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Peixe é o meu negócio
26 de Dezembro de 2023 Fernanda Queiróz e Silva
Nada está tão bom que não possa melhorar

Esta coluna tem como Co-autor Jorge de Matos Casaca

 

 

Costumamos ouvir que: “criar peixe é fácil, difícil mesmo é ganhar dinheiro criando peixes”. Será mesmo? Quando indagados sobre quais os principais gargalos da piscicultura, os produtores respondem: custo de produção! Mas, nos questionamos: será que eles têm a informação de quanto custou para produzir um quilo do seu peixe? Como podemos melhorar algo que não conhecemos?

O sucesso zootécnico e financeiro do cultivo está relacionado com inúmeros aspectos, e Jorge de Matos Casaca e eu, abordaremos alguns deles nesta coluna.

Começar do jeito certo envolve capacitação e troca de conhecimento continuadamente. Há muitas maneiras de você adquirir conhecimento, seja de forma remota ou presencial, em cursos, workshops, congressos ou eventos na área da aquicultura, possibilitando adquirir informações atualizadas com profissionais habilitados. Importante, também, é a rica troca de experiências entre os próprios aquicultores, com o sucesso ou, até mesmo, o insucesso dos colegas, o que acaba doendo menos no nosso bolso. A informação do que não deu certo é tão importante quanto a da que deu certo.

Sabemos que os desafios na aquicultura são constantes e mutáveis ao longo do tempo; há alguns anos falávamos principalmente em bactérias causadoras de grandes mortalidades, como Aeromonas e Streptococcus. Atualmente, novas enfermidades vêm surgindo, a exemplo do parasito Acantocéfalo, da bactéria Lactococcus e do iridovírus ISKNV, que vêm causando grandes perdas e prejuízos econômicos na piscicultura brasileira nos últimos meses.

Reformar leva mais tempo e, normalmente, gasta-se mais dinheiro do que construir da forma correta. Um bom planejamento é fundamental para o sucesso financeiro do negócio, envolvendo desde o projeto de execução dos viveiros com licenciamento ambiental. Há linhas de crédito específicas para a aquicultura, e um dos pré-requisitos é a regularização ambiental da atividade na propriedade.

Atenção redobrada deve estar no foco na primeira safra. As primeiras safras normalmente são as de mais erros e aprendizados, portanto, é recomendável não trabalhar com a capacidade máxima, pelo menos neste estágio, pois os riscos tendem a ser maiores.

Analisar o mercado local para a escolha da espécie a ser cultivada, entender quais são as demandas regionais também se mostram importantes. O conhecimento da biologia da espécie para saber se é adaptada ao clima local e ao sistema de cultivo escolhido, e, ainda, se há fornecedores de insumos na região, dentre outras informações.

O estudo das viabilidades técnica e econômica, principalmente do sistema de cultivo a ser empregado, para verificar se a conta “fechará” no final do cultivo, também é essencial. Importante saber onde serão vendidos os peixes antes mesmo de colocá-los no viveiro, pois isso determinará a quantidade de alevinos a serem adquiridos. Informações como: qual o peso médio de venda, qual a quantidade mínima para a despesca, se há equipe própria de despesca, afora outras informações.

Saber quem serão os parceiros e apoiadores que irão te assessorar ao longo do ciclo de cultivo, é um dado importante. Há algumas formas de assistência técnica e extensão rural: federais, estaduais, municipais e privadas que podem contribuir para o acompanhamento zootécnico e financeiro do cultivo, com uma visão estratégica. Não somente a expertise de profissionais, mas também a de outros aquicultores também se torna relevante. As associações e cooperativas de piscicultores demonstram organização, planejamento, força e união, dando ainda mais visibilidade e representatividade à atividade. É uma relação construída com confiança e comprometimento. Juntos seremos sempre mais fortes e poderemos ir em busca da resolução das demandas que irão surgindo ao longo do tempo.

A escolha correta dos insumos e equipamentos também tem papel relevante no sucesso. Não fazer a escolha dos produtos apenas baseada no preço e, sim, na relação  custo-benefício, pois, normalmente, o barato sai caro.

Pergunte, questione ao técnico e/ou vendedor, quais são os benefícios do produto em questão, qual o diferencial, quais os resultados esperados; utilização e manutenção corretas, etc. No caso dos alevinos, é importante obter informações sobre a espécie escolhida para o cultivo, a linhagem, a sanidade destes animais e, no caso das tilápias, a taxa de masculinização.

