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05 de Maio de 2023 Fernanda Queiróz e Silva
Mulheres na aquicultura BR

 

 

 

Olá, pessoal! Fazer parte do time da Aquaculture Brasil é um presente que recebo com um grande sorriso! Posso dizer para vocês que este, era sim, um sonho, ser uma das colunistas da AB, e gostaria de agradecer pelo espaço e pela confiança de toda equipe Aquaculture Brasil; sinto-me muito feliz em estar aqui, fazendo parte deste grande time! Sigo aqui com muito comprometimento, responsabilidade e dedicação!

Permitam-me apresentar: sou Fernanda, catarinense, oceanógrafa e atuo em campo, diretamente com assistência técnica e extensão rural a pequenos e médios piscicultores no Município de Joinville. E é de lá, do campo, que prometo buscar inspiração para os próximos temas desta coluna. 

A escolha do primeiro tema é um movimento que vem ganhando mais força a cada dia, com o intuito de dar maior visibilidade e valorização da atuação feminina:  o grupo “Mulheres Aquicultura BR”. 

Vamos aos dados, as mulheres participaram em 13,3% no agronegócio no ano passado no Brasil; na América Latina são cerca de 20% e, em alguns países da África e Ásia, são mais de 50%. São 16,2% do contingente empregado no agronegócio no Brasil; estão em 34% dos cargos de liderança nas fazendas e, na pecuária, são 17% do trabalho empregado da porteira para dentro das fazendas. 

Segundo a FAO, a participação das mulheres na aquicultura artesanal de pequena escala na América do Sul foi de 17% em 2022, ou seja, cerca de 7.300 mulheres. Estes dados podem estar subestimados, devido à informalidade que sabemos que ocorre na atividade, afetando diretamente a visibilidade das mulheres no setor. No site do Observatório das Mulheres Rurais do Brasil, iniciativa da EMBRAPA em parceria com a FAO e o MAPA, há dados comparativos dos anos de 2006 versus 2017, onde o dado sobre gênero e aquicultura está na estatística: número de estabelecimentos rurais dirigidos por mulheres em 2006 era de apenas 880 e, em 2017, aumentou para 2.100. E onde mais estão os dados sobre as mulheres no setor?

O grupo “Mulheres Aquicultura BR” foi criado no início de 2021 no WhatsApp por três piscicultoras: Ofélia Maria Campigotto (SC), Kátia Mastrotto (SP) e Vera Lúcia de Oliveira (SP), cujo objetivo principal era união, troca de informações, divulgar eventos, cursos e ações sobre o setor e, até mesmo, buscar oportunidades de trabalho. Mas, a cada evento de aquicultura, a cada mês, ele foi (e vem) ganhando mais amplitude e capilaridade por todo o Brasil. A cada nova integrante do nosso grupo dávamos as boas-vindas e pedíamos para que ela se apresentasse, e assim fomos sentindo a grandiosidade e a preciosidade desta união.

No ano passado, observamos a necessidade da obtenção de dados sobre a atuação das mulheres na aquicultura brasileira, além de querermos conhecer melhor o perfil de cada uma das participantes do grupo, quase como que um raio-X, e, foi então, que decidimos criar um formulário (Google Forms). O formulário foi compartilhado pelas redes sociais (WhatsApp, Facebook e Instagram) desde junho de 2022 e recebeu, até o início do mês de abril de 2023, 355 respostas. Ele continua aberto, pois sabemos que somos muito mais do que 355 mulheres atuando nos diferentes setores da Aquicultura Brasileira. 

Compartilho com vocês um resumo do perfil das “Mulheres Aquicultura BR”, tema de apresentação no X Aquaciência, cujas autoras são Letícia Fernanda Baptiston, Márcia Regina Fragoso Machado Bussons e eu.

 

Grande parte das mulheres, mais de 66% das respostas, tem de 26 a 45 anos de idade (39,7%, de 26 a 35 e, 26,8%, de 36 a 45); 14,6%, têm de 18 a 25 anos, 10,1%, de 46 a 55, 7%, de 56 a 65 e, 1,7%, de 66 a 75 anos. Quando perguntadas sobre qual Estado moravam, houve respostas de todos os Estados, à exceção do Acre. São 21,1% de São Paulo, 17,2% de Santa Catarina, 10,4% do Paraná, 5,6% de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul. O nível de escolaridade dessas mulheres é de 29% em graduação, 21,7% em mestrado, 17,7% em doutorado, 13% em especialização, 11,3% em pós-doutorado, 6,2% em ensino médio e 1,1% possuem ensino fundamental. Cerca de 22% das mulheres que responderam o questionário trabalham de cinco a dez anos com aquicultura, 16,1% de três a cinco anos, 15,8% de dez a quinze anos, 14,6% de um a três anos, 12,1% a menos de um ano, 8,2% de vinte a trinta anos, 7,6% de quinze a vinte anos e 3,9%, ou seja, 14 mulheres, atuam há mais de trinta anos no setor. 

