Colunas
Extensão Rural e assistência técnica aquícola
10 de Abril de 2023 Rui Donizete Teixeira
História exitosa da Extensão Aquícola do Paraná

Nas colunas anteriores, descrevi as fragilidades da Extensão Rural Aquícola no Brasil. Na última coluna publicada, abordei o exemplo de sucesso de um órgão de Extensão Rural Estadual, no Estado de Santa Catarina. Agora, nesta coluna, apresentarei outra história exitosa sobre a Extensão Rural e Assistência Técnica, desta vez no Estado do Paraná, que alcançou a condição de maior produtor de Tilápia do país.

 

 

 

 

Para uma melhor compreensão, apresentarei, inicialmente, um resumo cronológico da linha do tempo, a saber:

Em 1956, iniciou-se a história da Extensão Rural no Paraná, com a instalação do Escritório Técnico de Agricultura (ETA) – Projeto 15, por meio de um convênio firmado entre os governos paranaense (Brasil) e norte-americano(EUA). Objetivo básico era melhorar a produtividade da agricultura Paranaense.

Em 1959 o projeto ganhou corpo e transformou-se em uma instituição: ACARPA - Associação de Crédito e Assistência Rural do Paraná, que consolidou o serviço de assistência técnica e extensão rural no Estado do Paraná.

Em 1975 o Secretário Executivo Adjunto da ACARPA, Rubens de Moura Rezende, tendo um perfil visionário e determinado, e sensibilizado com a delicada situação da Pesca Artesanal em seu Estado, estabeleceu como prioridade dentro da sua gestão nesta entidade e assim criou um "Plano de Assistência à Pesca Artesanal" denominado de "PESCART".

Mas para que entidade pudesse executar este Plano com eficiência e tocar as ações, identificou-se ser necessário contratar profissionais de formação nesta área. Assim, inicialmente, selecionaram-se 5(cinco) engenheiros de Pesca para formar a equipe técnica que daria atendimento aos pescadores do litoral paranaense, segmento este que evidenciava ser muito carente.

A partir de 1977 a Acarpa muda sua razão social para Emater-Paraná (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Paraná). A mudança não alterou a missão da empresa.

Em 2005, a Emater-PR transformou-se em autarquia, passando a chamar-se "Instituto Emater".

Em 2019, o Governo do Estado fez uma fusão dos serviços do Instituto Emater com outros órgãos do Estado criando o IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná-Sapar-Emater).

Início da Extensão Aquícola no Estado

O Projeto de Pesca e Aquicultura no Estado do Paraná, definiu-se que 4(quatro) Engenheiros de Pesca atuariam na extensão de pesca artesanal no litoral do Paraná, e um (1) Engenheiro de Pesca Jose Maria Moura Gomes atuaria em piscicultura nas comunidades agrícolas litorâneas.

Definido a ação de extensão no litoral Paranaense, inicialmente foram atendidos 3 piscicultores da colônia Quintilha(Paranaguá-PR), estes pioneiros no cultivo de tilápia, mesmo tendo alerta de profissionais não recomendando o cultivo desta espécie, devido a sua origem ser de região tropical na África, e diferente das condições climáticas temperadas do Paraná. Houve realmente perdas dos primeiros alevinos que vieram do Nordeste, mas persistiram no cultivo desta espécie apesar dos desafios climáticos, argumentando-se da capacidade do animal em se adaptar ao ambiente adverso do seu habitat.

Havia paralelamente também o cultivo de carpa no Estado, basicamente a carpa comum, e o fornecimento dos alevinos oriundo de 2(duas) estações de iniciativa privada, uma delas da região de Curitiba, e uma outra na região de Irati. Também obtidas de Centros de alevinos do Governo, como no oeste na estação do IAP, e da estação da Sudepe (Pirassununga) e da Estação do Café do Paraná. Com isto a criação da Carpa foi evoluindo.

Assim, seja no litoral do Paraná, como na região metropolitana de Curitiba, e oeste do Paraná difundiu-se os empreendimentos de piscicultura. Inclusive um produtor(piscicultor) do litoral iniciou a reprodução e comercialização de alevinos para toda a região. Ao mesmo tempo o técnico extensionista Jose Maria, passou a trabalhar em Itaipu, e avançou no processo de desova artificial (induzida).

Mas logo evoluiu para uma comercialização do excedente, principalmente na quaresma/semana santa, através de feiras de peixe, estendendo-se, sempre com a visão da extensão rural, em atender prioritariamente aos pequenos produtores e os mais carentes.

