Para que a reprodução de peixes tenha êxito é necessário que os gametas tenham qualidade adequada para promover a fertilização e desenvolvimento normal do embrião, porém, muitas vezes a qualidade ficou focada em gametas femininos, sendo os masculinos deixados em segundo plano. Entretanto, a partir de estudos clássicos, verificou-se que se os espermatozoides não apresentarem boa qualidade a capacidade fertilizante pode ser reduzida e a eficiência da fecundação comprometida¹. Neste sentido, diversos parâmetros são utilizados para aferição da qualidade espermática, tais como integridade de membrana, alterações morfológicas, integridade de DNA, peroxidação lipídica, estresse oxidativo, e os aspectos cinéticos de movimentação², aos quais são avaliados cada vez mais com maior frequência.

Dentre as técnicas utilizadas, a avaliação da movimentação de forma subjetiva (tempo, vigor e taxas de motilidade) foram amplamente utilizadas em peixes no Brasil e na América do Sul, porém, estas metodologias de avaliação começaram a gerar dúvidas quanto ao grau de subjetividade empregado e falta de repetibilidade nos resultados. Com isso, análises objetivas utilizando softwares CASA (Computer Assisted Sperm Analysis) foram adaptados de mamíferos para peixes com resultados satisfatórios e com uma diversidade de parâmetros que não podem serem avaliados pelo método subjetivo, tais como velocidades e comportamento do movimento. Apesar de utilizados em peixes, muitos dos softwares são pagos e isso dificulta a aquisição por laboratórios que apresentam fontes limitadas de recursos e restringe o desenvolvimento de novas rotinas. Neste sentido, desde 2006 com o desenvolvimento do plugin CASA utilizado no software de código aberto ImageJ³ permitiu a realização de análises espermáticas de diferentes espécies no mundo de forma gratuita, contribuindo positivamente na formação de recursos humanos e desenvolvimento da ciência na área⁴. Isso se acentua pelo fato de que os espermatozoides da grande maioria das espécies de peixes são imóveis no testículo e quando em contato com água, apresentam curto tempo de movimentação (menos que 1min), como pode ser observado no vídeo https://youtu.be/IAno_4YHAXU representando a movimentação espermática de tambaqui (Colossoma macropomum) entre 5 a 45s pós-ativação e suas trajetórias (Figuras 1 e 2).

Além disso, o software CASA em código aberto, possibilita análises em campo com maior facilidade, algo não possível até então devido às restrições de utilização dos equipamentos em laboratórios. Porém, por ainda haver uma disponibilidade favorável de reprodutores nos plantéis, poucos produtores se preocupam em avaliar a qualidade espermática, mesmo sabendo que é crucial para a reprodução, e desta forma as análises mais refinadas acabam sendo restritas aos laboratórios de universidades e instituições de pesquisa. Entretanto, este cenário aos poucos está mudando, principalmente em função da possibilidade de criopreservar espermatozoides de algumas espécies que apresentam assincronia de maturação, tais como alguns híbridos e espécies selecionadas em programas de melhoramento. A partir disso, algumas propriedades já possuem equipamentos básicos de avaliação prévia da quantidade e qualidade espermática e/ou realizam parcerias com as instituições que dominam a técnica, contribuindo para o direcionamento e o uso mais racional dos gametas.

Desta forma, fica evidente que os gametas masculinos devem ter uma atenção especial, sendo a cinética espermática uma ferramenta importante a ser considerada dentro da otimização dos gametas (assunto abordado na coluna anterior). Frente a isso, iniciativas importantes de melhoria dos procedimentos já estão sendo realizadas, aumentando a praticidade⁵ e acurácia das análises⁶ para obtenção dos resultados de forma mais rápida e precisa de modo que os produtores possam investir com maior segurança e assim contribuir para a aplicação dessas tecnologias em campo.

¹Billard R & Cosson MP. Journal of Experimental Zoology. 1992; 261(2):122-131. doi: 10.1002/jez.1402610203

²Sanches EA et al. Cap.15. In: Mattos BO, et al. ed. Atena; 2021; p.222-239. doi: 10.22533/at.ed.042211503

³Wilson-Leedy JG & Ingermann RL. Theriogenology. 2007; 67(3):661-672. doi:10.1016/j.theriogenology.2006.10.003

⁴Neumann G, et al. R. Bras. Zootec. 2017; 46(7):560-568. doi:10.1590/s1806-92902017000700002

⁵Neumann G, et al. Reprod. Domest. Anim. 2021; 56(6):829-836. doi:10.1111/rda.13922

⁶Sanches EA et al. J. Appl. Ichthyol. 2013; 29: 1114–1122. doi: 10.1111/jai.12165

Autor: Eduardo Antônio Sanches - Doutor em Aquicultura Faculdade de Ciências Agrárias do Vale do Ribeira - UNESP Registro, SP eduardo.sanches@unesp.br