 

 

 

 

 

 

Ficou nítida a pluralidade na atuação no item “área de atuação” tivemos o somatório de 565 respostas de 355 mulheres, refletindo a complexidade, onde estas mulheres estão atuando em mais de uma área na atividade. As respostas com maior representatividade foram: 136 trabalham com pesquisa e ensino, 104 são piscicultoras, 84 estudantes, 79 atuam com assistência técnica e extensão rural, 30 com sanidade e diagnóstico de enfermidades e 29 com produção de formas jovens. Destas, 89% trabalham com piscicultura, 28,2% com carcinicultura, 11,5% com malacocultura, 8,7% com algicultura, 4,8% com ranicultura e 2% com herpetocultura (répteis), atuando amplamente com diversos organismos na aquicultura. 

Temas sensíveis também foram abordados no questionário, alguns meses depois que o formulário foi compartilhado, por sugestão, algumas mulheres viram a necessidade de adicionar duas perguntas: se já tinham sofrido preconceito no trabalho por ser mulher e se já tinham sido assediadas em ambiente de trabalho (moral ou sexualmente). De ambas questões obtivemos até o início de abril 224 respostas, onde 75,4% das mulheres já sentiram preconceito e 54,5% já foram assediadas em ambiente de trabalho. Estas questões são bastante delicadas, mas comportamentos com estes não devem mais ser normalizados e, tampouco, invisibilizados.

As três questões finais eram discursivas, a primeira delas versava sobre quais as principais mudanças que observaram no setor durante os anos de atuação.  e 26,8% das respostas foram aumento tecnológico, 20% sobre a maior atuação das mulheres no setor, 18,8% sobre o crescimento da atividade e 6,8% sobre sanidade, dentre outras mudanças, em um total de 264 respostas.

Questões de gênero foram destaque quando as mulheres foram perguntadas sobre qual o maior desafio na atuação profissional, houve 170 respostas: 25,8% indicaram o machismo, 23,5% sobre dificuldade no mercado de trabalho, 19,4% desrespeito e 3,5% liderança, dentre outros aspectos. Conversando com muitas mulheres e homens que trabalham no setor pude observar com este tipo de comportamento é normalizado por todos nós e como é importante trazermos à tona para o diálogo.

Nos demos conta de que as respostas colhidas podem ser transformadas em ferramentas para identificar e minorar as desigualdades e obstáculos enfrentados por algumas das mulheres que trabalham na aquicultura no Brasil. 

Segundo a FAO, é indispensável olhar com atenção para a atuação das mulheres em toda a cadeia de valor da aquicultura para a elaboração de modelos de gestão com enfoque em gênero, que proporcionem visibilidade e valorização de suas atividades. Aumentar o reconhecimento do papel das mulheres e sua participação nas tomadas de decisão é fundamental para o desenvolvimento sustentável da aquicultura, reforçando o objetivo para o desenvolvimento sustentável ODS 5 da Agenda 2030 da ONU “igualdade e equidade de gênero”.

Importante deixar claro aqui que, este movimento do grupo das mulheres não está contra ninguém! O que se pretende é dar mais visibilidade para os diferentes papéis das mulheres no setor, buscando representatividade, com oportunidades de trabalho e salários dignos, aumentar a participação em tomadas de decisão e, principalmente, respeito no ambiente de trabalho. 

Sabemos que há muitas vantagens quando se trata da multidisciplinaridade nas equipes, pois há habilidades e competências interpessoais nas quais as mulheres se destacam, cada qual com seu talento. Estatísticas revelam que as empresas têm aumento de 15% na performance quando investem em diversidade de gênero nas equipes.

E quais são os próximos passos? A formalização do grupo “Mulheres Aquicultura BR” para sua estruturação, maior fortalecimento e visibilidade de todas as mulheres que atuam no setor, criando novas oportunidade de trabalho, cargos de liderança e representatividade para, até mesmo, podendo ser determinante para a elaboração de políticas públicas. 

Espero que você, mulher, tenha se sentido representada com as informações deste artigo e que você, homem, tenha o olhar mais generoso e atento sobre a questão de gênero, reconhecendo a importância do papel feminino na aquicultura.

 

 

 

 

Somos muitas, múltiplas, plurais e competentes, cada uma em sua área de atuação. Merecemos respeito, queremos visibilidade e oportunidades para amplificarmos ainda mais a nossa voz. Lembrando que, competência não é questão de gênero! 

Você, mulher, contribua com essa pesquisa acessando e divulgando o formulário, que está na descrição da bio no perfil do Instagram @mulheresaquiculturabr ou clique aqui e faça o download.

Até a próxima!

Fernanda Queiróz e Silva – Técnica em Aquicultura, UDR-SDE – Joinville-SC.

 

 

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Sou a Fernanda, catarinense, oceanógrafa e atuo em campo, diretamente com assistência técnica e extensão rural a pequenos e médios piscicultores no Município de Joinville. E é de lá, do campo, que prometo buscar inspiração para os temas desta coluna. 

Fernanda Queiróz e Silva – Técnica em Aquicultura, UDR- SDE – Joinville-SC.

Contato: peixeeomeunegocio@gmail.com 

 

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Charge Edição nº Publicado em 18/09/2023
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