Como seres humanos e produtores, temos a tendência de acreditar que a grama do vizinho, sempre é mais verde que a nossa. Mas trazendo esse ditado popular para realidade da indústria mundial do camarão, não temos um vizinho ou vizinhos, com uma grama assim tão verde, quando comparamos a realidade que o Brasil, com a de outros países produtores no mundo.

A carcinicultura mundial vem atravessando uma combinação mercadológica global preocupante nos últimos anos: retração de compra, redução de preços e aumento dos custos. No presente momento e olhando para o futuro, há ainda muitos questionamentos em relação as expectativas.

Por isso, muitos esforços estão sendo realizados e debatidos, tanto na perspectiva de produção como de promoção do camarão, com objetivo claro, de amenizar ou reverter esse cenário em um médio prazo de tempo. Nessa coluna, falaremos um pouco sobre esse panorama, com objetivo de transmitir ao leitor atualizações sobre o tema.

Produção

A produção mundial de camarão cultivado, vem crescendo em um ritmo de 4,93% a.a, nos últimos 7 anos, um incremento de volume de 33,46% no período. Mas é avaliando o ano de 2020,  que conseguimos ter uma melhor compreensão, de como a produção vem ampliando fortemente a sua oferta nos últimos 3 anos.    

O volume de aumento entre 2017 e 2020 foi de 466.000 toneladas, enquanto 2020 e 2023, o acréscimo foi de 907.000 toneladas (+94,6%), a previsão para 2023 é de se manter em 5,4 milhões de toneladas, já em um cenário de limite sinalizado pelo consumo.

Gráfico 1 – Evolução da produção mundial de camarão Vannamei.

Mercado

Nos países exportadores, tanto na Ásia como nas Américas, os principais produtores estão sentindo o momento desfavorável do mercado em relação aos preços e a desaceleração no volume das importações.

O comportamento de compra dos dois principais mercados consumidores são :

• Na China, já há uma queda de - 7% no acumulado do 2º semestre em relação a 2022, e com notícias reportadas de estoques altos para o final do ano.
• Nos EUA, há uma queda de - 13%,  o processo de retomada continua lento, com uma sensível melhora no segundo semestre.

Como consequência desse cenário, a queda de preços dos últimos 12 meses no Equador (maior exportador mundial de camarão) foi de 22,5%, conforme podemos ver no gráfico 2.

Gráfico 2 – Evolução do preço médio das exportações de camarão do Equador.

Nos países, cujo foco principal não é a exportação, como é o caso do Brasi e México há um comportamento de produção crescente, e essa oferta, tem impactado também os preços.

Produtores, em especial os de pequenos e médios porte, que não conseguem ter volume de produção maior para diluir os seus custos, se encontram em um ponto de tensão de viabilidade econômica muito forte, nesse momento. Estes buscam resistir ao ponto de equilíbrio com parcerias e redução de densidades.

Enquanto grandes produtores estão buscando aumentar suas áreas de produção e investindo em tecnologia.

Promoção do consumo de camarão

Uma das saídas encontradas, para que a indústria da carcinicultura mundial volte a sonhar com cenários melhores, tanto na perspectiva de estabilidade de preços, como de absorção da produção, é o aumento do consumo de camarão. A demanda precisa acompanhar a produção, mas para isso é preciso que haja mais promoção do consumo de camarão.

Esse tema foi bastante debatido no evento Global Shrimp Fórum, realizado na Holanda, no último mês de setembro de 2023. O evento contou com a presença de produtores importantes, de mais de 20 países, que além de trazer informações atualizadas de comportamento de mercados, consumidores e exportadores, também intermediou uma importante reunião para a criação do “Conselho Global do Camarão”.

O “Conselho Global do Camarão” é uma iniciativa criada por produtores de camarão, integrando diferentes países, sendo concorrentes ou não, que entendem que o setor precisa de um órgão de promoção global, que vise, em seu primeiro momento, sobretudo impulsionar o consumo mundial de camarão, que através de campanhas de marketing possa incentivar novos consumidores.

Segundo Arnd Jan Gulmans, um dos palestrantes do evento, há muitas áreas de oportunidade  no marketing que podem ser exploradas envolvendo camarão, desde: interações sociais ou associações positivas, nutrição e saúde, versatilidade, conveniência e sustentabilidade (Figura 1).

Figura 1 – Uma mão forte de Cartas- Fonte: Arnd Jan Gulmans, Global Shrimp Forum, Set, 23.

Interações sociais ou associações positivas:  O consumo de camarão está associado a celebração de bons momentos, com família e amigos, com uma forte culinária tradicional em algumas regiões, bem como ao visual e sabor dos pratos. Na China por exemplo, o camarão é um símbolo associado a felicidade, longevidade.

Nutrição e Saúde: O camarão é bom para o coração, pois é uma fonte de proteína magra. É bom para o corpo, pois contém: vitamina B12, Zinco e Iodo. É uma excelente proteína para ajudar no sistema imunológico, contendo: Vitamina D, E, selênio e Zinco. Ainda é importante ressaltar os benefícios para o cérebro, sendo fonte de oxidantes e ômega 3.

Um ponto importante sobre esse tópico, como oportunidade, é a crescente intenção da população de comer de forma mais saudável e o aumento do flexitarismo (que seguem o meio termo, dieta vegetariana, mas que de vez em quando consomem algum tipo de carne).

Versatilidade: Enquanto produto, pode ser preparado de várias maneiras diferentes, se encaixando bem na culinária, seja em condições mais práticas como em mais elaboradas.

Conveniência: É um produto fácil de porcionar e de curto tempo de cozimento, uma opção de prato ágil para correria do dia a dia. Famílias ocupadas, sonham com conveniência.

Sustentabilidade: Apesar da sustentabilidade ter ainda um peso relativamente baixo nas escolhas alimentares em alguns lugares no mundo, esse comportamento tende a mudar nos próximos anos. Dentro desse tópico, podemos dizer que o camarão é uma carne mais sustentável do que a carne vermelha e até 2030 pode atingir uma redução de até 70% a emissão de gases do efeito estufa.

Conclusão

Diante de tantas informações trazidas nesse artigo, e fazendo uma aproximação para nossa realidade, para nós aqui do Brasil, é preciso acompanhar sim, a realidade da carcinicultura mundial, é necessário. Há muitos exemplos, muitas movimentações que podemos ter como referência nas ações nacionais.

O Brasil, hoje não está sendo um país exportador, mas com um consumo per capita de camarão abaixo de 1 Kg por ano, tem o dever de fazer uma melhor promoção do camarão no mercado interno, para que a demanda possa acompanhar de forma sustentável o avanço da produção, afinal temos muito a crescer ainda.

Autor: Diego Maia Rocha - Sócio-Diretor Synbiaqua Cultivos Aquáticos - Natal, RN - diegomaiarocha@synbiaqua.com.br