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Navegando na Aquicultura
12 de Fevereiro de 2024 Rodolfo Luís Petersen
Espécies exóticas

 

 

Recentemente, rolou uma notícia bombástica nas redes sociais e internet da publicação de um artigo cientifico sobre o aparecimento de tilápias em águas marinhas do litoral brasileiro. Não vou perder mais tempo de minha vida para explicar minha versão de porque a humanidade cultiva espécies exóticas em vários países do mundo, desde galináceos, até camarões. Lembro dos primórdios do início de minha atividade profissional no Laboratório de Camarões Marinhos da Barra da Lagoa (UFSC), capturando fêmeas e machos de camarão rosa e branco pela costa catarinense, envolvido de alma no conceito de espécie nativa. Ate Cuba, com todo o desenvolvimento e pesquisa realizada no camarão branco do Atlântico sucumbiu no cultivo do parente do Pacifico.

Na minha última participação recente de uma defesa de tese de doutorado do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal do Paraná, sobre a viabilidade zootécnica de Litopenaeus schmitti, cheguei a ser chato e negativo. O autor e a banca me questionaram o fato de que precisamos acreditar em um mundo melhor.

 

 

Não me identifico com aquicultor que defende a aquicultura a qualquer custo. Cansado de escutar do número de empregos que gera e da demanda mundial de produção de alimentos. Me falar neste mundo de segurança alimentar já me dá vontade de vomitar. Péssima distribuição de renda e milhões de toneladas de alimento estragado no processo de distribuição e comercialização. O fato é que, em um mundo ideal, o escape de espécies exóticas com as características de rusticidade biológica e capacidade de adaptação da tilápia, dependendo do ambiente, podem resultar em um impacto ecológico. Não dá para tapar o sol com a peneira. Em quanto continuemos tentando justificar, discutindo com ecólogos, que é manejável e sustentável o cultivo de espécies exóticas, a discussão não vai dar certo, ou como mínimo, seremos hipócritas. Temos que defender mostrando a realidade do mundo, a realidade dos oceanos, da pesca em rios e mares, das indústrias globalizadas, da realidade dos transportes ao redor do planeta (principal disseminador de espécies pelo mundo). Mostremos a realidade do agronegócio e seus impactos ambientais. Mostrar nossos mecanismos de sustentabilidade concretos, mais como em todas as indústrias, imperfeitos.

Na última live muito bem conduzida pela Aquaculture Brasil, com dos importantes pesquisadores brasileiros, no calor da discussão, um deles manifestou seu repudio de justificar a aquicultura de espécies exóticas porque o mundo está impactando demais, considerando que porque outras industrias não fazem bem as coisas estaria correto também a aquicultura impactar.  Ok, entendo, mais não concordo. Tudo está interligado. Os Aquicultores precisam defender uma política mundial integrada, entre ecólogos, profissionais do agronegócio, engenheiros sanitários, engenheiros industriais e economistas. Discussões e políticas fragmentadas não levaram nunca a nada.

A pergunta é:

Existe a chance de?

  • Iniciar cultivos aquícolas orgânicos com proteína exclusivamente vegetal sem o uso de espécies exóticas?
  • Fechar empreendimento não licenciados, e lutar pela substituição do agronegócio pela agroecologia?
  • Abolir o impacto do lixo doméstico e industrial, o lixo plástico e os efluentes industriais?

 

 

Existe a chance de uma parada significativa na economia mundial?

É viável?

Tudo o possível.

O que não é inviável é justificar a aquicultura sustentável do jeito que se aplica hoje na maior parte do mundo. Existem intenções constantes de melhorias: existem. Continuemos trabalhando.

Autor: Rodolfo Luis Petersen - Laboratório de Melhoramento Genético de Organismos Aquáticos - GECEMar Universidade Federal do Paraná - UFPR Pontal do Paraná, PR rodolfopetersen@hotmail.com

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Rodolfo Luís Petersen

Zoólogo, Mestre em Aquicultura pela Universidade Federal de Santa Catarina e Doutor em Genética e Evolução pela Universidade Federal de São Carlos (SP). Pesquisador e Gerente do Setor de Maturação do Laboratório de Camarões Marinhos (UFSC) desde 1990 até o ano 2001. Em 2003 trabalhou no Departamento de Genética da AQUATEC e desde janeiro de 2004 até dezembro de 2006 foi Gerente de Produção e Diretor Técnico do Laboratório Estaleirinho (Balneário Camboriú/SC). Como professor da UNISUL (Universidade do Sul de Santa Catarina), trabalhou em genética de peixes em parceria com a Piscicultura Panamá (Paulo Lopes/SC), entre 2006 e 2009. Atualmente trabalha como professor e pesquisador no curso de Engenharia de Aquicultura de Centro do Estudo do Mar (CEM/UFPR) e coordena o GECEMar (Laboratório de Biologia Molecular e Melhoramento de Organismos Aquáticos) da Instituição.

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Charge Edição nº Publicado em 18/09/2023
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