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Extensão Rural e assistência técnica aquícola
22 de Maio de 2023 Rui Donizete Teixeira
Extensão Aquícola - prioriza a orientação ao aquicultor para gerenciar o negócio

 

 

 

 

Tem sido observada nos empreendimentos rurais aquícolas, principalmente nos pequenos e parte dos médios produtores, a ausência ou deficiência de controle no empreendimento e na administração financeira e comercial de suas atividades. Essa situação é preocupante, levando em consideração o avanço do desenvolvimento sustentável dessa atividade.

Essa deficiência já se inicia nas instalações da produção primária, com a falta de informações técnicas. Geralmente, não há controle da produção, como, por exemplo, a falta de dados quantitativos do plantel existente e a ausência de avaliação mensurável (em volume kg) da biomassa de organismos aquáticos presentes nos tanques. Via de regra, não há medição periódica da água de cultivo, como temperatura, teor de oxigênio e concentração de amônia. Além disso, não são feitas medições do volume diário de ração fornecida, entre outros pontos necessários e vitais para o cultivo. Enfim, falta o básico, que são essas medições fundamentais não realizadas. Tais deficiências refletem nos resultados econômicos da propriedade, causando baixa efetividade na produção e, como consequência, aumento dos custos.

Em qualquer negócio, um princípio básico é que, sem informações, não é possível realizar uma boa administração. Sem as informações necessárias, o produtor trabalha com suposições e não possui dados precisos. A falta de conhecimento sobre informações básicas, como o tamanho do plantel, o volume (em kg) de biomassa e o volume de ração utilizado, impede que o produtor saiba qual é o seu custo real. Essa situação, ironicamente, impede que o produtor faça uma proposta de venda adequada para a matéria-prima produzida, o que impossibilita garantir uma porcentagem justa de lucro pelo seu trabalho.

Isso leva a conjecturas e, às vezes, o produtor desconfia de que não está obtendo lucratividade e chega até mesmo a questionar se essa atividade é viável. Ironicamente, ele não consegue saber se obteve lucro devido à falta de controle, e pode até mesmo ocorrer roubo da sua produção sem que o aquicultor tenha conhecimento. Isso impede que se obtenham ganhos reais e justos com a atividade, além de impossibilitar a implementação de medidas corretivas e preventivas por desconhecer se os custos estão elevados ou se é necessário melhorar a eficiência da produção.

Essa situação tende a ser um obstáculo para o sucesso do pequeno produtor. À primeira vista, essas limitações parecem simples de serem superadas, porém, na prática, observa-se que geralmente o produtor não tem uma visão clara do seu negócio e já começa com falta de controle, desconhecendo o que deixa de fazer e tampouco sabendo quanto gasta com insumos, como ração, aquisição de alevinos e outros materiais e utensílios utilizados no empreendimento. É preciso que o produtor avalie e busque "colocar na ponta do lápis" os dados, e esse exercício é exatamente o que falta: o hábito de coletar, com disciplina e periodicidade, as informações importantes que ele precisa controlar.

O produtor precisa primeiro reconhecer que isso é uma necessidade e, como tal, é importante realizar esse controle. Além disso, é necessário tentar descrever todos os custos e todas as fontes de renda, sendo a principal a venda do pescado, entre outras.

O desafio é sensibilizar e motivar o produtor nesse sentido. Outro ponto importante é que tudo aquilo que gera trabalho deve ser remunerado. O produtor deve considerar e incorporar os custos fixos e variáveis. Ele precisa perceber que tem uma conta simples, porém cruel: "(-)débito (+)crédito = +>1". Portanto, o valor produzido e vendido deve ser sempre superior ao que ele gasta (custos), e obviamente deve haver um saldo positivo.

Sem dúvida, é um princípio absurdamente simples. No entanto, aqueles que não possuem nenhum controle, ou mesmo aqueles que possuem um certo controle parcial, mas percebem que não é suficiente. Como resultado, eles não conseguem monitorar adequadamente e, às vezes, não entendem por que não estão obtendo lucro ou por que não têm uma renda digna. Isso cria dificuldades em sua compreensão.

