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18 de Fevereiro de 2020 Aquaculture Brasil
Rodrigo Baldin

Médico Veterinário formado pela Unesp de Botucatu (SP), Proprietário da Camarão São Luiz e fundador do SiTASS.

Antes restrito a àrea costeira, a produção de camarão transcendeu barreiras e no interior do sudeste do País, muito longe do mar, já tem gente despescando camarão que foi produzido em tanques com água salinizada artificialmente. Fácil não é, mas Baldin acredita que em breve o estado de São Paulo irá se tornar um dos maiores produtores de camarão do País. Confira!

 

AQUACULTURE BRASIL: Comente aos leitores um pouco sobre a sua carreira, formação profissional e claro, como ingressou na área aquícola.

Rodrigo Baldin: Se voltarmos aos meus 15 – 18 anos, terei bastante história para contar, onde fui desde Office Boy, instalador de circuito de câmeras, funcionário do
MC Donald’s à servente de pedreiro, sendo que em particular esta última profissão me trouxe muitos benefícios e conhecimento prático para a vida. Mas vamos à 2004, quando me formei em Medicina Veterinária pela Unesp de Botucatu. Atuei por muitos anos especificamente na Avicultura, onde gerenciei integração de frango de corte, fui responsável técnico por diversas granjas de postura comercial, desenvolvi projetos e layout para granjas de postura orgânica, como por exemplo a granja do Grupo Pão de Açúcar, entre outras atividades. Em paralelo, havia assumido o cargo de Vendedor técnico em uma das maiores distribuidoras de produtos veterinários para Avicultura do Brasil (Abase), onde sempre atuei com vendas, porém com um perfil técnico, o que acredito sempre foi um diferencial que inclusive me proporcionou atingir sempre todas as metas comerciais. Após seis anos resolvi então assumir novas responsabilidades e desafios, onde em 2013 passei a gerenciar comercialmente a região Sudeste pela empresa Nutriad Nutrição Animal (divisão da INVE). A Nutriad é uma multinacional Belga que possui em seu portfólio diversos produtos para diversas espécies, incluindo Aqua. Esse foi então o meu primeiro contato com a aquicultura. Pude visitar diversas pisciculturas, fábricas e profissionais do ramo, me aproximando cada dia mais deste setor. Recentemente a Nutriad foi comprada por outra multinacional chamada Adisseo onde segui como Chefe de Mercado por alguns meses até que decidi que seria o momento certo para seguir com meus projetos na Aquicultura. Hoje com 40 anos, casado
com a Débora Baldin, minha maior incentivadora e parceira a 14 anos, me dedico totalmente à produção e desenvolvimento da Carcinicultura Intensiva na região
Sudeste do país.

 

AQUACULTURE BRASIL: Como surgiu a aproximação com o sistema BFT?

Rodrigo Baldin: Surgiu com a intensão de identificar um sistema que tornasse viável meu interesse em produzir camarão marinho no interior de SP. A ideia na verdade começou em 2014, quando um colega de trabalho e a meu ver um dos melhores técnicos da Aquicultura que conheço, Bruno Urach, comentou que
juntamente com seu irmão, produzia camarão marinho em água doce. A partir daquele momento, isto não saiu mais de minha cabeça. Se ele produz no Nordeste, será que eu consigo aqui? Como é possível produzir em água doce? Como funciona esse sistema? Quais seriam as dificuldades? Enfim, muitas perguntas ocorreram e então comecei a pesquisar sobre o assunto. Logo percebi que a maneira que ele produzia no Nordeste, não seria aplicável para a minha realidade em SP, mas teria outra tecnologia que seria possível, o BFT. Então me tornei um estudioso sobre o assunto, fazendo diversos cursos presenciais em minhas férias (sempre fora de SP) e cursos online, da Aquaculture Brasil, inclusive.

 

AQUACULTURE BRASIL: Você é o fundador do SiTASS (Simpósio Técnico da Aquicultura Superintensiva Sustentável) que ocorreu pela segunda vez neste ano. Como foi a ideia de criar esse evento ?

Rodrigo Baldin: O SiTASS nasceu inicialmente de uma necessidade pessoal. A partir do momento que resolvi me dedicar à carcinicultura em SP e criei o Camarão
São Luiz, comecei a perceber que existiam alguns gargalos para o sucesso do sistema. Como estava para investir “todas” as minhas economias nesse novo mercado/
projeto, não poderia correr o risco de que estes problemas pudessem atrapalhar o meu negócio. Problemas estes como o fornecimento de PLs via aérea, ração muito acima do valor de mercado (devido baixo volume), produtos para carcinicultura fora do eixo de comercialização, problemas técnicos com os sistemas de BFT convencionais como, por exemplo, o descarte de resíduos, como faremos para aquecer a água no inverno e desnitrificação do sistema, entre outros. Foi então que resolvi incentivar a Carcinicultura em SP, pois desta forma teríamos volume que justificasse por exemplo um laboratório de PLs ou mesmo teríamos força para falar dos nossos problemas (como a desnitrificação). Na AquiShow de 2018 conheci o Eng. de Aquicultura Bruno Scopel e o convidei para ministrar seu curso em SP, onde então organizei o evento com algumas características que acreditava serem importantes para os futuros carcinicultores do estado. Neste momento o evento não possuía ainda o nome SiTASS (Simpósio Técnico da Aquicultura Superintensiva Sustentável), que criei posteriormente junto com a logo, para que ganhasse força e identidade. A característica do evento é trazer um Ministrante principal que entenda do assunto, produção intensiva/BFT, para apresentar sua experiência e conhecimento, tanto que o título principal do evento é o título proposto pelo Ministrante (o Bruno Scopel no primeiro evento e o Jesus Malpartida agora no segundo). Além do ministrante principal o evento apresenta sempre outros palestrantes para falar de assuntos específicos que dominem, desta forma agregando muito mais informação e dinamismo ao simpósio. Outra característica, o evento necessariamente é teórico e prático (as pessoas veem o camarão marinho sendo produzido no interior de SP), acompanham análises laboratoriais e microscópicas e veem toda a estrutura envolvida na produção.