Em 1979 o órgão de extensão amplia suas ações de piscicultura, inicialmente no sul do Estado, deslocando um técnico para a região de Ponta Grossa, e outro para o Oeste do Paraná. Esta iniciativa teve como objetivo inicial de aumento de oferta (excedente) de pescado, para comercialização, pois a produção e o consumo de peixe em nível de propriedade, geralmente era de subsistência.

No início da década 80 a piscicultura do Paraná teve um grande avanço com a introdução do tilápia, com alevinos que foram trazidos do Nordeste. Foram introduzidos inicialmente no litoral, e depois distribuídos para outras regiões do Estado.

A migração da piscicultura para o oeste (inicialmente cidade de Toledo) do Paraná, foi motivada por algumas situações. Uma delas para resolver um desafio ambiental: Atividade de suinocultura estava iniciando muito forte em sistema de integração no Estado do Paraná, mas: - o que fazer com dejeto da suinocultura naquela região? Havia um problema de ponto vista ambiental, identificaram esta situação e como solução iniciaram a criação de tilápia. Mas o sistema de consorcio suíno-peixes, com o tempo foi sendo ajustado para uma sistema de produção específico e tecnicamente mais apropriada.

Houve outros projetos frustrados com a produção da tilápia, como o de rizipiscicultura (consorciação do cultivo de arroz com tilápia nas várzeas alagadas), considerado um período de experimentação apenas. Em 1983, surgiram os primeiros produtores de alevinos no setor privado, o que contribuiu para tecnologia da produção de tilápia deslanchar no Paraná.

Neste início foi fundamental alguns técnicos pioneiros, dos quais destaca-se o Gelson Hein – Médico Veterinário da Emater-PR; e os Engenheiros de Pesca Robert Gordon Hickson “Bob” e Taciano Maranhão, estes trouxeram os primeiros exemplares de Tilápia para a Região.

Havia também naquela promissora região do oeste do Paraná um trabalho que envolveu vários parceiros, com a participação dos produtores e técnicos motivados para piscicultura. Relacionados à alguns programas do Estado bem consolidados que foram fundamentais, com base em sustentabilidade, com financiamento inclusive de entidades internacionais, como o BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento e o BIRD - Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento, instituição ligada a ONU, Programas dos quais voltados a estruturação do solo; e direcionado ao manejo de solo.

Tais iniciativas foram fundamentais para a preservação das águas, pois os tanques de piscicultura, eram em baixadas, perto dos rios, portanto este processo de conservação foi vital para evitar riscos destes viveiros serem arrastados por chuvas e corredeiras de agua, contribuindo assim para sobrevivência destes empreendimentos aquícolas. Tais iniciativas tornaram-se Programas básicos e consolidados.

Interessante a estratégica do órgão de extensão. Quando a equipe técnica percebeu que precisavam ter um desenho da cadeia produtiva, das suas necessidades, baseado no expertise de outras atividades que foram implantadas naquela região, como a produção de banana, citricultura, uva, reflorestamento de Eucalipto, entre outros. Apesar de serem culturas de produção distintas, mas a história é semelhante. Assim, após uma análise, definiu-se que a Aquicultura seria a atividade escolhida.

E a aquicultura tornou-se o carro chefe da região. Mas inicialmente identificaram diversos desafios, dos quais deficiências de conhecimento com a nutrição dos peixes. Assim, convidaram alguns especialistas da área como Silvio Romero, João Campos, Gustavo Bozzano, Paulo Cicarelli, e o Geraldo Bernardino, estes do CEPTA, que promoveram a capacitação dos próprios técnicos da Emater, que se tornaram multiplicadores, que depois capacitaram os produtores, de forma pontual. Aos poucos técnicos existentes foram se auto treinando, com um longo aprendizado para piscicultura.

Outro ponto foi o avanço de produção de alevinos na região com diversos produtores, que com o tempo alguns foram se consolidando como forte fornecedores para a região. Isto favoreceu realmente a ter uma organização própria dos produtores de forma jovens, quase autossuficiente, contribuindo para setor se desenvolver e crescer.

Houve, avanço na genética, inclusive com importação de algumas linhagens, e melhorias consideráveis na produção, com maior precocidade do lote, de 2 anos passou para 1 ano o tempo para alcançar o tamanho de abate.

