigualdades em nosso país, bem como das dificuldades enfrentadas por estudantes que querem participar dos congressos, mas às vezes não conseguem participar pelos custos envolvidos com inscrição, deslocamento, hospedagem entre outros. Com o evento digital acreditamos que podemos contribuir, por meio das inscrições, nessa categoria. 

 

AQUACULTURE BRASIL: Sendo o Aquaciência tradicionalmente realizado a cada dois anos, e ao final de cada dia de congresso escolhido a cidade/estado sede do próximo evento, podemos esperar que isso ocorra no Aquaciência online de 2021? Podemos esperar um evento presencial em 2022? 

Cintia Labussière Nakayama: Embora o foco atual seja Aquaciência 2021, estamos sim com expectativas de termos o Aquaciência 2022 e no formato presencial. Mas a confirmação ainda não pode ser feita, pois isso depende da decisão da Assembleia da AQUABIO que ocorrerá durante o Aquaciência 2021.

 

AQUACULTURE BRASIL: 2016 foi o ano de lançamento da Revista Aquaculture Brasil, que ocorreu justamente no Aquaciência, realizado em Minas Gerais. O evento foi um exemplo de organização e teve a participação de um grande público, com estudantes que vieram de diversas partes do Brasil. O que esse evento em Minas Gerais trouxe de positivo para a UFMG?

Cintia Labussière Nakayama: Foi um grande prazer ter a parceria da Aquaculture Brasil aqui conosco e fazendo seu lançamento no Aquaciência 2016! O momento gerou uma grande ansiedade, pois o período financeiro era ruim para o país, comparado às edições anteriores. Mas o público foi fiel, vieram de várias partes do país e de fora também, assim como as empresas apoiando e outras participando de nossa feira. O estado de MG, a UFMG, todos se mostraram parceiros e o sucesso do evento foi o somatório de todas essas parcerias e esforços.Como a comunidade da UFMG é grande e bastante diversificada nas suas áreas de atuação, o Aquaciência surpreendeu quem desconhecia a área e quem desconhecia o próprio evento, pelo seu porte. O congresso deu força, visibilidade, formou e fortaleceu parcerias, impulsionou as ações para que estudantes e docentes continuassem a se empenhar na aquicultura.   

 

 

AQUACULTURE BRASIL: A Aquabio sempre foi marcada pelas novidades em termos de lançamentos de livros ligados a aquicultura. A Aquabio ainda está com essa “pegada” de fazer os lançamentos editoriais de forma impressa?

Cintia Labussière Nakayama: A Aquabio procura estar sempre atenta às publicações dos associados e de parceiros e, na medida do possível, procura apoiar por meio de venda ou divulgação dos mesmos. Nessa edição do Aquaciência Digital, por exemplo, teremos um espaço para lançamento de livros. É claro que nossa atuação nesse campo é limitada por questões financeiras, principalmente agora, durante a pandemia. Entre os livros lançados pela Aquabio, destacamos o “Tópicos especiais em piscicultura de água doce tropical intensiva (2004)” e o “NutriAqua (2013)”, ambos considerados obras de referência para pesquisadores, estudantes e profissionais na área. Estamos discutindo o lançamento de uma edição revisada e atualizada do NutriAqua, o qual provavelmente deverá ocorrer em formato digital. E quem sabe, no futuro, com um horizonte mais calmo em termos de possibilidades financeiras, possamos retomar a política de publicações.... 

 

AQUACULTURE BRASIL: Por fim, como professora de cursos de graduação e pós-graduação da UFMG, como tem sido lidar com o ensino remoto nesse período de pandemia? O ingresso de novos alunos tem se mantido regular conforme nos outros anos ou houve alguma alteração?

Cintia Labussière Nakayama: Não está sendo fácil, pois ensino remoto é uma forma paliativa aos prejuízos já causados ao ensino presencial. Ensino remoto não é ensino a distância. O ensino e a aprendizagem na aquicultura acontecem também com a prática e aí talvez se concentre nosso maior prejuízo, não ser possível a realização das práticas. No nosso caso, as atividades no LAQUA foram diminuídas, mas não cessadas, a maioria dos setores se manteve funcionando, seja na manutenção dos animais ou pelos experimentos que não poderiam ser adiados ou cancelados. Para isso, foi montado um protocolo próprio do LAQUA em conjunto com a comissão COVID-19. Mas as demais práticas, todas foram canceladas. A graduação em Aquacultura possui duas entradas por ano, e estamos no terceiro semestre, em meio à pandemia. Comparado aos semestres, antes da pandemia, mantivemos o número de novos estudantes no curso dentro do normal e o mesmo foi visto para o programa de pós-graduação em zootecnia.

 

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Charge Edição nº Publicado em 18/09/2023
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