Os peixes redondos, dentre eles principalmente o tambaqui, tem característica de não se adaptar bem a altos adensamentos após a fase juvenil. Essa condição causa desconforto biológico que se traduz em baixas taxas de crescimento e fator de conversão alimentar e pode levar ao insucesso técnico e econômico da criação. Experiências já realizadas com a espécie foram mais satisfatórias para produzir juvenis com peso próximo de 1 quilograma. Experiências de engorda de tambaqui e seus híbridos como é o caso da tambatinga (fêmea de tambaqui x macho de pirapitinga) em sistemas adensados em tanques-rede se mostram melhores quando projetados a atingir uma produtividade final entre 30 e 40kg/m³, produtividade abaixo das alcançadas com tilápias que comumente alcançam entre 80 e100kg/m³.

Frente ao fato de que os redondos não se adaptam bem a engorda adensada, mas que até a fase juvenil os cardumes crescem satisfatoriamente, reflitamos sobre a possibilidade de realizar esta fase em um sistema adensado com recirculação. Quais seriam as vantagens dessa modificação de sistema e seria esta estratégia economicamente viável? Vejamos alguns pontos:

• Um sistema de recirculação para uma carga final entre 10 e 15kg/m³ já teria uma produtividade 10 a 15 vezes superior quando comparado a recria em viveiros escavados;
• Se implementada uma recria em RAS para suprir os juvenis necessários da piscicultura, os antigos viveiros de recria se reverteriam em viveiros de engorda, ampliando a produção em aproximadamente 10 a 20%, que em geral é o percentual de área destinada à recria nas propriedades;
• Produzindo juvenis de 1 quilograma em RAS, que pode ser dividida em 2 fases (fase 1 até 300 gramas e fase 2 de 300 a 1000 gramas), abre-se a possibilidade de fazer 3 ciclos de engorda ao ano quando se pretende produzir peixes de 2 quilos, finalizados nos viveiros escavados;
• A depender de como for implementado o sistema de recirculação, oportuniza-se ter uma nova fonte de renda na propriedade com a coleta de resíduos fecais dos peixes que podem ser transformados em fertilizantes orgânicos de alto valor para uso na propriedade ou que podem ser preparados para comercialização;
• Possibilidade de produção de vegetais (espinafre dágua, lemna, azola, etc) nos filtros biológicos ou em sistema de aquaponia, tanto para comercialização como para complementação alimentar dos próprios juvenis e peixes em engorda nos viveiros escavados.

Recentemente em um Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica para implementação de uma unidade em RAS para peixes redondos, apresentou-se os seguintes dados:

Quadro atual (apenas viveiros escavados):

Área de produção em engorda: 20,2 hectares em safra dupla, ou seja 40,4 hectares de área de produção anual;

Área de viveiros de recria: 3,5 hectares

Quadro futuro:

Reversão dos viveiros de recria em engorda;

Área de produção em engorda: 23,7 hectares em safra tripla, ou seja 71,1 hectares de área de produção anual;

Área de recria em RAS (escavados revestidos de geomembrana): 1 hectare, com produtividade média entre 10 e 15kg/m³, separados por duas fases (fase I: alevinos-300g e fase II de 300-1000g).

Com a operação do novo sistema:

A receita bruta fora ampliada em 85%

O valor da implementação do sistema RAS equivaleu a aproximadamente 40% dos 85% da ampliação de receita obtida em um ano produtivo;

O valor da energia elétrica subiu com a instalação do sistema RAS e equivaleu a aproximadamente 20% dos 85% da ampliação de receita obtida.

Para o ano 1 foram subtraídos 60% dos 85% da ampliação de receita, para o ano 2 e seguintes será apenas 20% dos 85% ou seja uma ampliação de receita na casa de 65% em relação ao quadro atual na estabilização. Não foram consideradas as receitas obtidas com a coleta de resíduos e preparação de fertilizantes orgânicos que ao pesquisar algumas marcas, estes podem chegar a ser comercializados em valor mais alto que a própria carne do peixe cultivado.

Autor: Jenner Menezes - Engenheiro de Pesca - Biofish Aquicultura da Amazônia