Inicialmente a seleção por sexo era feita por sexagem visual, e somente os machos selecionados iam para engorda. Depois avançaram na técnica de reversão sexual e com isto houve uma evolução da cadeia produtiva.

Nesta década tal atividade começou a ser implantada de forma efetiva no oeste do Estado, com o deslocamento do extensionista Jose Maria da ACARPA, que havia sido transferido para a região de Toledo, contribuindo na implantação do Centro de Pesquisa em Aquicultura Ambiental – CPAA, do IAP-Instituto Ambiental do Paraná.

Foi fundamental o surgimento deste Centro, que teve um papel estratégico de fomento para atividade da piscicultura na região oeste. Inclusive, pelo Centro estar dentro de um órgão ambiental estadual e este ter como analista ambiental um engenheiro de pesca altamente qualificado no seu quadro, isto permitiu uma maior celeridade aos processos de solicitação de licenciamento ambiental e até mesmo naqueles empreendimento pelo porte e impacto, que legalmente eram dispensados de licença.

Mesmo com as dificuldades na produção; com resposta zootécnica baixas; e demora para atingir o peso ideal em torno de até 2 anos para alcançar 700gr. Inclusive naquela época ainda não havia no país ração especifica para tilápia, e utilizavam ração de outros animais como de aves.

Outra motivo da implantação da piscicultura no Oeste do Paraná, após análise técnica e econômica identificaram ser uma opção de atividade para o aumento de renda dos produtores, após a crise do Algodão (Cotonicultura) na região, que simplesmente acabou. Por exemplo uma região que havia perdido muito com algodão, Maringá, Londrina, Apucarana, Santo Antônio da Pratina, Ivaiporã, e Cornélio Procópio, que representava o 4º Nordeste do Paraná, os técnicos da Emater resolveram organizar um seminário na região sobre diversificação da Agropecuária. Entre diversas atividades levantadas e discutidas na época, uma das escolhidas a piscicultura, baseado na situação e condições da época, como a chegada do plano real, abriu muito pesque pague principalmente no Estado de São Paulo, que era ao lado. Assim, abriu um grande mercado de fornecer o peixe para este segmento em pleno crescimento, e assim maior parte da produção da tilápia foi direcionada a atividade esportiva, pesque pague.

Esta região, no ano de 1992 começou a ter várias pisciculturas e produzir para vender peixe vivo para São Paulo. Com esta situação favorável, a Emater começou a treinar técnicos, a treinar produtores e a entender e a desenvolver cadeia produtiva nessa região. Neste início então dos anos 90 os engenheiros de pesca passam migrar para Oeste do Paraná para auxiliar no desenvolvimento da piscicultura na região, foi estendido aos técnicos agropecuários, engenheiros agrônomo, e veterinários do órgão Emater-PR.

Foi fundamental o treinamento deste técnicos extensionista do setor aquícola do órgão. Esta capacitação resultou em uma melhor eficiência e eficácia das ações dos técnicos em melhor orientar os produtores. O órgão deu muito apoio aos técnicos e priorizaram realmente esta emergente atividade da piscicultura.

No final de década de 80, um dos pontos fortes foi a capacitação dos técnicos da Emater. Cabe reconhecer e ressaltar o apoio e o incentivo do órgão de extensão em capacitar seus técnicos, como uma ação prioritária da Entidade.  Nesta capacitação houve a presença de instrutores renomados da época em aquicultura, como Prof. Newton Castagnolli (Unesp Jaboticabal), Paulo Cecarelli e Osmar Cantelmo, ambos do CEPTA; técnicos da Epagri que já trabalhavam com Aquicultura, como Jorge Casaca, Osmar Tomazelli, Luís Chapo, também o Sergio Zimmermann; Silvio Romeo(Guabi), Fernando Kubitza (projeto Pacu) , Luiz Ayroza(Inst. Pesca),  além dos técnicos do próprio estado, como "Bob" Robert Gordon Hickson;  o Taciano Maranhão do Instituto ambiental do Paraná, com, e dos professores de Universidades, como UEL, da UEM, da UFPR, da Unioeste. Dos técnicos extensionistas capacitados estavam dentre eles, o Gelson Hein; Luiz Danilo Muehlmann, Luiz de Souza Viana, Jackson Pinelli, Luiz Eduardo Sá Barreto entre outros. Inclusive teve um treinamento realizado por um instrutor americano convidado, que capacitou para a indução artificial de desova e sexagem.