 

AQUACULTURE BRASIL: Você já declarou que o Estado de SP tem tudo para se tornar, por incrível que pareça, o maior produtor de camarão do Brasil. Como você acredita que vá ocorrer esse processo?

Rodrigo Baldin: Provavelmente você dirá que o Nordeste possui o melhor clima, as melhores condições etc. e você estará certíssimo. Porém já existem tecnologias
capazes de tornar a produção cada vez mais intensiva (menor espaço e utilização de água) e sustentável (conseguir produzir próximo ao grande mercado consumidor sem agredir o meio ambiente). Se observarmos as tendências futuras (e não podemos ignorá-las), veremos que a sustentabilidade (preocupação com as gerações futuras), meio ambiente, frescor do alimento e rastreabilidade estão cada vez mais em pauta, então precisamos nos adaptar. Uma vez que esta tecnologia esteja
se desenvolvendo e na velocidade que está, acredito realmente que nos próximos 5 a 10 anos os maiores polos consumidores, SP e RJ por exemplo, se tornem os
maiores produtores de camarão, podendo desta forma atender sua demanda com um produto fresco.

 

AQUACULTURE BRASIL: Quais as principais dificuldades e desafios da produção intensiva em SP?

Rodrigo Baldin: São muitos. Temos muitas pessoas sendo enganadas, seja por consultores ou vendedores que querem somente efetivar suas vendas ou serviços não se importando com o sucesso do negócio. Estas pessoas, em pouco tempo, percebem que não é tão fácil produzir e muitos inclusive quebram pois investiram todo seu dinheiro em algo que acreditaram. Não existe milagre, o sistema é complexo, inviável comercialmente em pequenas escalas e requer muita dedicação. Se te venderem como algo fácil, pergunte para esta pessoa se ela produz ou conhece alguém que produz com a mesma água (sem troca parcial) a mais de 2 ou 3 anos e com
resultados satisfatórios, ou seja, que paguem o investimento realizado. Verá que geralmente as respostas serão vagas ou que não conhecem. Além destes pequenos
investidores enganados, são diversos os problemas que atrasam o desenvolvimento do intensivo em são Paulo, como por exemplo: Como aquecer adequadamente o sistema no inverno; Segurança no fornecimento de PLs (problemas aéreos); Adequação da ração ao sistema (densidade e nutricionalmente falando); O processo de
desnitrificação (ainda ignorado por muitos que pensam em produzir, mas se esquecem que precisam produzir com eficiência, por muitos anos com a mesma água,
sem troca) dentre outros. Lembrando que já estamos nos adaptando e resolvendo todas estas dificuldades.

 

AQUACULTURE BRASIL: O sistema BFT pode ser uma alternativa para a produção de juvenis de tilápia e depois posterior estocagem nos tanques-rede?

Rodrigo Baldin: Acredito muito nisso. A engorda de tilápias em BFT acredito que não seja o caminho mais correto a se seguir pensando em escala comercial, porém
um juvenil produzido em BFT tem grandes chances de estar melhor preparado para a engorda. Esta é uma condição que se aplica a todo animal de produção,
aves, suínos, ruminantes e peixes não é diferente. Quando produzimos um animal jovem saudável e bem desenvolvido, isto se reflete posteriormente em todo seu crescimento e produtividade. Os animais jovens precisam estar com seus sistemas (imunológico, respiratório, entérico etc.) bem desenvolvidos para que posteriormente consigam responder adequadamente às altas taxas de crescimento e desenvolvimento que a genética e nutrição propõem. Recomendo, portanto,
sempre muita atenção e dedicação às fases iniciais. Veja por exemplo que um produtor de tanque rede poderia colocar um sistema de BFT próximo às margens do rio e posteriormente transferir para os tanques rede. O que inclusive já está sendo feito em SP por algumas empresas, a meu ver de forma assertiva.

 

AQUACULTURE BRASIL: Já podemos dizer que o estado de SP tem inovações significativas na área de BFT para camarões? Existe algum modelo sendo desenvolvido, e que talvez seja, futuramente, replicado para outros estados do Brasil?

Rodrigo Baldin: Sim. São Paulo está desenvolvendo novas tecnologias e isto hoje está ocorrendo com a iniciativa privada, que identificou estas necessidades e está se adaptando. Apresentamos no II SiTASS, algumas novidades como um sistema para aquecimento da água e uma nova tecnologia que mescla o sistema BFT ao RAS de forma muito eficiente. Este sistema foi desenvolvido na Fazenda Camarão Aqualuz, empresa pioneira na produção de camarão marinho no estado de SP e logo deverá ser replicado de forma responsável. Testes estão sendo feitos e existe uma parceria muito forte com a BASF, o que traz muito respaldo e segurança para o desenvolvimento deste novo perfil de negócio.

 

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Charge Edição nº Publicado em 18/09/2023
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