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Entrevistas
01 de Maio de 2017 Aquaculture Brasil
Janine Bezerra de Menezes

Nossa participação na Seafood Expo North America , a ”Feira de Boston ”, em março deste ano, nos rendeu uma troca de experiências com profissionais de todo o mundo.

Durante o evento, entrevistamos a Dra. Janine Bezerra de Menezes, Diretora de Marketing e Comércio Exterior da Biofish, que muito gentilmente conversou com o nosso coeditor Artur Rombenso.

Janine é Administradora de Empresas com Pós-graduação em Comércio Exterior e Marketing Internacional pela UAB – Universidad Autonoma de Barcelona, na Espanha. É doutora em Ciências Empresariais – Investigação e Técnicas de Mercados Internacionais pela UB – Universidad de Barcelona, Espanha. Na Biofish, responde pelo planejamento estratégico, marketing, relações comerciais e parcerias da empresa.

 

AQUACULTURE BRASIL: Janine, para iniciar, conte-nos um pouco sobre a história da Biofish.

Janine: A Biofish tem 20 anos e foi uma ideia visionária de um dos fundadores que se formou em Engenharia de Pesca e vislumbrou que a região Norte do Brasil tinha favoráveis condições para o cultivo de pescado de água doce. Na ocasião, o conceito de fazendas de produção de peixe na Amazônia era até uma coisa “absurda” para a população, pois a abundância de pescado era muito grande e você pegava peixe no tapa, literalmente. É engraçado, porque isso acabou se tornando o afinco, trabalho e determinação da empresa, mostrando que era uma excelente oportunidade no agronegócio. Hoje em Rondônia, aonde a Biofish está instalada, nós já participamos da implementação de quase 250 projetos na região amazônica. A empresa vem absorvendo know-how ao longo desse tempo de forma muito expressiva. A prova disso são os nossos próprios projetos de aquicultura na Amazônia. Se você comparar um projeto instalado pela Biofish a 15, 10, 8 e 5 anos atrás, eles já são diferentes dos instalados nos últimos 2 anos. Fomos nos aperfeiçoando e aprimorando os projetos de uma maneira cada vez mais sustentável. Hoje nós concebemos projetos com recirculação e sem desperdício de água, sem desmatar absolutamente nada e, pelo contrário, a aquicultura acaba devolvendo vida para a floresta, com água rica em nutrientes e livre de poluentes em áreas que já eram desmatadas e antropizadas.

 

AQUACULTURE BRASIL: Qual a área de atuação da Biofish?

Janine: Trabalhamos em toda a cadeia produtiva, desde lá do “iniciozinho” da pesquisa e da produção da larva, pós-larva e do alevino. Nós, por exemplo, produzimos oito espécies amazônicas em laboratório. Agora nossos alevinos são de genética pura, nossas matrizes são animais selvagens da natureza. Além de toda a linha de alevinos, atuamos em engenharia, serviços ambientais, implementação e construção das fazendas de produção.

 

AQUACULTURE BRASIL:Vocês também são produtores?

Janine: Sim, inclusive produzimos em escala comercial: tambaqui, pirarucu e pintado da Amazônia. Nós temos entendido de forma muito clara que o mercado internacional aprecia as três espécies. O pirarucu é um importante ator, principalmente em relação ao mercado internacional pois tem carne branca e de altíssima qualidade, além de processamento fácil. Já o tambaqui tem aquela questão do processamento mais lento devido à sua espinha em forma de “Y”. Mas é um peixe muito apreciado, principalmente por suas costelinhas que nenhum outro peixe tem. Nosso entendimento do peixe da Amazônia é muito mais amplo, com grandes oportunidades para o mercado internacional. Temos que trabalhar com inteligência de mercado e ter um posicionamento muito sério para o peixe nativo da Amazônia do Brasil, porque a demanda por pescado no mundo é muito maior do que a oferta. E dentro desse contexto, nós temos entendido que somente a Amazônia, área restrita a um pedaço do Brasil, na região norte, um pouquinho da Bolívia, do Peru e da Colômbia, será capaz de produzir essas espécies para o mundo. Esse peixe sai com qualidade ali, de dentro do bioma dele. Este é mais um ponto relevante quando falamos em aproveitar isso para que se entenda que esse peixe do Brasil é um produto gourmet, é um produto premium para os mercados exteriores. Nossa visão é que temos um pescado que deve ser negociado para a exportação no mesmo patamar que tratamos o salmão e o bacalhau no Brasil. Se todas as empresas do segmento de peixes nativos do Brasil tiverem esse entendimento do diferencial deste produto, sem falar de que é um produto exótico, é sustentável (você está preservando a floresta), os países ricos do mundo pagarão por esse diferencial. Temos que tratar esse pescado, essas espécies, como um super produto do agronegócio do Brasil. Esse é o nosso entendimento e assim a gente espera que seja trabalhado, com essa inteligência de mercado e com esse posicionamento de produto para segmento A e B nos países ricos do mundo.