Como consequência, o produtor perde a disposição para continuar. Esse é um fato extremamente importante e cruel, que exige atenção e sensibilidade dos órgãos de extensão, como organizações de produção, cooperativas e associações, que precisam buscar soluções para amenizá-lo. A busca por ações mais eficientes para a melhoria da produção deve ser um objetivo fundamental para essa importante cadeia produtiva.

Frente às situações descritas, tem havido mudanças, ainda que lentas e graduais, na relação entre a produção aquícola e a gestão dos negócios. Nesse contexto, os meios de comunicação, como televisão e celular, têm desempenhado um papel importante ao fornecer informações e orientações para o campo. Alguns produtores estão desenvolvendo um melhor entendimento da atividade que exercem e estão estabelecendo uma relação direta com a forma como gerenciam suas propriedades, especialmente no aspecto econômico.

Em qualquer atividade, seja no meio urbano ou rural, é fundamental priorizar a gestão do negócio, pois somente dessa forma o setor terá perspectivas de melhoria e oportunidades para ampliar e crescer. Em outras palavras, é necessário ter um plano de desenvolvimento que permita expandir o negócio. Esse tem sido o grande desafio para os produtores rurais, já que uma parte do setor apenas sobrevive e não cresce. Dentro desse contexto, fica evidente que os aquicultores precisam focar no básico, ou seja, ter controle e noção de como realizar as tarefas mais simples.

Existe um conceito interessante na aquicultura, que é o fato de o produtor "cultiva água" em vez de simplesmente "produzir organismos aquáticos". Se a água estiver sob controle, isso terá um impacto positivo na produção. No entanto, se houver algum problema no ambiente aquático, isso refletirá negativamente na produção, resultando em baixa produtividade. Na prática, observa-se que muitos produtores não medem os parâmetros físico-químicos da água de cultivo, que são fundamentais para o controle da qualidade da água na piscicultura. Alguns exemplos desses parâmetros incluem temperatura, oxigênio dissolvido, amônia, cor, transparência e pH, entre outros. Esse é um ponto crucial para qualquer aquicultor, que precisa ter disciplina e cuidado, realizando medições periódicas dos parâmetros mínimos da água onde os organismos aquáticos estão presentes, além de fazer amostragens da biomassa por tanque.

 

 

 

 

Essas são medidas mínimas que o aquicultor deve adotar, e esses procedimentos não exigem muita técnica, apenas um aprendizado simples para realizar as medições corretamente. Se forem executados adequadamente, os resultados serão imediatos, fornecendo uma visão quase em tempo real do estado da produção. Isso auxilia na tomada de decisões, principalmente quando os parâmetros estão fora dos padrões, permitindo a implementação de medidas preventivas e/ou corretivas para retornar à normalidade.

O que se observa é que empreendimentos sem tecnologia e sem controle enfrentam custos mais altos e margens reduzidas, o que dificulta as vendas, pois o produtor acaba repassando esses custos adicionais aos compradores, que não desejam pagar a mais. Essa situação leva o produtor a reclamar do mercado, alegando que os custos estão elevados e que não consegue repassá-los.

Nessa situação, fica evidente que o produtor precisa buscar eficiência, e a assistência técnica desempenha um papel fundamental nesse processo. Ao fornecer orientações e informações técnicas, bem como difundir inovações tecnológicas, a assistência técnica tem um impacto positivo nos resultados do empreendimento, promovendo maior eficiência, produtividade, redução de custos e antecipação nos ciclos de produção.

 

Projeto Multiplicadores

 

Com base no princípio da boa governança, que envolve a parceria entre os setores público e privado, o órgão federal responsável pelas políticas públicas para o setor aquícola desenvolveu o "projeto multiplicadores" destinado aos agentes públicos.  O departamento técnico perceberam a importância de capacitar e difundir informações sobre o "negócio da Aquicultura", para que os agentes públicos compreendam como essa atividade funciona e possam orientar e apoiar o setor aquícola com base nesses conhecimentos.

