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Peixe é o meu negócio
24 de Janeiro de 2024 Fernanda Queiróz e Silva
Morte de peixe: pode até ser chamado de “comum”, mas não é normal

Colaboração com Bruno Corrêa da Silva – pesquisador da Epagri

 


 
Infelizmente mortandades de peixes são comuns, mas jamais podemos as considerar normais. Não é raro recebermos fotos de peixes mortos pelo WhatsApp. Você que trabalha com Piscicultura já deve ter recebido algumas vezes, não é mesmo? Com apenas com uma foto de alguns peixes mortos, muitas vezes já em estágio de decomposição, e quase nenhuma informação do cultivo (nenhuma anamnésia), como ter o diagnóstico correto e indicar um tratamento perante tantas possibilidades? Algumas questões importantes devem ser observadas quando se trata de morte de peixes e esse é o tema da coluna de hoje em colaboração com o pesquisador da Epagri, o engenheiro de aquicultura Bruno Corrêa da Silva.
 
Há padrões nas mortandades de peixes. Um padrão de mortandade é o que chamamos de crônico, quando morrem poucos peixes ao longo de um período de dias. Este é o que normalmente o piscicultor diz ser “normal”. Dentre estas mortalidades podemos observar causas infecciosas (causadas por um patógeno) e não infecciosas (causas ambientais). Entre as causas infecciosas temos os parasitos (mais comuns: tricodiníase, monogenoides, larvas de moluscos, ictiofitiríase, entre outros que são porta de entrada para bactérias), fungos (saprolegniose e branquiomicose), bactérias (as principais são: columnariose, estreptococose, aeromoniose, edwardsielose e franciselose) e até mesmo vírus, como o atualmente temido iridovírus ISKNV. E entre as causas não infecciosas mais comuns em mortalidades crônicas temos parâmetros ambientais como altas concentrações de amônia e o nitrito.
 
Há também aqueles dias muito tristes em que amanhece com muitos peixes mortos boiando na superfície da água de um dia para o outro. Estes tipos de mortandade chamamos de aguda: morte em grande quantidade em um curto período de tempo. Normalmente, nestes casos, a causa da mortalidade se deve a problemas que chamamos de ambientais, geralmente associado à baixa concentração de oxigênio dissolvido ou a inversão térmica, processo natural mais comum nos reservatórios. Em poucos casos observados a campo, mortalidades massivas com difícil explicação, porém, com graves lesões no fígado dos peixes, levando a suspeitas de contaminação com algum produto químico, como por exemplo, agrotóxicos. Também é possível observar mortes massivas observadas por agentes infeciosos, como vírus e bactérias. Nestes casos geralmente também estão associados a problemas ambientais nos parâmetros de qualidade de água.
 
É sempre importante investigar qual foi à causa da mortandade, ou melhor, quais foram às causas, pois normalmente há mais de um parâmetro de qualidade de água do viveiro fora do ideal ou do aceitável; ou ainda há mais de um patógeno atuando em um quadro de doença. Em nossa opinião não devemos aguardar as mortes acontecerem para que seja feito o monitoramento, tanto dos parâmetros de qualidade de água, quanto da saúde dos peixes. Este deve ser feito de forma continuada e preventiva, assim nos antecipamos às perdas, podendo minimizá-las ou até mesmo eliminá-las. 

 


Por isso, momentos como as biometrias são fundamentais para estar de olho no peixe. Neste momento podemos verificar a pele, integridade das nadadeiras, brânquias, olhos e muco. Além disso, é possível realizar a necropsia de alguns animais em cada biometria para verificar a presença de sintomas nos órgãos internos. Um exemplo de um caso recomendado para isso seria em uma propriedade que possua histórico de problemas com franciselose, onde a análise presuntiva com a lâmina (“squash”) do baço poderá antecipar mortalidades e problemas causados pela presença crônica deste patógeno. Com isso, o técnico responsável pode indicar o tratamento na fase inicial da doença, aumentando as chances de sucesso.  

 
Para cada tipo de doença há um tipo de tratamento específico. Uma dica para os casos de bacterioses é fazer o exame chamado antibiograma, assim você saberá se há resistência bacteriana na sua propriedade e o tratamento indicado que será mais efetivo.


Aliás, há muito poucos tratamentos autorizados para peixes de cultivo destinados para consumo humano, o que reforça ainda mais a importância da prevenção. 


Quando há uma programação de manejo, seja ele povoamento, repasse ou biometrias de rotina, é importante ficarmos atentos às condições do clima, evitando estes procedimentos próximos a dias com grande amplitude térmica ou em temperaturas de água abaixo de 18 ºC e acima de 30 ºC. O uso de imunoestimulantes pode ser estratégico nestes casos, não esquecendo a aclimatação correta dos peixes na mudança de ambiente. Normalmente, essas mortes ocorrem até sete dias do manejo, portanto, é importante ter atenção redobrada nestes casos e se antecipar às grandes perdas. Particularmente, boa parte dos problemas que recebemos pelo WhatsApp são mortalidades em pesque-pagues decorrentes de manejos de transferências de peixes, que poderiam ser evitadas com boas práticas. 
Houve mortalidade? Retire os peixes mortos do viveiro e dê destinação correta, além da limpeza e desinfecção dos materiais. A tolerância precisar ser zero com a presença de peixes boiando nos viveiros. 


O histórico da propriedade é importante para a prevenção. Existem inúmeros fatores que podem contribuir para o aparecimento de doenças e mortandades, assim que soubermos quais são as causas podemos trabalhar na prevenção mais assertivamente. Sempre bom pensarmos no plano A, B ou C. Aeradores de emergência, gerador, oxigênio em pó caso a esteja trabalhando com densidades mais altas.

 


 
 
Moral da história
 
Prevenir é sempre melhor do que remediar! 


Uma espécie adaptada e adequada para a região de cultivo, com nutrição específica para a fase e para o hábito alimentar da espécie, manejo alimentar correto, aplicação de boas práticas de manejo, cuidados com biossegurança, uso de imunoestimulantes para as fases mais críticas de cultivo, vacinas, são apenas alguns dos pontos e ferramentas aliadas que podem contribuir com a saúde e bem-estar dos peixes.

Fernanda Queiróz e Silva – Técnica em Aquicultura - Unidade de Desenvolvimento Rural - SDE - Prefeitura Municipal de Joinville

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Fernanda Queiróz e Silva

Sou a Fernanda, catarinense, oceanógrafa e atuo em campo, diretamente com assistência técnica e extensão rural a pequenos e médios piscicultores no Município de Joinville. E é de lá, do campo, que prometo buscar inspiração para os temas desta coluna. 

Fernanda Queiróz e Silva – Técnica em Aquicultura, UDR- SDE – Joinville-SC.

Contato: fernanda.silva@joinville.sc.gov.br

 

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Charge Edição nº Publicado em 18/09/2023
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