A ictiofitiríase, ou doença dos pontos brancos, é uma doença parasitária causada pelo protozoário ciliado Ichthyophthirius multifiliis, popularmente conhecido como “ictio”. Este patógeno é um velho conhecido de aquariofilistas e criadores de espécies de peixes nativos, especialmente de produtores de alevinos. Embora este patógeno não apresente especificidade parasitária, era notável sua maior incidência em espécies como o pintado, jundiá e peixes redondos.
Da mesma forma, peixes nativos comuns em pisciculturas como o lambari, carás (corrós), enguias (muçum), entre outros, são conhecidos reservatórios desta doença. Contudo, recentemente nos deparamos com surtos sequenciais de ictiofitiríase em criações de tilápia no oeste do Paraná, bem como no sul de Mato Grosso do Sul, no oeste de São Paulo e triângulo mineiro. Com a ocorrência destes casos de surtos de mortalidades se acende um alerta para um hospedeiro que, até então, apresentava notável tolerância à infecção, e que agora sucumbe em susceptibilidade similar às espécies nativas.
A infecção pelo ictio tradicionalmente ocorre em períodos de oscilações da temperatura da água, especialmente associada ao outono e inverno, já que são frequentes as mudanças climáticas repentinas com a chegada de frentes frias. O ciclo de vida deste parasito é trifásico, composto por terontes, que é a forma infectante; trofonte que é a forma parasitária; e tomonte que forma cistos de resistência no ambiente aquático. O tempo necessário para concluir todas as fases do ciclo de vida é dependente da temperatura da água, encontrando uma faixa ótima entre 15 a 23º C, quando conclui seu ciclo em menos de uma semana.
A patologia da doença se deve ao processo de perfuração do tegumento que é realizado pelo teronte, bem como pelo processo inflamatório intenso que se estabelece com o desenvolvimento dos trofontes sob o epitélio do hospedeiro. Com isso, ocorre hiperplasia epitelial, com acúmulo de exsudato inflamatório que, juntamente com o parasito, formam inúmeros pontos brancos na pele, córnea, nadadeiras e brânquias do animal infectado (Figura 1). Geralmente a mortalidade dos peixes ocorre somente após a maturação dos trofontes, que por sua vez rompe novamente o epitélio do peixe para ganhar o ambiente aquático, deixando dessa forma inúmeras úlceras cutâneas que são portas de entrada para infecção oportunista por bactérias ambientais e fungos, especialmente saprolegniose, que se trata de outro patógeno com maior expressividade em períodos de inverno.
O principal grupo de risco para esta doença são animais jovens, que incluem larvas, alevinos e juvenis. Desta forma, quanto maior o tamanho do peixe, mais tolerante ele se torna à infecção por este ciliado. No entanto, animais estocados em altas densidades como reserva pós-inverno, bem como submetidos ao manejo durante período de baixas temperaturas da água, propiciam condições que favorecem a ocorrência desta doença em peixes até mesmo maior de 100 g de peso médio, como observado no oeste do Paraná.
As intervenções terapêuticas contra a ictiofitiríase são limitadas, uma vez que nenhum medicamento alopático conhecido consegue penetrar o epitélio dos animais e matar as formas parasitárias. Atualmente a forma mais eficiente para controle da infecção pelo ictio é a partir de uso de desinfetantes que eliminam as fases de vida no ambiente aquático, principalmente os terontes e trofontes maduros recém eliminados para o ambiente. Por outro lado, os tomontes são formas de resistência, na qual produtos como cloramina-T, formaldeído, permanganato de potássio, sulfato de cobre, entre outros, não conseguem eliminá-los. Entre as estratégias para minimizar o impacto pela ictiofitiríase existe o emprego de vazio sanitário nos viveiros e eliminação de possíveis reservatórios ambientais, com limpeza e desinfecção do ambiente de criação. Em casos de surtos agudos, é bastante importante realizar o uso de terapia de suporte com sal na água e antibiótico na ração, para conter as infecções oportunistas por bactérias.
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Possui graduação em Medicina Veterinária (2010) e mestrado em Aquicultura (2013) pelo Centro de Aquicultura da Unesp de Jaboticabal – CAUNESP. Desenvolveu atividades em pesquisa no Laboratório de Piscicultura da Embrapa Agropecuária Oeste-MS (2007 – 2011) e no Laboratório de Patologia de Organismos Aquáticos (LAPOA) do CAUNESP (2011 – 2013), sendo parceiro do Laboratório AQUOS – Sanidade de Organismos Aquáticos, UFSC (desde 2011). Possui dezenas de artigos científicos publicados, atuando como revisor em periódicos especializados internacionais e nacional, além possuir capítulos de livros e um livro publicado. Tem atuado principalmente em Aquicultura, com ênfase nos seguintes temas: diagnóstico, parasitos de peixes, doenças bacterianas, viroses emergentes, histopatologia, manejo sanitário em pisciculturas, controle e erradicação de doenças em fazendas-berçário produtoras de alevinos.
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