Nesta década de 90, todos os módulos de produção aquícola continuaram e o escoamento geralmente eram direcionado para o frigorifico Pisces, na região de Toledo. Portanto a piscicultura era uma boa alternativa para o produtor. Assim, foram estes os primeiros 10 anos do início da piscicultura no Oeste do Estado do Paraná. Mas houveram perdas de profissionais do órgão de extensão, ocorrendo êxodo, alguns infelizmente desistiram e retornaram para os seus estados de origem, geralmente do nordeste, pois o salário na época não acompanhava a inflação. Felizmente alguns permaneceram, basicamente aqueles que haviam constituido família no Paraná.

Foram criado diversas Associações no Estado do Paraná. Estas organizações foram vitais para a consolidação da atividade, sendo que somente na região oeste havia cerca 7(sete) associações de piscicultores. Algumas muita atuantes, realizavam reunião dos produtores nos eventos, como exemplo a Associação de Toledo e esta com ajuda da Emater regional foi possível avançar muito, várias conquistas foram realizadas.

 

 

 

 

Nos treinamentos dos eventos, a motivação para o aumento do consumo, a própria implementação de sistemas iniciais foi muito importante, os técnicos trocavam muita experiência com os produtores. Aqueles problemas maiores, como questões ambientais, tiveram avanços e conquistas, com o apoio desses técnicos, assim foi possível avançar com os produtores ávidos pelo conhecimento, estes contribuíram para o processo de crescimento da atividade na região.

Interessante que os problemas eram trazido do campo e os técnicos extensionistas discutiam em busca de soluções para os produtores, e assim conseguia-se avançar e aprimorar o sistema de produção. Também o incentivo aos produtores, alguns no passado tinham abandonado a atividade, e reativaram a piscicultura, desta maneira participaram deste momento importante em que a atividade estava crescendo nesta região.

Outro fator que contribuiu no avanço da atividade foi o aparecimento do Pesque Pague no país, principalmente no Estado de São Paulo, propriedades com viveiros de peixes que passaram a permitir a pesca dos peixes cultivado. Tal fato, naquela época, contribuiu para dar um impulso na atividade no Estado do Paraná, pois ampliou o mercado, que passou a ter opções, seja para indústria para produção carne, como a comercialização de peixe vivo por meio da parte esportiva de pesque pague.

E o papel da Emater neste cenário, organizar esses produtores e a produção, enfim organizar a cadeia produtiva em todos os seus aspectos. O setor técnico da Emater desenhou uma cadeia com 18 pontos estratégicos, que deveriam ser priorizados, como: -  a produção de alevinos; de rações; comércio; pesquisa; transporte, estrutura de mecanização, equipamentos, estrutura de assistência técnica, tanto de extensão como as privadas também. A equipe de abnegados técnicos da Emater, desenvolveram o formato da cadeia produtiva da aquicultura nessas regiões, promoveram treinamento, e esta modelagem foi multiplicada para outras regiões.

Sempre em busca de superar desafios, a equipe técnica foi descobrindo pontualmente quais eram os problemas, um a um, e assim, capacitavam-se em cima daquele desafio, para poder superá-los. Como alguns temas específicos e básicos como: - na questão de genética, por exemplo primeiro resolvido com as importações de material genético da Tailândia e Indonésia. A ideia era fazer o material genético para as condições ambientais do Paraná; - na questão de nutrição, trouxe profissionais especializados; em seguida mercado e comercio, chegaram a montar um escritório de vendas; seguiu-se a logística, para isto foram adquiridos veículos para transporte, alguns pelas associações. Em seguida o setor de transformação, com a implantação de plantas de processamento de pescado.

Nesta fase cabe destacar, que a Emater treinou 33 técnicos do seu quadro para capacitarem em Aquicultura, e os contemplados basicamente foram aqueles que já estavam envolvidos e já estavam dando assistência técnica para piscicultores, e foram de todas regiões do Estado. Um aspecto importante, havia um procedimento em que estes profissionais eram treinados constantemente, com objetivo de mantê-los sempre atualizados. E a capacitação envolviam diversos segmentos, como exemplo, até a questão de aula pratica de mecanização, entre outros.

