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Gestão de Resíduos
07 de Agosto de 2023 Ivã Guidini Lopes
A compostagem de resíduos da aquicultura pelo Brasil

 

 

Desde o ano de 2016, o Centro de Aquicultura da Universidade Estadual Paulista (Caunesp) em Jaboticabal/SP vem aplicando a compostagem orgânica para gerir os resíduos dos laboratórios e setores de produção aquícola do centro de pesquisa. Esse trabalho foi iniciado pela Dra. Rose Meire Vidotti e pelo ex-aluno de doutorado Ivã Lopes, os quais construíram uma unidade de compostagem no Caunesp que está em operação plena há sete anos. Ao longo desses anos, a compostagem de animais aquáticos vem sendo estudada e otimizada não só em São Paulo, mas também no Amazonas, um dos estados com o maior consumo per capita de pescados no Brasil. Os estudos de compostagem desenvolvidos pela Dra. Juliana Tomomi e pela doutoranda Monique Brandão no Programa de Pós-graduação em Aquicultura UniNilton Lins/INPA vêm de encontro à forte necessidade de se promover a circularidade na aquicultura, por meio da gestão de resíduos orgânicos. Nesse artigo vamos discutir brevemente o que é a compostagem e quais os recentes avanços da pesquisa sendo realizada no país.

 

 

            Resumidamente, leiras de compostagem são montadas com camadas alternadas de matérias secos ricos em carbono (poda de árvores, maravalha, folhas secas e outros) e o resíduo ao qual quer se dar destino correto, ou seja, os resíduos da aquicultura, ricos em nitrogênio e outros compostos. Após a montagem, as leiras são revolvidas/homogeneizadas e umedecidas periodicamente para promover a aeração e acelerar a decomposição desses materiais, realizada principalmente por microorganismos. Após 2-3 meses, os resíduos estão completamente decompostos e estabilizados, obtendo-se assim um composto orgânico, podendo este ser utilizado como fertilizante. Além de ser rico em matéria orgânica e nutrientes de plantas, esse fertilizante é altamente sustentável e sua utilização reduz a necessidade de adubação química em até 90%, a depender da cultura agrícola.

 

 

            Os estudos realizados tanto em São Paulo quanto em Manaus avaliam a eficiência do processo de compostagem de resíduos da aquicultura - em São Paulo com resíduos oriundos da pesquisa em aquicultura e em Manaus com resíduos do processamento e de pontos de comercialização de peixes- com diferentes fontes de carbono encontradas nessas regiões - serragem de madeira, poda de árvores, cascas de amendoim, resíduos da produção de flores, dentre outros. Adicionalmente, esses estudos propuseram uma nova forma de manejar as leiras de compostagem, otimizando a compostagem em relação à área utilizada e à qualidade do composto produzido. Essa metodologia, denominada “compostagem com recarga de resíduos”, permite gerir uma quantidade aproximadamente 30% maior de resíduos da aquicultura em uma mesma área, produzindo um composto mais rico em nutrientes de plantas e matéria orgânica. A recarga realizada na leira de compostagem ativa, já em decomposição, faz com que os novos resíduos colocados nas leiras se decomponham ligeiramente mais rápido (em comparação à montar uma nova leira de compostagem), otimizando todo o processo.

 

 

            Essa importante transferência de tecnologia entre regiões do Brasil é necessária para atingirmos o desenvolvimento sustentável na produção aquícola brasileira. Os resultados obtidos pelas pesquisadoras em Manaus serão de grande impacto para a região, visto que Manaus é uma das cidades com maior consumo de pescados no Brasil e diversos resíduos são gerados ao longo de toda a cadeia produtiva do pescado. Atualmente, grande parte desses resíduos são simplesmente descartados na natureza ou colocados em aterros sanitários, causando grandes impactos ambientais. Imaginem só se a compostagem fosse aplicada em toda a cadeia produtiva da pesca e aquicultura? Isso representaria um grande salto em direção à sustentabilidade produtiva, além de colaborar com a produção agrícola local, tornandoá também mais sustentável e circular!

 

 

Para saber mais:

Clique aqui para fazer o download do artigo técnico “Compostagem orgânica: método eficiente para a gestão de resíduos de animais da aquicultura”, publicado na revista Pesquisa & Tecnologia da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios.

Clique aqui para assistir um vídeo sobre compostagem de resíduos da aquicultura, no canal do Instituto Brasileiro de Agricultura Sustentável no Youtube.

 

Autor: Ivã Guidini Lopes - Doutor em Aquicultura Pesquisador na Swedish University of Agricultural Sciences ivanguid@gmail.com

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Ivã Guidini Lopes

Ivã Guidini Lopes é biólogo, formado pela UNESP de São José do Rio Preto/SP, realizou mestrado e doutorado em aquicultura pelo Centro de Aquicultura da UNESP, em Jaboticabal/SP. Atua na aquicultura desde 2014, realizando pesquisas científicas e práticas de extensão aquícola na área de gestão e tratamento de resíduos sólidos orgânicos. Possui experiência com métodos de compostagem termofílica e de tratamento de resíduos com larvas de mosca soldado-negro, assim como da aplicação dos produtos gerados nestes processos, visando a promoção da economia circular e o aumento da sustentabilidade do setor produtivo como um todo.

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