A equipe técnica compreendeu essa necessidade e desenvolveu o projeto denominado Multiplicadores. O objetivo principal desse projeto é capacitar agentes públicos concursados, por meio de aulas à distância (EAD), proporcionando-lhes conhecimento sobre o negócio aquícola. O foco não está em ensinar como criar organismos aquáticos, mas sim em fornecer informações sobre como funciona o setor aquícola como um negócio e quais são os elementos essenciais para que os produtores possam gerir suas atividades de forma economicamente eficiente.

Ao adquirir esse conhecimento, os agentes públicos estarão aptos a orientar os produtores sempre que necessário, visando o sucesso na produção e na gestão financeira de suas atividades. Essa iniciativa simples do governo destaca importantes condicionantes da administração pública, como o princípio da economicidade e o princípio da eficiência. Pois este material áudio visual, tem um custo (baixo), e os benefícios resultantes dessa ação são significativos, com um impacto positivo que pode ser gerado em toda a cadeia produtiva da aquicultura.

 

Exemplos de Iniciativa – SENAR.

 

Um exemplo de iniciativa nesse sentido é o trabalho realizado pelo SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural). Tradicionalmente, essa entidade tem se dedicado à capacitação de técnicos e produtores rurais. No entanto, a entidade percebeu que ensinar e difundir novas técnicas de produção não era suficiente para garantir o sucesso dos empreendimentos, mesmo que houvesse melhorias nos resultados de produção.

Por isso, o SENAR tem desenvolvido, há alguns anos, um trabalho de promoção de cursos de capacitação e treinamento para produtores e técnicos rurais, tanto presenciais quanto à distância (EAD), com foco na gestão do negócio rural. Esses cursos, tem sido baseados no Programa Negócio Certo Rural (NCR), e abordam temas: “Como administrar o negócio no meio rural”, incluindo aspectos relacionados à atividade econômica, escoamento e comercialização da produção, além de estratégias para alcançar os objetivos desejados.

O competente diretor-geral do SENAR, Daniel Carrara, um dos idealizadores dessa nova ferramenta de capacitação, afirmou recentemente com propriedade: "Só se faz a inserção econômica desses agricultores (produtores rurais) por meio da transferência de tecnologia, gestão e força de trabalho" - Daniel Carrara, SENAR.

 

Os órgãos de Extensão Estaduais estão evoluindo nas necessidades do produtor.

 

Observa-se que alguns desses órgãos, motivados pelos técnicos mais envolvidos com a aquicultura em seus estados, estão orientando os produtores também na área econômica e na gestão de seus negócios rurais. Essa conscientização tem sido resultado de um trabalho realizado pelos técnicos e órgãos de extensão, que identificaram a carência de informações dos produtores sobre como administrar economicamente seus empreendimentos aquícolas.

Com base nisso, tem-se promovido levantamentos de custos e renda das propriedades, melhorando assim o entendimento do produtor em relação à administração do negócio da aquicultura. É fundamental que o produtor compreenda a necessidade de ter esse entendimento e de realizar um controle, estando ciente de que a aquicultura é, antes de tudo, uma atividade econômica. É importante reconhecer que os extensionistas, profissionais responsáveis por essa orientação técnica, desempenham um papel fundamental para o futuro dos empreendimentos rurais. Existe o risco de os aquicultores desistirem de suas atividades caso haja uma diminuição na rentabilidade da produção, muitas vezes devido a pequenos detalhes que não foram considerados.

A diminuição da rentabilidade na produção pode levar o aquicultor a desistir de sua atividade, muitas vezes por pequenos detalhes que não foram atendidos. Portanto, essa tendência de fortalecimento da extensão rural e assistência técnica no campo sinaliza uma evolução significativa, trazendo grandes benefícios para os produtores, que se tornam mais eficientes e têm uma melhor compreensão dos custos e rendimentos, refletindo positivamente na área econômica de suas atividades. Portanto, os profissionais extensionistas desempenham um papel preponderante na própria sobrevivência dos produtores rurais.

