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04 de Dezembro de 2020 Aquaculture Brasil
Ilce Santos Oliveira

Bióloga, piscicultora, consultora e representante do estado de Rondônia na Comissão Nacional de Aquicultura - CNA.

Enquanto a aquicultura brasileira ainda engatinhava na década de 90, Ilce já tomava gosto pela atividade, foi quando começou com uma piscicultura no estado de Goiás. Em 2011 mudou-se para Rondônia onde assumiu a coordenação das atividades de Aquicultura do estado. Com uma vasta bagagem, Ilce nos conta um pouco sobre o sucesso da produção aquícola deste estado!

 

AQUACULTURE BRASIL: Conte-nos um pouco sobre a sua tragetória profissional na aquicultura.

Ilce Santos Oliveira: Sou Bióloga e iniciei minhas atividades na Aquicultura como piscicultora, na década de 90, no Estado de Goiás. Entre 2003 e 2005 fui instrutora de Piscicultura pelo SENAR/Goiás. Em 2005 iniciei minhas atividades na Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Irrigação/SEAGRI – GO, como Assessora Especial de Aquicultura e Pesca, onde permaneci até 2010. Em 2011 assumi a coordenação das atividades de Aquicultura no Governo do Estado de Rondônia. Assumi o cargo de Superintendente Federal de Aquicultura e Pesca, no extinto Ministério da Pesca e Aquicultura em 2015 onde permaneci até sua extinção, retornando então para minhas atividades no governo do Estado de Rondônia, onde permaneço até hoje. Sou representante de Rondônia, indicada pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Rondônia/Faperon, na Comissão Nacional de Aquicultura da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil /CNA. Atualmente sou também piscicultora e consultora.

 

AQUACULTURE BRASIL: Dentre os estados brasileiros Rondônia é, com “folga”, o que mais produz peixes nativos segundo dados da Associação Brasileira de Piscicultura (PeixeBR). Comente um pouco sobre quais fatores contribuíram para essa evolução?

Ilce Santos Oliveira: O Estado de Rondônia está localizado na região Norte e mais de 90% do seu território tem altitude entre 100 e 600m, com relevo levemente ondulado. Está também inserido no Bioma Amazônico. O clima predominante é do tipo Equatorial Quente Úmido com apenas três meses secos. Prevalecem os solos do tipo Latossolo. Essas características de clima, regime hídrico, solo e topografia viáveis, aliadas às experiências exitosas dos pioneiros e aos incentivos do governo do Estado contribuíram para o sucesso. Investir na piscicultura em Rondônia é um ótimo negócio.

 

As características do clima, regime hídrico, solo e topografia viáveis, aliadas às experiências exitosas dos pioneiros e aos incentivos do governo do Estado, contribuíram para o sucesso da piscicultura em Rondônia.

 

AQUACULTURE BRASIL: Qual o grande diferencial de Rondônia que o fez se tornar o maior produtor de peixes nativos do País e estar atualmente entre os três maiores produtores nacionais de peixes?

Ilce Santos Oliveira: Podemos mencionar três condições favoráveis que contribuíram para que Rondônia obtivesse êxito na atividade de Piscicultura: Empreendedorismo, foco e apoio governamental. Quanto ao empreendedorismo, o piscicultor rondoniense é conhecedor dos gargalos que a cadeia produtiva da piscicultura possui. Assim sendo, aplica técnicas e tecnologias inovadoras, transformadoras, desde inovações nas estruturas de cultivo até a busca de novos mercados. Posso citar o exemplo de um pequeno produtor que desenvolveu um sistema de condução de água da fonte abastecedora até os viveiros (esses estavam em um nível um pouco mais elevado que a fonte) sem o uso da energia elétrica, apenas manipulando a pressão d’água. Automação no arraçoamento, no monitoramento da qualidade da água, aeração e uso de probióticos e biorremediadores são rotina nos empreendimentos aquícolas. E quem não se lembra do evento “Tambaqui na Esplanada”, quando produtores e o governo de Rondônia em parceria com o governo federal, realizaram um churrasco de Tambaqui em plena Esplanada dos Ministérios? O governo do Estado também inovou na busca de novos mercados, realizando “Rodadas de Negócios e Missões Empresariais”.

