Uma série de inovações relacionadas a tecnologia, seja de produtos (probióticos, ácidos orgânicos, aditivos naturais, enzimas, etc.) como de equipamentos (alimentadores automáticos, bombas de despesca e transferências) contribuíram e devem continuar contribuindo para carcinicultura brasileira nos próximos anos. Mas apesar disso, é cada vez mais comum encontrarmos problemas de produção nas fazendas, originados pela falta de critérios técnicos ou negligência de conceitos básicos.
A proposta desse artigo é relembrar alguns processos técnicos que foram importantes no passado, desde o preparo dos viveiros, passando pela checagem e recepção de pós-larvas e manejo nutricional, e fazer um alerta sobre a ausência deles no presente, sob a alegação de comodidade que o uso de alguns produtos pode gerar, e suas consequências futuras.
Preparo dos viveiros
No início dos anos 2000, era comum nas fazendas mais organizadas, após uma despesca, realizar preparos mais aprofundados do solo, desde: a leitura e correção do pH, análise de matéria orgânica, revolvimento e tempo de secagem do solo. A partir de 2004-2006, com a chegada dos probióticos, ocorreram contribuições significativas e indiscutíveis ao longo dos anos, como melhoria de qualidade solo (diminuição de matéria orgânica), água (melhor convivência com nitrogenados) e nutricional (colonização de bactérias benéficas), tanto ao longo, como pós-cultivo.
Figura 1 – Solo com excesso de M.O.
Figura 2 – Solo revirado e seco.
Ocorre que essa contribuição ao longo dos anos, ocasionou parcialmente por parte do produtor uma acomodação durante o processo de preparo dos viveiros, colocando o probiótico como todo, e não como parte do processo, e isso tem causado alguns inconvenientes na produção, principalmente relacionados a enfermidades (Figura 3). O alerta para essa situação é que mesmo com uso de probióticos, os fundamentos e etapas técnicas de preparo, se fazem necessários para a liberação do viveiro para o ciclo seguinte.
Figura 3 – Doença proveniente de solos com alta M.O, conhecida como Soldier Cap (Capacete de soldado).
Checagem e recepção de pós-larvas
Nos anos dourados da carcinicultrura brasileira, era comum antes dos povoamentos. Observar a presença de técnicos de fazendas em larviculturas, sempre um dia antes do embarque das pós-larvas.
A realização de avaliações microscópica do lote, bem como acompanhar as condições de embarque das pós-larvas (fatores como: contagem, temperatura, tamanho das pós-larvas, desenvolvimento, tipo de alimento) eram ações de rotina que partiam das fazendas sempre antes dos povoamentos.
Atualmente, esse comportamento não é mais visto na indústria, muitas vezes a argumentação é de que existe uma “confiança” com o laboratório, no sentido de que a responsabilidade é 100% do laboratório, mas renunciar a uma etapa tão fundamental no processo inicial do cultivo, pode ser determinante para o sucesso do cultivo.
Tabela 1 –Critérios para Avaliação de pós-larvas de camarão. (Costa, 2010).
Como consequência da ausência de acompanhamento, não é incomum observar relatos e registros na recepção de pós-larvas no campo, que chegam em condições de péssima qualidade para o povoamento. E os principais motivos são: falta de alimento adequado, situações adversas no transporte ou até mesmo lotes de má qualidade. (Figura 4 e Figura 5).
Por isso, se faz necessário o registro das condições de chegada de cada lote (Tabela 2), dessa maneira, o técnico da fazenda consegue rastrear as condições das pós-larvas no povoamento.
Figura 4 – Pós-larvas sem pleópodes.
Figura 5 – Pós-larvas sem pereópodes.
Tabela 2 – Modelo de score de qualidade de um lote de pós-larvas.
Outro alerta importante de início de cultivo, diz respeito as aclimatações, processo que tem mudado muito ao longo dos anos. Detalhes sobre: velocidade e percentuais de trocas de água durante o povoamento, falta de leitura ou leituras incompletas dos parâmetros e ausência de testemunhos para avaliação e verificação das pós-larvas do povoamento, podem ser ações decisivas para o sucesso de um bom povoamento.
Manejo Nutricional
Entre o passado e o futuro quando falamos sobre manejo nutricional, no que diz respeito as formulações de rações, ocorreram muitas mudanças. As rações para camarões atualmente, incorporam na sua composição bem mais aditivos que no passado, mas nem sempre é possível observar um reflexo na mesma proporção de para os desenvolvimentos dos animais, por quê?
A oferta de alimento ao longo do ciclo é um verdadeiro quebra-cabeça, que se não for bem montado, dificilmente se observara resultados expressivos. Existem minuciosidades importantes durante esse processo, que devem ser constantemente usadas, como, por exemplo: a avaliação de perda de nutrientes por lixiviação, o uso do truck como ferramenta de precisão para inserção de ração nas bandejas, a escolha do tamanho do pellet conforme o tamanho do camarão, são algumas delas. A constante análise em cima da ração, permite ao produtor uma maior previsibilidade de comportamentos. (Figura 6, Figura 7)
Figura 6 – Apresentação do Truck.
Figura 7 – Ração com diferentes tamanhos de pellets.
Conclusão
O futuro da nossa atividade, no que se diz respeito a parte de produção nos apresenta muitas opções e perspectivas, principalmente no tocante ao uso de produtos e equipamentos, mas nunca é demais lembrar que os detalhes técnicos precisam andar lado a lado com as inovações. É a parte técnica que vai fazer a diferença, sem ela o melhor remédio pode virar o pior veneno.
Autor: Diego Maia Rocha - Sócio-Diretor Synbiaqua Cultivos Aquáticos - Natal, RN - diegomaiarocha@synbiaqua.com.br
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