A equipe de extensionistas desenvolveram muitos segmentos da cadeia, e a estratégia era de levar a demanda aos diferentes segmentos da cadeia e cabendo a estas responder com soluções. Sejam insumos como alevinos, ração, equipamentos, ...,. Por exemplo na parte da nutrição, os técnicos da Emater levavam a demanda, por exemplo às indústrias de ração, forçando-os a fazer pesquisa para responder as necessidades do setor. Assim, argumentavam junto as fabricas para diversificar tamanhos de pellets (período que se utilizava peletizadoras), necessidade de definição para tais espécies, e diferentes tamanhos conforme a fase de desenvolvimento.

Quanto as espécies, o oeste sempre trabalhou com a Tilápia, que atendia a indústria, mas em outras regiões, havia diversidade de espécies para atender a um mercado diferente que era o pesque pague, que queria variedades de espécies e obviamente comercializados vivos, assim, a venda de espécies eram mais interessante na pescaria do pesque-pague, como os peixes redondos, pacu e tambaqui além dos que eram resultados de cruzamentos. Os alevinos eram oriundos de diversos locais conforme espécie; os redondos de Sergipe; e as carpas do Estado de São Paulo. A Emater começou a fazer reprodução, para auxiliar na demanda, oferta de forma jovens de 3(Três) tipos de carpas.

Em seguida houve a entrada da assistência técnica, mais efetiva, principalmente na região de Toledo. Sendo que 1997, cria-se a graduação em Engenharia de Pesca ofertada pela Universidade Estadual do Oeste-UNIOESTE do Paraná. Inclusive com o envolvimento de alguns professores desta cadeia produtiva, como o Prof. Aldi Felden; o prof. Sergio Marcrac, além do apoio dos experientes técnicos que estão desde o começo desta atividade no Estado, como o Taciano Maranhão; o Bob, e o Gelson Hein da Emater. Referência destes profissionais, em que os produtores poderiam contar, por contribuírem para o crescimento da Atividade no Estado.

Começaram a surgir produtores de forma jovens, como a Anabel, que depois mudou o nome para Aquabel. Que se tornou um laboratório de referência em reprodução de tilápia. Esta surgiu pelas dificuldades de obtenção de alevinos de tilápia no Estado, e a Emater motivou-os e inclusive passou apoia-los, pois o órgão de extensão não tinha estrutura e tampouco condições de ter profissionais para exclusivamente trabalhar com reprodução de tilápia para atender aos piscicultores da região. Cabe ressaltar, que a Aquabel, em pouco tempo se tornou um dos principais produtores de alevinos do país, e recentemente fez uma fusão com uma empresa multinacional de genética, e nova empresa Aquagenectics tornou-se a maior empresa de genética de tilápia do mundo.

Organização dos produtores de forma representativa

Uma das coisas que a extensão rural do Paraná tem mérito e realiza até hoje e reconhecidamente é um ponto fundamental do desenvolvimento da Piscicultura no Estado, refere-se a habilidade dos extensionistas na organização dos produtores. Esta organização no planejamento dos trabalhos sempre teve como prioridade, em trabalho em grupo, de comunidades, em grupo pequenos, de vizinhança, para troca de informações, e troca de experiências.

Além destas associações de produtores de engorda, há a associação de produtores de alevinos, que tiveram também uma atuação bastante marcada e uma participação muito forte na introdução da tilápia tailandesa aqui no Estado. Isto foi o primeiro passo para o melhoramento genético da tilápia e atualmente está muito bem desenvolvida no Estado. Depois as Associações de produtores, regionais, e muitas delas com ações municipais.

Era evidente que no futuro teria que evoluir-se para transformação da matéria prima destinada a indústria, e o Oeste do Paraná teve um papel importante nesta tendência. Em 2005, a Copacol, tradicional cooperativa do Agro do Paraná, (grãos, aves e suínos), fez um estudo de alternativas de atividades para os seus cooperados, para terem uma renda complementar. Por análise de plano de negócio, nos aspectos econômicos e estratégia elencaram a Piscicultura, a ser escolhido. Em 2008 ocorre a implantação da Copacol Aquicultura, e assim cria um complexo verticalizado especifico para aquicultura, tendo uma indústria de processamento, fábrica de ração, e centro de alevinos, e com o compromisso de compra da produção de matéria prima dos cooperados. Com isto o Oeste se consolidou para uma piscicultura específica para Tilápia, para vender peixe para indústria. Foi nesse momento, que efetivamente começou esse processo industrial da Tilápia em Cooperativa.

Assim o setor evoluiu para um formato misto, continuava o comercio para pesque pague, mas ampliou como opção em fornecer matéria prima às indústrias assim, sair de uma dependência frágil, e ter alternativas de vendas para o escoamento da produção.

