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Biotecnologia de algas
02 de Janeiro de 2017 Roberto Bianchini Derner
Cultivo de Microalgas em Efluentes ou Tratamento de Efluentes Através do Cultivo de Microalgas?

Esta matéria tanto poderia ser escrita por um Engenheiro Sanitarista, quanto por um Engenheiro de Aquicultura (ou Engenheiro de Pesca, além de outros profissionais ligados à aquicultura). O assunto é o mesmo, porém, dependendo da formação profissional as visões seriam diferentes: o Eng. Sanitarista se empenharia no tratamento dos efluentes (municipais, industriais etc.), assim, usaria o cultivo de microalgas como parte do tratamento (terciário ou polimento), enquanto o pessoal da aquicultura usaria o efluente como um meio de cultura de baixo custo para a produção de microalgas. Ambos estariam corretos e, o importante é a soma dos conhecimentos.

 

 

Reconhecidamente, os processos de produção aquícola geram efluentes: sólidos – que podem ser removidos através de diversos processos físico- químicos; e líquidos – que podem conter uma elevada carga de matéria orgânica dissolvida e/ou de compostos nitrogenados e fosforados que, em muitos casos, precisam ser tratados para que possam ser lançados nos corpos d’água ou reusados em aquicultura (recirculação). No efluente líquido, os processos de remoção (ou transformação, ou oxidação) de matéria orgânica podem ser desenvolvidos pelo emprego de reatores, bem como, pela ação das bactérias nitrificantes, onde o nitrogênio amoniacal é oxidado a nitrito e este a nitrato (numa ordem decrescente de toxicidade). Ainda assim, este efluente carrega elevada concentração de nitrato e de fósforo, e é aí que entram as microalgas, seja no caso do tratamento deste efluente, quanto na produção de microalgas. Muitos estudos têm sido desenvolvidos visando à remoção de nitrato e fosfato através do cultivo de microalgas, sendo que, na maioria dos casos, estes relatam a ocorrência de intensa redução das concentrações destes poluentes, assim, o efluente, ao atender à legislação ambiental, poderia ser lançado num corpo receptor.

Outros estudos têm sido direcionados à produção de biomassa de microalgas empregando estes efluentes, que são ricos em nutrientes para as microalgas. O uso destes efluentes como meio de cultura – alternativo e de baixo custo – tem sido reportado na literatura, entretanto, diversos aspectos devem ser considerados buscando a eficiência do processo: o efluente deve apresentar baixa turbidez (permitindo a passagem da luz para o interior das culturas de microalgas), não deve conter resíduos químicos (que podem ser acumulados na biomassa microalgal, inviabilizando seu uso na alimentação de larvas de camarões, peixes e moluscos, ou na indústria alimentícia, por exemplo), não deve carregar agentes patogênicos, nem organismos que possam predar as microalgas (protozoários ciliados, flagelados, amebas, etc.). Um exemplo da integração efluente/produção de microalgas/produção de artemia foi desenvolvido por Magnotti et al. (2015), numa comparação entre o uso do Meio f/2 e do efluente do cultivo de camarões marinhos em sistema BFT (Laboratório de Camarões Marinhos, UFSC), quando foram obtidos resultados semelhantes no crescimento e na produtividade nas culturas de microalgas, inclusive sem diferenças significativas entre o uso do Meio f/2 e daquele com 100% de efluente. Além disso, em relação à concentração inicial de nutrientes do efluente, as culturas de microalgas levaram a uma redução de 83% e de 100% da concentração de nitrato e de fosfato, respectivamente. Da mesma forma, o emprego das microalgas cultivadas em Meio f/2 ou no efluente permitiu o desenvolvimento satisfatório dos cultivos de artêmia, demostrando assim a viabilidade deste processo de integração.

Cabe aos pesquisadores dar continuidade a esta linha de pesquisa, buscando frequentemente a redução na demanda de insumos, no caso, a menor necessidade de aquisição de nutrientes para os cultivos de microalgas, bem como, menor necessidade de água para os cultivos de microalgas e para o sistema de cultivo de camarões.

 

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Capa do colunista Roberto Bianchini Derner
Roberto Bianchini Derner

Biólogo, Mestre em Aquicultura e Doutor em Ciência dos Alimentos pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pesquisador e Gerente do Setor de Microalgas do Laboratório de Camarões Marinhos da UFSC entre 1989 e 2006. Atualmente é professor no Departamento de Aquicultura e supervisor do Laboratório de Cultivo de Algas (LCA). Coordena diversos projetos de pesquisa na área de recursos pesqueiros e engenharia de pesca/biotecnologia, com ênfase em aquicultura/algocultura - cultivo de microalgas para a produção de compostos bioativos (pigmentos, ácidos graxos, polissacarídeos etc.), biocombustíveis (biodiesel, bioetanol etc.) e tratamento de efluentes líquidos e gasosos.

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