Quanto ao segundo ponto, foco, o tambaqui é a espécie símbolo das águas amazônicas. Por isso, pelo seu excepcional desempenho e pela já estabelecida tradição do seu cultivo, foi escolhido para ser o carro chefe da piscicultura em Rondônia. Todos os incentivos, governamentais, acadêmicos e da iniciativa privada foram direcionados para essa espécie. O “Foco” governamental está também no empreendedor/piscicultor. O Governo tem o compromisso, no que lhe compete, de criar o ambiente favorável em todos os elos das cadeias produtivas. E o terceiro ponto, apoio governamental, em 2010, o então governador Confúcio Moura inseriu a piscicultura entre os projetos prioritários da sua gestão. Criou também o “GT da Piscicultura”, um grupo de trabalho formado por vários órgãos e instituições, do âmbito estadual, municipal, federal e iniciativa privada, onde eram discutidos os assuntos relacionados ao setor. O grupo se reunia mensalmente com o Governador para deliberações. As ações ali propostas e deferidas eram executadas com a chancela do governador, o que dava celeridade aos processos. Ações como revisão da tributação do pescado nativo, adequação da legislação ambiental, incentivos tributários para investidores no setor da indústria e comércio, rodadas de negócios para acesso a novos mercados consumidores, missões empresariais, inserção do peixe na merenda escolar, dentre outras, foram relevantes para a evolução da cadeia produtiva da piscicultura no Estado.

 

AQUACULTURE BRASIL: Como está estruturada a produção de peixes em Rondônia quanto aos principais polos de produção, porte dos empreendimentos e sistema de cultivo. Há algum sistema de cooperativismo, a exemplo da Copacol no Paraná?

Ilce Santos Oliveira: Vale do Jamari, composto por nove municípios (Ariquemes, Monte Negro, Campo Novo, Buritis, Cujubim, Alto Paraiso, Rio Crespo, Machadinho do Oeste e Cacaulândia), é o principal polo produtor. Apesar da diversidade quanto ao porte, é lá que estão os empreendimentos de maior dimensão. Existem desde projetos que se enquadram na agricultura familiar, até projetos de grande extensão (até 600 hectares de lâmina d’água). No Vale do Jamari, município de Ariquemes, está sediada a Acripar – Associação de Criadores de Peixes de Ariquemes e Região. No município de Monte Negro temos a Coopmon, Cooperativa de pequenos e médios piscicultores. Ainda não há iniciativas de integração. A produção está estabelecida em todo o Estado, com destaque também para as regiões Madeira Mamoré, Região Central, Zona da Mata e Região do Café. Todas elas com pequenos e médios produtores. Há também pequenas associações e cooperativas estabelecidas. O sistema de cultivo praticado em Rondônia é o de Viveiros Escavados e Tanques Suspensos. Apesar do grande potencial para a produção em Tanques Rede, esse sistema ainda não é explorado.

 

 

AQUACULTURE BRASIL: Cresce a cada ano o número de híbridos que são produzidos no país, como por exemplo a tambatinga, um híbrido do tambaqui com a pirapitinga. Como está esse cenário da produção de híbridos em Rondônia? Os nativos podem perder ritmo de crescimento em virtude dos híbridos?

Ilce Santos Oliveira: Existe a produção de híbridos em Rondônia, principalmente Tambatinga e Pintado, para atender mercados específicos, porém o foco da produção continua sendo o Tambaqui. É improvável que a produção dessa espécie perca o ritmo de crescimento. Afinal, o termo “Tambaqui de Rondônia” é quase uma marca. Em breve teremos um selo com a marca “Tambaqui”.

 

AQUACULTURE BRASIL: Rondônia conseguiu inserir o peixe na merenda escolar. Como e a partir de quando isso foi possível? Como é esse fluxo até o peixe chegar na merenda para as crianças?