 

AQUACULTURE BRASIL: Como é visto o peixe nativo do Brasil que é exportado? Provavelmente já fizeram algumas provas, como está esse mercado?

Janine: Teste de provas nós já fizemos em outras ocasiões, especialmente aqui no mercado norte-americano, e as repostas foram muito positivas. Com relação a exportação, a nossa empresa começa agora, porque a responsabilidade na exportação consiste sobretudo em continuidade de fornecimento. Começar uma exportação confiando que diversos produtores descentralizados vão lhe trazer o produto com aquele padrão e com aquela qualidade é algo bastante arriscado. Nós nos preocupamos em ter uma produção com volume considerável e própria para então buscar esses nichos de mercado. Estes segmentos consistem nos melhores hotéis, restaurantes, supermercados que atendem esse público de classe A e B. O ideal é focar em alguns mercados do mundo, especificamente até aonde consigamos atender de forma permanente, e aí a medida que a demanda for crescendo aumentamos a produção. Essa é grande vantagem da região amazônica: você não tem muito essa limitação de quanto produzir, porque a região está muito apta para produzir e se o mercado demanda, a produção cresce. Nós temos um pensamento muito positivo que essa demanda, uma vez que seja dado o start ela será permanente, porque nós sabemos que o produto tem muita qualidade e o sabor do peixe agrada.

 

AQUACULTURE BRASIL: Então você acredita que o mercado internacional uma vez aberto e estabelecido será mais forte que o nacional?

Janine: Acredito que o mercado externo, especialmente quando se trata de mercados principalmente como os países Asiáticos, América do Norte e países da União Europeia, o consumo de peixes é muito superior ao do Brasil. Assim eu te diria que muito provavelmente o consumo pode vir a ser maior do que o próprio mercado doméstico devido ao hábito alimentar dessa população, o brasileiro consome pouco peixe! Por outro lado, o que a gente também vê com bons olhos, na verdade se a indústria se estruturar mais e se existir uma maior oferta de produtos diferenciados no supermercado, acredito que o brasileiro venha a consumir mais peixes também. O pescado tem que se tornar uma coisa mais prática do supermercado para a mesa, então vemos esse consumo baixo de peixe no Brasil como uma janela de oportunidades e entendemos que tem muito a crescer. Por exemplo, se hoje se consome 11 kg/habitante/ano e a União Europeia consome 19-20 kg/habitante/ano, vemos isso como uma janela que tem que ser ocupada, o brasileiro tem que começar a consumir pelo menos o dobro do que se consome hoje.

 

AQUACULTURE BRASIL: Até o momento como está o congresso? Muita procura e oportunidade? Esse foi o primeiro evento da Biofish?

Janine: Nós participamos da feira Seafood em Bruxelas desde 2007, que é a maior do mundo. Essa aqui dos Estados Unidos tem 51 países expondo e 112 países visitantes/compradores. Notei que o contato da feira Seafood Boston foi mais efetivo para o Brasil do que os contados em Bruxelas, apesar de que lá o volume de pessoas e empresas é muito maior. Isso, talvez ocorra pela existência de intercâmbio comercial muito forte do Brasil e as Américas aos longos dos tempos. Muitas empresas estão habituadas a comprar alimentos do Brasil e vice-versa. O approach é como se fosse um hábito comprar do Brasil, e o Brasil vender para cá.

 

AQUACULTURE BRASIL: Vocês possuem um modelo de projeto de produção participativa bastante interessante, você poderia nos apresentar melhor esse conceito?