A Cooperativa trouxe uma situação de organização do setor, neste caso um sistema de integração, desde a assistência técnica, fornecimento de Alevinos, de ração, e o compromisso da central da cooperativa, de comprar toda a produção para industrializar, processar e promover a venda, seja para o mercado interno como para exportações. Com a chegada de cooperativas, veio junto melhorias, como uso mais racional dos recursos hídricos, por meio do uso intensivo de aeradores, e estes promoveram aumento da produtividade e assim maior produção na mesma área.

Órgão de Extensão e Divulgação via Rádio

A Emater-PR no passado, não tinha internet, mas por meio frequência AM, tinha um programa de rádio ao meio-dia. Sempre com um técnico, como ex: Jackson Pinelli, e na oportunidade tratava de um assunto específico, como ex: “- Produtores informo que abriram o credito rural, agora o Banco do Brasil está chamando todo mundo aqui para vir fazer seus cadastros, para ter acesso ao financiamento. Do dia tal ao dia tal. Informação aí no Banco do Brasil, ou na Emater."

Cabe fazer um destaque, sobre este crescimento desta atividade no Estado, em se fazer um reconhecimento de mérito ao produtor neste Estado, sempre determinado em buscar melhorar, com disciplina, e isto aconteceu também em outras cadeias, como na de aves, de suínos, de leite, como da estruturação de grãos muito forte na região. E partir dos anos 2000, as próprias cooperativas tiveram um papel relevante, com a iniciativa da Copacol em entrar na piscicultura.

Em 2016 a tradicional Cooperativa C.Vale amplia suas atividades, desta feita na aquicultura. Mas existem outras cooperativas aquícolas menores no Estado que contribuem com a produção. O volume produzido por estas Cooperativas aquícolas, tem uma participação estimada de 45% da produção de tilápia no Estado. Teoricamente estes produtores cooperados são todos assistidos pelas Cooperativas. Estão portanto mais organizados, com aumento crescente da produção. Mas existem uns 55% dos produtores de peixe no estado do Paraná, que não possuem esse tipo organização de produção, geralmente estão dispersos em outras regiões do Estado e não tem acompanhado esta evolução. Estes tem um perfil de serem pequenos produtores, e que requer assistência técnica contínua do órgão de extensão.

Fato preocupante

Apesar desta rica história exitosa da Extensão Rural Aquícola no Estado do Paraná, tem ocorrido situações preocupante para o futuro da Extensão. A idade média dos técnicos está elevada, tem ocorrido por parte do governo do Estado o estimulo a aposentadoria dos servidores por meio do Programa de Demissão Voluntária (PDV). Isto tem diminuído o quadro de pessoal técnico, principalmente que atuam no campo, pois a reposição por concurso não acompanhou o elevado número que tem saído.

Um dos fatores é que no início dos anos 90 eram 33 técnicos em todo o Estado com capacitação em aquicultura no Estado, mas a partir de 2016 iniciaram pelo órgão de extensão, dos PDV´s para os técnicos e grande parte optaram em antecipar sua aposentadoria, ou seja, a maioria destes técnicos especializados em aquicultura, se aposentaram. Portanto hoje se tem uma lacuna, que não foi preenchida. Apesar do órgão do Estado expressar que serão feitos novos concursos para repor, mas tem-se observado uma tendência de enxugamento da máquina pública.

Existe um outro agravante que é política atual do Estado, de não ter mais especialistas, e sim generalistas. Isto tem inibido até as capacitações para determinadas áreas como é o caso da aquicultura.

Na década de 90, foram capacitados em 1992, pelo próprio Bob como instrutor, que qualificou a primeira turma de instrutores em piscicultura do SENAR no Paraná. Seria interessante ter mais informações qual o posicionamento deste Sistema de Ensino no meio rural(Senar).  

Para o avanço de uma cadeia produtiva do Agro, em especial da Piscicultura, é preciso ter um norte, e a extensão rural geral ela possui uma capilaridade nestes lugares, se não fizer este tipo iniciativa, e paralelamente capacitar técnicos e de produtores pra isto, se isto não acontecer não há avanço e tampouco continuidade no setor aquícola.