Essa tendência no setor de extensão rural e assistência técnica indica uma evolução no campo e, se for bem orientada, traz grandes benefícios para os produtores. Eles se tornam mais eficientes, adquirem uma melhor compreensão dos custos e rendimentos, o que reflete diretamente na área econômica de suas atividades. Isso tende a tornar as atividades mais rentáveis e desperta um maior interesse em expandir o negócio, o que gera mais empregos e renda na região.

Portanto, é importante considerar a busca pela eficiência e redução de custos na produção do setor primário, pois isso certamente terá impacto ao longo da cadeia produtiva, no custo final da matéria-prima e na margem de lucro que pode ser obtida.

Destaca-se a iniciativa de abnegados extensionistas, como o médico veterinário Jorge de Matos Casaca, da Epagri-SC, com mais de 40 anos de experiência na aquicultura; e a competente extensionista da Prefeitura de Joinville, Fernanda Queiroz. Em um trabalho conjunto, eles pacientemente tem coletado dados e, periodicamente, publicam um Boletim com informações e resultados econômicos estratégicos na área de Economia Aquícola, especialmente da aquicultura catarinense. Esses materiais se tornaram uma referência e fonte de consulta para os produtores.

 

 

 

 

O objetivo principal desse artigo, é ressaltar os desafios enfrentados por essa importante cadeia produtiva: como gerenciar sua atividade de forma a obter uma renda digna, que remunere adequadamente os esforços do aquicultor, pelo laboral do seu trabalho e permita a continuidade de suas atividades.

Todo Aquicultor, precisa se capacitar para “Gestão de seu Negócio”, pois isso é fundamental para o sucesso de sua atividade econômica no meio rural, sendo vital para sua própria sobrevivência nesse ramo.

 

Autor: Rui Donizete Teixeira é Médico Veterinário, formado pela Universidade Federal de Uberlândia-MG, possui especialização em Tecnologia e Inspeção de alimentos pela UFLA-MG. Desde de 1983 (40 anos) atua na Aquicultura, dos quais 15 anos iniciais no setor privado em uma empresa de Aquicultura (gerente de produção e da indústria de processamento de pescado); e 25 anos no setor público (área de inspeção de pescado, setor de ordenamento e gestão da aquicultura). Foi professor em Faculdade de Veterinária por 6 anos. Autor de dezenas artigos e publicações, inclusive internacionais, relacionadas a cadeia produtiva da aquicultura; a Extensão Aquícola; o Bem Estar Animal Aquícola; de Estabelecimento de Indústria de Pescado; de Mercado de Pescado e Competitividade. Atualmente assessor técnico do Ministério da Pesca e Aquicultura-MPA.

 

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Rui Donizete Teixeira

Rui Donizete Teixeira é Médico Veterinário, formado pela Universidade Federal de Uberlândia-MG, possui especialização em Tecnologia e Inspeção de alimentos pela UFLA-MG. Desde de 1983 (40 anos) atua na Aquicultura, dos quais 15 anos iniciais no setor privado em uma empresa de Aquicultura (gerente de produção e da indústria de processamento de pescado); e 25 anos no setor público (área de inspeção de pescado, setor de ordenamento e gestão da aquicultura). Foi professor em Faculdade de Veterinária por 6 anos. Autor de dezenas artigos e publicações, inclusive internacionais, relacionadas a cadeia produtiva da aquicultura; a Extensão Aquícola; o Bem Estar Animal Aquícola; de Estabelecimento de Indústria de Pescado; de Mercado de Pescado e Competitividade. Atualmente assessor técnico do Ministério da Pesca e Aquicultura-MPA.

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Charge Edição nº Publicado em 18/09/2023
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