Houve doença na safra anterior, desovas indesejadas, peixes nativos no viveiro? Sim? Portanto, a desinfecção do viveiro é recomendada; caso contrário, não haverá necessidade. A preparação do viveiro deve iniciar poucos dias antes do recebimento dos alevinos, pois do contrário, provavelmente haverá predadores de maior tamanho do que os alevinos, como as vorazes baratas d’água e as odonatas (larvas da libélula), que causam grandes perdas no início do cultivo.

 

 

O recebimento dos alevinos é outro ponto importante, com a aclimatação correta. Normalmente, pensamos na homogeneização da temperatura da água, mas este é apenas um dos parâmetros que devemos nos atentar quando recebemos os alevinos em embalagens plásticas, em caixas de transporte ou até mesmo no repasse de peixes para outro viveiro. Para cada grau de diferença de temperatura na água, são indicados cerca de 5 a 10 minutos para a aclimatação, com a mistura da água de transporte e da água do viveiro definitivo. O ideal no recebimento de alevinos é descartar a água de transporte, que pode ter a presença de alguns organismos indesejáveis.

A recria ou cultivo em fases apresenta inúmeras vantagens, dentre elas o melhor aproveitamento da área da propriedade, diminuição do tempo de cultivo, maior sobrevivência quando aliada ao uso de redes anti-pássaros, maior previsibilidade dos parâmetros zootécnicos ao longo do cultivo. A densidade do berçário vai variar de acordo com uso e a potência dos aeradores, principalmente do peso médio final de repasse, já que peixes menores possuem o metabolismo mais acelerado, demandando assim mais oxigênio dissolvido. Comumente, os berçários são viveiros menores, portanto, mais fáceis de corrigir os parâmetros de qualidade de água, mantendo-os dentro dos níveis ideais e, também, uma homogeneidade do lote, sendo mais prático para oferecer ração ao longo de todas as margens do viveiro e com um número maior de refeições, o que é recomendado para esta fase de cultivo.

O arraçoamento é muito mais do que alimentação, é nutrição. Há muita pesquisa e tecnologia atualmente incorporadas nas rações, com produtos específicos para diferentes hábitos alimentares, fases do ciclo de vida, sistemas de cultivo e até mesmo para diferentes desafios. Faça a escolha correta, lembrando que, mais uma vez, o “barato sai caro”. Portanto, faça a escolha da ração baseada em resultados na sua propriedade, principalmente do fator de conversão alimentar, que nada mais é do que a quantidade de ração gasta em relação à quantidade de biomassa de peixes produzida naquele período.

O manejo alimentar deve estar aliado ao monitoramento dos parâmetros de qualidade de água e também ao desempenho zootécnico. Por isso, estar atento nos principais parâmetros de qualidade de água como: oxigênio dissolvido, temperatura da água e os elementos nitrogenados, mantendo-os dentro da faixa ideal para cada espécie e fase, contribui diretamente para a otimização da ração e na saúde dos animais.

Gerar históricos, anotando os dados, seja em um caderno, planilhas de Excel ou até mesmo nos aplicativos disponíveis, é recomendável.

Tarrafa na água e calculadora na mão para fazer o acompanhamento é o que chamamos de “ajuste fino” da quantidade diária de ração ao longo de todo o cultivo. Durante as biometrias poderemos observar melhor os peixes, se há alguma lesão, coloração diferente, muco alterado, integridade das nadadeiras, perda de escamas e olhos com características anormais; poderemos fazer uma busca ativa e nos anteciparmos às mortandades.

Falando em mortandades, a próxima coluna será somente sobre este tema. Lembrando que as mortes de peixes, infelizmente, são comuns, mas não devem ser consideradas normais.

As boas práticas de manejo, quando aplicadas corretamente na propriedade, aumentam o grau de bem-estar dos peixes, refletindo positivamente no seu desempenho e, portanto, na lucratividade.

 

 

Trabalhar com aquicultura é um constante aprendizado, basta estar atento e consciente às oportunidades de melhoria durante o cultivo, pois nada está tão bom que não possa melhorar.

Fernanda Queiróz e Silva – Técnica em Aquicultura - Unidade de Desenvolvimento Rural - SDE - Prefeitura Municipal de Joinville

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Fernanda Queiróz e Silva

Sou a Fernanda, catarinense, oceanógrafa e atuo em campo, diretamente com assistência técnica e extensão rural a pequenos e médios piscicultores no Município de Joinville. E é de lá, do campo, que prometo buscar inspiração para os temas desta coluna. 

Fernanda Queiróz e Silva – Técnica em Aquicultura, UDR- SDE – Joinville-SC.

Contato: fernanda.silva@joinville.sc.gov.br

 

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Charge Edição nº Publicado em 18/09/2023
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