Fato é que há dois tipos distintos de pisciculturas no Estado. Uma extremamente desenvolvida e organizada que é a do Oeste, pelo cooperativismo e sistema de integração, e a outra, dispersas em algumas regiões, que estão desassistidas e que dependem de pequenas unidades de beneficiamento, de feiras, e de pesque-pague de São Paulo,

Algumas iniciativas interessantes que órgão de Extensão realizou no Estado do Paraná, que foi um diferencial. Por exemplo:

a)  detecta a falta uma unidade de fábrica de ração, e você percebe que o município vizinho montou uma unidade de indústria de ração de peixe. Faz um trabalho de orientação de logística para atender.

b) identifica carência de alevinos. Surge então a Anabel, que depois mudou o nome para Aquabel. Com isto pode abastecer as regiões carentes.

Estes exemplos, são situações que mostra como era o trabalho de extensão rural. Que atualmente talvez não se dá tanto atenção ou simplesmente está se deixando de lado, e está se pensando apenas no aspecto técnico, em tecnologia. A gestão tem que ser um dos objetos de trabalho da Extensão Rural. Nos anos 90 nós fizemos treinamentos que nos aprendíamos primeiro, planejar uma propriedade, depois uma comunidade, depois um município, e depois uma região, e depois chegar no topo que é planejar em um Estados.

No passado os técnicos de extensão sentavam com representantes dos bancos, ou seja, agentes financiadores do meio rural, e apresentava as necessidade de quantos milhões para produção do próximo ano, e quanto era necessário para cada atividade naquela região.

O Estado - Gestão - Prioridade

Atualmente, o Estado do Paraná possui mais de 20 hidroelétrica, vários reservatórios. Mais de 70% das pisciculturas atuais é em viveiros escavados. Uma indústria muito voltada a filetagem, e ampliando também cortes como em postas, iscas, e iniciando em produtos de valor agregado, como pescado temperados-empanados.

O Estado tornou-se o maior produtor de tilápia do país, com dezenas de industrias de pescado, exportando parte da produção. Como pontos bastante positivos, chamam atenção ter sido fundamental historicamente ter implantado a extensão pesqueira e depois aquícola no Paraná, primeiro pela Acarpa/Emater. Sempre teve tradição de governos que apoiaram a extensão, em especial Secretários da Agricultura, que sempre viram na piscicultura um grande potencial de desenvolvimento no Estado do paraná.

Cabe destacar o apoio do Estado em priorizar atividades, destaca-se a publicação da Estadual Lei R 12/2013 que foi criado Regionalmente o "Programa Piscicultura", onde, as atividades do setor desenvolvidas no Município de Toledo receberam incentivos à produção pesqueira, orientação técnica sobre os viveiros, criação e comercialização do pescado, visando gerar aumento de renda para as famílias rurais.

As entidades Organizadas de produção do Paraná, sempre trabalharam no sentido, de tanto de desenvolvimento como captação de tecnologia, como de análise de mercado, de alternativas, de tipos de sistema de produção para os seus cooperados.

Conclusão Analise

Interessante que na busca de identificar quais foram os elementos que promoveram o êxito na Extensão Paranaense, começa quando do acordo internacional entre o Brasil e Estados Unidos, se implanta no Paraná o ETA-Projeto 15, para executar um programa de cooperação agrícola, atuando nos campos de educação, pesquisa, conservação de recursos naturais, produção agrícola e pecuária, economia doméstica e extensão rural. Ali criou-se uma cultura que serviu de Norte para as atividades de extensão naquele Estado.

Interessante que a Piscicultura no Paraná, em especial do Oeste, foi motivado para resolver uma questão ambiental. Dos dejetos de suínos que eram criados na região, e também para suprir uma deficiência econômica, depois da decadência de Cotonicultura(algodão) na região.

Esta base das ações do órgão de extensão junto aos piscicultores, com competentes e compromissados técnicos extensionistas, que contribuíram para a revolução do Paraná para a Piscicultura. Esta exitosa ação do órgão, por meio de um eficaz sistema de extensão, envolvendo profissionais como Engenheiro de Pesca, Médico Veterinário, Engenheiro agrônomo e Técnico Agrícola foram fundamental para dar base ao surgimento de Piscicultura junto as cooperativas do Agro que já existiam para outras atividades (Grãos, suínos, aves, ...).

A decisão por exemplo da Copacol, de entrar na piscicultura, foi após avaliar diferentes alternativas de atividades, selecionaram a piscicultura pelas vantagens comparativas e competitivas do agro. E em 2008 inicia nesta atividade. Posteriormente veio a C Vale, e outras que estão com interesse de entrar neste segmento."

