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Gestão de Resíduos
02 de Novembro de 2023 Ivã Guidini Lopes
Reaproveitamento de lodos gerados na aquicultura

 

 

 

A aquicultura é um dos tipos de produção de alimentos mais variados que existem, pois além de possibilitar a produção variada de peixes, camarões, rãs, algas (micro- e macroalgas) e outras espécies, a aquicultura é realizada de muitas formas distintas. Nesse sentido, podemos pensar em sistemas abertos como a produção de peixes em tanques-rede, camarões em tanques escavados, além de sistemas fechados, como é o caso dos sistemas de recirculação de água, como por exemplo sistemas de aquaponia. Você conhece esses sistemas? De modo geral, são modelos mais circulares de produção, com grande controle dos parâmetros produtivos, nos quais o reaproveitamento da água é prioritário e a geração de resíduos é menor. No entanto, ainda há geração de resíduos em sistemas fechados, ou seja, estes devem ser tratados.

Vamos considerar produções como a aquaponia por exemplo, na qual produzimos peixes e/ou camarões, além de espécies vegetais. Além de ocasionais mortalidades que ocorrem nesse tipo de produção e geram resíduos (carcaças), ou mesmo eventuais plantas que são descartadas, sistemas de aquaponia não geram grandes quantidades de resíduos como outros sistemas. No entanto, um resíduo é abundante nessa produção: os lodos capturados nos filtros do sistema. Esses lodos normalmente possuem alta concentração de água (acima de 90%) e muitos nutrientes que podem ser reaproveitados. Estes podem inclusive ser aplicados diretamente em solos agrícolas! Mas isso é claro depende de sua composição e só deve ser feito quando não há contaminantes no lodo, como metais pesados, microorganismos patogênicos ou substâncias que possam contaminar o solo e as plantas.

 

 

Os lodos de filtros de sistemas de recirculação podem possuir mais de 2% de nitrogênio, 3% fósforo e 2% de potássio, além de micronutrientes, outros compostos benéficos para plantas e microorganismos. No entanto, a maior parte desses nutrientes ainda estão na forma orgânica, ou seja, não são absorvidos diretamenta pelas plantas. Assim, os lodos devem ser mineralizados antes de serem reaproveitados como fertilizantes de modo efetivo. Esse processo de mineralização pode acontecer no solo após aplicarmos o lodo? Sim, no entanto é muito importante considerar que após a aplicação, a mineralização se inicia após alguns dias, portanto devemos esperar um tempo antes de colocar as plantas no solo. Caso contrário, podemos prejudicar as plantas!

Para otimizar os benefícios do lodo, podemos adotar alguma tecnologia de gestão de resíduos e tornar esse resíduo em um produto de excelente qualidade! Uma das possibilidades para isso é a compostagem, a qual já tratamos aqui na coluna Gestão de Resíduos diversas vezes. A dica mais importante para o uso de lodos de sistemas de aquaponia (e mesmo outros lodos, como o lodo do fundo de tanques escavados) na compostagem, é lembrar que este resíduo é muito líquido, portanto precisa de grandes quantidades de um resíduo sólido bastante seco, para ser compostado. A maravalha ou serragem de madeira é um excelente material para ser compostado com os lodos! Outras tecnologias podem também ser utilizadas, como o tratamento com larvas de insetos, a digestão anaeróbia (porém para esta tecnologia é necessário remover parte da água dos lodos), dentre outros. Mas aqui vamos focar na compostagem, pois é certamente a tecnologia mais simples e promissora para este resíduo.

 

 

O composto produzido com lodo de filtro de sistemas de aquaponia tem características excepcionais. A concentração de nitrogênio, fósforo e potássio pode chegar a níveis de 2,5%, 4% e 5%, respectivamente. O composto é muito rico em matéria orgânica, benéfica para o solo, além de possuir grandes quantidades de micronutrientes como zinco, manganês e boro. Esse reaproveitamento de lodos da aquicultura é uma excelente forma de aumentar a sustentabilidade da produção!

Autor: Ivã Guidini Lopes - Pesquisador na Universidade Sueca de Ciências Agrícolas, Uppsala, Suécia ivanguid@gmail.com

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Ivã Guidini Lopes

Ivã Guidini Lopes é biólogo, formado pela UNESP de São José do Rio Preto/SP, realizou mestrado e doutorado em aquicultura pelo Centro de Aquicultura da UNESP, em Jaboticabal/SP. Atua na aquicultura desde 2014, realizando pesquisas científicas e práticas de extensão aquícola na área de gestão e tratamento de resíduos sólidos orgânicos. Possui experiência com métodos de compostagem termofílica e de tratamento de resíduos com larvas de mosca soldado-negro, assim como da aplicação dos produtos gerados nestes processos, visando a promoção da economia circular e o aumento da sustentabilidade do setor produtivo como um todo.

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