Ilce Santos Oliveira: Por intermédio do Decreto 20.690, de 21 de março de 2016, revogado pelo Decreto 22.179, de 08 de agosto de 2017, o governo do Estado determinoua inclusão do peixe produzido em Rondônia (tambaqui, pirarucu e pintado) na merenda escolar das instituições públicas de ensino. Para isso, o governo repassa R$ 2,00 por aluno/mês, como complementação de recursos. O peixe deve ser adquirido preferencialmente de piscicultores da agricultura familiar e processados nas agroindústrias regionais.

 

AQUACULTURE BRASIL: Como a dispensa da Licitação das Águas da União irá beneficiar Rondônia? Há espaço para crescimento em águas de reservatório?

Ilce Santos Oliveira: Sou uma defensora ferrenha da produção em tanques-rede. É eficiente, prático e inteligente. O País inteiro se beneficia muito com a dispensa de licitação. Era um assunto polêmico que felizmente não mais estará presente nas nossas mesas de discussões Brasil afora. Na Comissão de Aquicultura da CNA foi amplamente debatido durante muito tempo. Eduardo Ono tem muito mérito nessa questão, assim como toda a Comissão. Rondônia tem um potencial fabuloso para esse sistema de produção. Só os reservatórios das UHE de Santo Antônio e UHE de Jirau têm capacidade de suporte para produzir aproximadamente 800 mil toneladas de peixes ao ano, segundo a ANA (Agência Nacional de Águas).Mas... Ainda não produzimos em tanques-rede...

 

AQUACULTURE BRASIL: Pontue três principais pontos que ainda podem e devem ser melhorados para a produção do estado continuar crescendo.

Ilce Santos Oliveira: Industrialização, Marketing e organização da cadeia produtiva (associações e cooperativas).

 

AQUACULTURE BRASIL: Nesse momento de isolamento social provocado pelo Covid-19, uma alternativa para as pessoas continuarem se comunicando sobre diversos assuntos, incluindo aquicultura, é através de lives. E você já foi uma das convidadas, por diversas vezes, a participar desse bate papo ao vivo, seja no Instagram ou Youtube. Qual a tua opinião a respeito das lives? É uma alternativa interessante somente para o momento atual ou terá espaço mesmo após esse período de pandemia?

Ilce Santos Oliveira: A comunicação online é uma estratégia inteligente de disponibilizar informações de forma rápida e eficaz, e de promover networking entre profissionais de uma maneira jamais utilizada. A pandemia contribuiu para o aceleramento da evolução do setor. Todos tiveram que se reinventar para continuarem competitivos. Promoveu desenvolvimento. Creio que esse tipo de comunicação está só começando. Ainda vem muita coisa boa por aí.

 

AQUACULTURE BRASIL: Por fim, o país tem um bom quadro de pessoas formadas nas áreas de Aquicultura, Engenharia de Pesca e afins. Mas como você vê a oferta de mão de obra desses profissionais no interior do país? Faltam profissionais capacitados para atuarem nessas regiões?

Ilce Santos Oliveira: Com certeza a oferta de mão de obra habilitada e capacitada é carente em muitas regiões do País. Isso é lastimável. Mas me preocupam duas questões específicas: A primeira, profissionais “habilitados”, mas que não têm formação nas áreas afins. Isso acontece muito, principalmente em regiões mais remotas. Perdem o produtor, com prejuízos financeiros, e o setor, que fica desacreditado por falta de orientação adequada. E a segunda questão, a demanda dos piscicultores à assistência técnica qualificada. Não raro o piscicultor aprende pela tentativa do erro e acerto, o que acarreta grandes prejuízos e desestimula a continuidade da atividade.

 

Só os reservatórios das UHE de Santo Antônio e UHE de Jirau têm capacidade de suporte para produzir aproximadamente 800 mil toneladas de peixes ao ano, segundo a ANA. Mas... Ainda não produzimos em tanquesrede...

 

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