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Gestão de Resíduos
01 de Junho de 2023 Ivã Guidini Lopes
O potencial do aproveitamento de resíduos de macroalgas no Brasil

 

 

 

 

A aquicultura brasileira é muito diversa e seu potencial de crescimento não se limita à criação apenas de peixes e camarões, mas também de outros organismos aquáticos, como as macroalgas. No último relatório da FAO, a produção mundial estimada de algas foi de quase 36 milhões de toneladas, com o Brasil representando uma pequena parcela desse total. Esses organismos são muito interessantes no que diz respeito à qualidade nutricional, possuindo baixo teor de gordura mas alguns ácidos graxos essenciais como omega-3 e 6, vitaminas (A, C, E e B12), dibras e antioxidantes. Mais do que isso, algas são largamente exploradas em outras indústrias, seja na produção de carragena, ágar e compostos ativos na produção de cosméticos por exemplo. Mas o que as algas tem a ver com gestão de resíduos?

Um dos grandes desafios para a produção brasileira de alimentos está na superação da forte dependência que temos por fertilizantes, abundantemente importados para o país. Esse será o tópico de um artigo futuro aqui nesta coluna, no qual discutiremos o assunto em detalhes. No entanto, tanto a produção quanto a gestão de resíduos das macroalgas se relacionam diretamente com o assunto. Vamos entender essa relação por meio de dois exemplos nesse artigo: o primeiro referente à produção de uma alga conhecida no Brasil, a Kappaphycus alvarezii, fonte de carragena e outros produtos; já o segundo diz respeito ao aproveitamento de abundantes resíduos de macroalgas nos litorais e rios brasileiros.

 

 

 

 

A macroalga K. alvarezii pode ser produzida em redes tubulares de baixo custo e cresce em um ritmo bastante acelerado nas águas quentes da costa brasileira, especialmente no Nordeste do país. Após sua colheita, a alga pode ser processada para extração dos compostos de interesse. Dentre estes compostos, está um extrato líquido das algas de fácil produção, normalmente utilizado como fertilizante orgânico, o qual possui composição muito interessante de compostos bioativos que estimulam o crescimento e a proteção das plantas, nomeadamente bioestimulantes, dentre eles aminoácidos e fitohormônios. Além disso, o “bagaço” que sobra após o preparo do fertilizante líquido é uma biomassa rica em nitrogênio e potássio, podendo ser facilmente compostada e assim transformada em um composto orgânico muito rico em nutrientes e outros compostos.

 

Prefeitura Municipal Pereira Barreto SP

 

O segundo caso é algo muito conhecido dos brasileiros. Em muitos rios e também ao longo de toda a costa brasileira, é normal observarmos o acúmulo de diferentes espécies de macroalgas ao longo do ano. Nesses locais, os municípios coletam as algas em decomposição e normalmente às destinam aos aterros sanitários, medida completamente insustentável e que contribui para a emissão de diversos gases de efeito estufa. Diversas alternativas foram propostas para a gestão desses resíduos e aproveitamento desta biomassa rica em nutrientes, como por exemplo o aproveitamento energético por combustão dos resíduos e também a compostagem. Enquanto a primeira opção dependeria de fluxos constantes e volumes suficientes para suprir uma produção constante de energia, a segunda opção se torna mais viável pois as algas servem como fonte suplementar em plantas de compostagem. Diversos estudos comprovaram os grandes benefícios de utilizar algas na compostagem de diferentes resíduos, como o aumento da concentração de nitrogênio e potássio no composto final, maior abundância de microorganismos benéficos e estabilização da matéria orgânica do composto, aumentando sua maturidade e garantindo excelentes resultados quando aplicado na agricultura. Vale lembrar que os resíduos de algas não podem ser compostados sozinhos, mas sim em combinação com outros resíduos que contribuem para a estrutura da montagem das leiras, como materiais secos (clique aqui para ler um estudo interessante sobre o assunto).

 

 

 

 

A composição de macroalgas, sejam elas derivadas diretamente da produção aquícola, do processamento dos organismos ou de coletas em praias e rios, é sempre muito rica e com grande potencial para utilização. É possível aproveitar esses resíduos e devolver nutrientes nele existentes para a natureza, promovendo assim a sustentabilidade de maneira simples e eficaz!

 

Autor: Ivã Guidini Lopes - Doutor em Aquicultura Pesquisador na Swedish University of Agricultural Sciences ivanguid@gmail.com

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Ivã Guidini Lopes

Ivã Guidini Lopes é biólogo, formado pela UNESP de São José do Rio Preto/SP, realizou mestrado e doutorado em aquicultura pelo Centro de Aquicultura da UNESP, em Jaboticabal/SP. Atua na aquicultura desde 2014, realizando pesquisas científicas e práticas de extensão aquícola na área de gestão e tratamento de resíduos sólidos orgânicos. Possui experiência com métodos de compostagem termofílica e de tratamento de resíduos com larvas de mosca soldado-negro, assim como da aplicação dos produtos gerados nestes processos, visando a promoção da economia circular e o aumento da sustentabilidade do setor produtivo como um todo.

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