Alguns pontos estratégicos e favoráveis para este sucesso da Extensão Aquícola do Paraná e os resultados expressivos de produção. Como na época foi fundamental a opção do órgão de extensão de optar e sugerir a escolha da espécie da Tilápia do Nilo para o desenvolvimento da Piscicultura no Estado do Paraná. Entendem-se que a entrada das Cooperativas, fizeram que ocorrem este salto do crescimento na produção, fatos que tiveram como resultado, o Paraná passou a ser o maior produtor de pescado de Aquicultura, e principal produtor de tilápia do País.

Atuando junto às famílias rurais, o órgão de Extensão Rural e Assistência Técnica do Paraná, tem tido um papel fundamental no meio rural paranaense, como um agente do Agro que tem promovido uma verdadeira revolução no campo paranaense, o que a transformou em modelo para o país. 

Uma das coisas que a extensão rural do Paraná tem sido um diferencial até hoje e tenha sido um ponto fundamental do desenvolvimento da Piscicultura, habilidade de seus profissionais em influenciar na organização dos produtores. Tem-se que reconhecer que as cooperativas, seja grandes, medias e pequenas, tem sido fundamental e um grande impulsionador do desenvolvimento da piscicultura no Paraná. Este trabalho de organização em cooperativas, sempre foram prioridades nos trabalhos do órgão de extensão rural aquícola do Paraná.

Reflexão

É necessário que os gestores públicos dos órgãos de fomento e de extensão e ambiental do Estado do Paraná, avaliem esta situação da extensão neste rico Estado. Identifiquem os desafios e as necessidades, e buscar resgatar novos profissionais com expertise aquícola, porque se não, a situação tende a se agravar, e com o número de produtores desassistidos nos próximas safras, haverá o risco de ter um processo de regressão e desistências; pois estar exercendo uma atividade ou desistir tem uma linha muito tênue, cujo o fator econômico é vital para sobrevivência dos pequenos aquicultores.

Um dos pontos fundamentais para o sucesso o Extensão Aquícola do Paraná que gerou uma revolução no campo, e principalmente na piscicultura, foi entender as experiências vividas de extensão no passado e exercitar a planejar passo a passo para o presente.

 

 

 

 

Mas é preciso fazer uma reflexão da frágil situação em que se encontra o Estado, fato é que há dois tipos distintos de pisciculturas no Estado do Paraná. Uma extremamente desenvolvida e organizada que é a do Oeste, pelo cooperativismo e sistema de integração; e a outra, dispersa e constituída de pequenos aquicultores, e que estão desassistidas, e dependem de pequenas unidades de beneficiamento, de feiras, e de pesque-pague(SP).

Agradecimentos,

Esta riqueza de detalhes desta coluna somente poderia ser descrita por quem realmente viveu esta rica história. E consegui graças a disposição de abnegados profissionais da extensão do Paraná, que gentilmente compartilharam seu conhecimento. Agradeço sinceramente aos amigos, Gelson Hein; Luiz Danilo Muehlmann, Luiz de Souza Viana, e ao Jackson Pinelli, este inclusive prontamente veio até a minha casa (em suas férias), e ficou uma tarde inteira (dia chuvoso) e descreveu com uma memória prodigiosa, uma visão estratégica, e riqueza de detalhes suas experiências na extensão aquícola do Paraná. Obrigado a todos vocês.

 

 

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Rui Donizete Teixeira

Rui Donizete Teixeira é Médico Veterinário, formado pela Universidade Federal de Uberlândia-MG, possui especialização em Tecnologia e Inspeção de alimentos pela UFLA-MG. Desde de 1983 (40 anos) atua na Aquicultura, dos quais 15 anos iniciais no setor privado em uma empresa de Aquicultura (gerente de produção e da indústria de processamento de pescado); e 25 anos no setor público (área de inspeção de pescado, setor de ordenamento e gestão da aquicultura). Foi professor em Faculdade de Veterinária por 6 anos. Autor de dezenas artigos e publicações, inclusive internacionais, relacionadas a cadeia produtiva da aquicultura; a Extensão Aquícola; o Bem Estar Animal Aquícola; de Estabelecimento de Indústria de Pescado; de Mercado de Pescado e Competitividade. Atualmente assessor técnico do Ministério da Pesca e Aquicultura-MPA.

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Charge Edição nº Publicado em 18/09/2023
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