Janine: Depois de quase dez anos de andança pelo mundo trabalhando e estudando o potencial desse produto da Amazônia brasileira para o mercado global, nós vislumbramos o tamanho do mercado que a gente tinha para abraçar. Com muita convicção que nós temos, que o pescado da Amazônia virá a ser um produto extremamente apreciado em mercados externos, nós decidimos direcionar esforços e trabalho para nos tornamos grandes produtores de peixes. Assim, há três anos a Biofish começou com modelos de projeto de produção participativa, onde identificamos investidores que em conjunto com a biofish permite a implementação de novas plantas de produção. No modelo de produção participativa nós respondemos por 50% de todos os custos do empreendimento aquícola, fazemos toda a gestão, damos todo o know-how, tocamos todo o projeto, e os nossos sócios rebem todos os benefícios da atividade. Dessa maneira a gente consegue implementar uma nova fazenda de produção com uma média de três a quatro meses. Esse é nosso enfoque para aumentar a produção e começar a exportar para os mercados importantes, consolidando a posição do peixe amazônico.

 

AQUACULTURE BRASIL: Quantas fazendas, frutos desse modelo de projeto, já estão em andamento?

Janine: Hoje nós estamos indo para a décima fazenda de produção de peixe. Como os projetos são feitos em etapas, a produção varia. Por exemplo, uma fazenda nasce com módulos a partir de 100 hectares de lâmina de água de produção, mas dependendo da propriedade tem potencial de ampliação de 200, 330 até 2.000 hectares de lâmina de água de produção. O fator determinante da produção é a demanda de mercado, a qual poderá duplicar, triplicar, quadruplicar a produção desse primeiro módulo. Para investimentos internacionais temos disponibilidade de projetos com módulos de produção a partir de 500 hectares de lâmina de água.

 

AQUACULTURE BRASIL: O interessante é que tudo isso passa pelo sistema de qualidade de vocês. Correto?

Janine: O projeto é nosso, a implementação e gestão são nossos, e o modelo de engenharia de produção em célula é uma exclusividade dos projetos em parceria com a biofish. Enquanto os projetos tradicionais tem uma safra e meia a cada ano, nossos projetos de produção em célula possuem três safras por ano por célula para espécies como o tambaqui e o pintado da Amazônia. Nós só implementamos esse modelo de células para plantas onde a Biofish é sócia na produção. Isso porque os mesmos demandam alevinos durante os 12 meses do ano, além de exigirem controle na qualidade destes alevinos e no manejo de produção.

 

AQUACULTURE BRASIL: E qual o perfil dos investidores?

Janine: A maioria são brasileiros, pessoas que tem capital parado e que querem diversificar investindo em outra atividade. No entanto temos realizado missões ao redor do mundo para captação de investidores internacionais para projetos de grande porte.

 

AQUACULTURE BRASIL: E a parte operacional?

Janine: Nós fazemos tudo, toda a gestão é nossa.

 

AQUACULTURE BRASIL: Em planos futuros quais serão os planos de ação da Biofish? Quais as áreas que ela pretende focar nos próximos dez anos?

Janine: Nosso plano de ação é exatamente fazer um trabalho cada vez mais sério, para tentar realmente fazer uso desse posicionamento para o mercado internacional do peixe nativo do Brasil. Visamos colocar ele como um pescado premium e gourmet nos mercados externos e paralelo a isso, de acordo com a demanda que vem a surgir com esse trabalho, crescer cada vez mais o setor produtivo. E ainda paralelo a isso também tentar trabalhar cada vez mais com novos produtos, agregando um maior valor ao pescado para poder atingir esses mercados exigentes em termos de beneficiamento.

 

AQUACULTURE BRASIL: Você poderia por favor mandar uma mensagem para as pessoas que ainda não conhecem e não provaram os peixes nativos do Brasil, e falar o que eles estão perdendo?

Janine: Eu diria uma palavra, PROVE! Prove e supreenda-se com o sabor singular do pescado da Amazônia, seria muito bom que fizesse parte da mesa no cotidiano de todo mundo. Porque é um produto de qualidade produzido com responsabilidade ambiental, possui valores nutricionais superiores a muitas espécies, além de ser de fundamental importância econômica para a Amazônia.

 

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Charge Edição nº Publicado em 18/09/2023
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