Além do uso direto das microalgas na alimentação/nutrição de moluscos, camarões, alguns peixes, artêmia, rotífero etc., e do auxílio na manutenção da qualidade de água (produção de oxigênio e assimilação de compostos nitrogenados, p. ex.), as células microalgais numa cultura podem ser estimuladas a direcionar seu metabolismo para a biossíntese de compostos que tem grande aplicabilidade em aquicultura. Tais compostos, usualmente denominados compostos bioativos, em geral estão relacionados ao metabolismo secundário. Cabe esclarecer que o metabolismo primário se refere aos processos (fotossíntese, respiração e assimilação dos nutrientes, p. ex.) de síntese de macromoléculas essenciais as células microalgais (proteínas, carboidratos e lipídios, p. ex.), sendo que estes processos/moléculas tem distribuição universal, enquanto, os processos/moléculas relacionados ao metabolismo secundário não são comuns a todas as microalgas, uma vez que não são obrigatoriamente necessários durante todo o cultivo ou ciclo de vida. É certo que nas células microalgais estes compostos bioativos não são sintetizados para utilização na aquicultura, de forma geral, os metabolitos secundários são sintetizados em condições adversas/estressantes para as microalgas, podendo estar relacionados: a defesa contra herbivoria, organismos patogênicos e até outras espécies de microalgas; contra os efeitos danosos do excesso de luz (através da síntese de pigmentos para a atenuação da luz que transpassa a parede/membrana celular e/ou de pigmentos com função antioxidante) ou de algum composto poluente (metais pesados, p. ex.); e ainda como resposta a falta de nutrientes no meio de cultivo. As questões fundamentais para a obtenção dos compostos bioativos das microalgas são a identificação de cepas que podem sintetizar, acumular e, em muitos casos, secretar estes metabolitos no meio de cultura, bem como, a percepção do momento do cultivo (estado fisiológico) no qual os fatores ambientais (estressantes) levem a potencialização da síntese do(s) composto(s) de interesse. Nesta linha de estudo, um trabalho interessante sobre o uso de compostos bioativos obtidos de culturas de microalgas foi desenvolvido numa parceria entre o Laboratório de Cultivo de Algas e o Laboratório de Camarões Marinhos da UFSC.
Culturas da microalga Porphyridium cruentum foram desenvolvidas até que fosse estimulada a biossíntese de polissacarídeos sulfatados, os quais são produzidos pelas células e secretados no meio em grande quantidade durante a fase estacionária do crescimento das culturas. Após o processo de obtenção do extrato bruto dos polissacarídeos, este material foi adicionado a uma ração comercial de camarões marinhos. Juvenis de Litopenaeus vannamei foram alimentados durante quatro semanas com dietas contendo diferentes concentrações do extrato de polissacarídeos, sendo que, nos camarões alimentados com dietas contendo entre 0,5 e 1,5% de extrato foram verificadas alterações em alguns dos parâmetros imunológicos: contagem total de hemócitos (CTH) e atividade da fenoloxidase (PO); indicando um efeito imunoestimulatório. Além disto, os camarões foram desafiados através da injeção de Vibrio alginolyticus, quando, após 48 h, foi verificada maior sobrevivência nos animais que foram alimentados com dieta suplementada com o extrato bruto de polissacarídeos da microalga Porphyridium cruentum, comprovando o aumento na imunocompetência dos camarões. Para maiores informações, este trabalho pode ser acessado a partir deste link.
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Biólogo, Mestre em Aquicultura e Doutor em Ciência dos Alimentos pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pesquisador e Gerente do Setor de Microalgas do Laboratório de Camarões Marinhos da UFSC entre 1989 e 2006. Atualmente é professor no Departamento de Aquicultura e supervisor do Laboratório de Cultivo de Algas (LCA). Coordena diversos projetos de pesquisa na área de recursos pesqueiros e engenharia de pesca/biotecnologia, com ênfase em aquicultura/algocultura - cultivo de microalgas para a produção de compostos bioativos (pigmentos, ácidos graxos, polissacarídeos etc.), biocombustíveis (biodiesel, bioetanol etc.) e tratamento de efluentes líquidos e gasosos.
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