Selecionar ou não selecionar este peixe? Eis a questão! Muitas pessoas apresentam dúvidas quanto ao processo de seleção de peixes e mesmo sendo uma prática rotineira nas propriedades que realizam reprodução, muitas vezes o procedimento não garante o sucesso nas desovas. A tomada de decisão do produtor sobre quais peixes deverão ser selecionados para receber a indução hormonal é algo extremamente importante na rotina de reprodução.
Na grande maioria das pisciculturas nacionais que realizam reprodução, os peixes são mantidos em viveiros escavados com água de boa qualidade e com alimentação de rações comerciais que atendam as exigências das espécies e quando as características ambientais forem favoráveis (estação reprodutiva) ocorre o procedimento de seleção das matrizes e/ou reprodutores para que possam receber as induções hormonais para promover a desova. A seleção dos peixes ocorre a partir da captura por rede multifilamento com malha adequada e tamanho de acordo com o viveiro de modo a evitar “escape”. Após o cerco, é comum ver pessoas adensando todos os peixes em um espaço pequeno da rede, isso deve ser evitado, pois pode gerar um grande estresse e ser prejudicial para algumas espécies.
O procedimento de seleção de machos e fêmeas geralmente é realizado de forma individual dentro do viveiro a partir de características reprodutivas visuais ou secundárias. Nos machos, uma leve compressão do abdômen é suficiente para verificar a liberação de sêmen, sendo esta, uma pequena gota ou até mesmo uma grande quantidade (Figura 1). A liberação de sêmen ocorre devido ao fato de o sêmen estar “armazenado” no ducto seminal presente nos testículos, ou seja, as células espermáticas são produzidas em determinadas regiões e após a maturação, são direcionadas ao lúmen, onde permanecem até serem liberadas para a reprodução. Em algumas espécies, tais como, lambari, dourado e piracanjuba, os machos aptos apresentam espículas na nadadeira anal no período reprodutivo.
Nas fêmeas a seleção geralmente é realizada com observação visual e leve massagem do abdômen. Quando as fêmeas estão aptas a serem submetidas à indução hormonal, elas apresentam abdômen macio e abaulado, pois ocorre um aumento do volume do ovário em função da incorporação de vitelo nos ovócitos, podendo ocupar até 2/3 da cavidade celomática. Na observação visual acostuma-se também visualizar se a papila urogenital está entumecida e avermelhada, características comuns para fêmeas que estão na fase de maturação final (Figura 2).
Adicionalmente, recomenda-se realizar uma biópsia intra-ovariana, processo conhecido como “canulação”. Neste procedimento, uma pequena parcela de ovócitos (50 a 100) é retirada via sucção por meio da inserção de um cateter uretral na papila, em seguida estes ovócitos são imersos em uma solução clareadora, conhecida como “Solução de Serra” (10% ácido acético glacial P. A. + 30% de formol P.A. + 60% de álcool etílico 90°). Após aproximadamente cinco minutos pode-se realizar a verificação em uma lupa (estereomicroscópio - 10x) a posição do núcleo ou vesícula germinativa dos ovócitos (Figura. 3) sendo que, quanto mais periférico, maior é o grau de maturação da fêmea e mais assertivo será o processo de seleção. Os peixes que estão na fase de maturação final, são conhecidos como peixes que estão em fase de “dormência”, ou seja, aguardando o gatilho final para poder ovular, neste caso, o hormônio luteinizante produzido após migração reprodutiva conforme abordado na coluna da edição anterior. Recomenda-se selecionar fêmeas que apresentam mais que 70% dos ovócitos com núcleo migrado ou periférico, porém, ainda não há um padrão definido para as espécies e selecionar fêmeas que apresentam mais de 50% de núcleo central não é recomendado, pois estes peixes não chegaram ainda no grau de maturação necessário para responder positivamente à indução hormonal, podendo não desovar e virem à óbito. Evidente que o procedimento acaba sendo invasivo e deve ser realizado com muito cuidado e com material adequado (sondas uretrais de 0,3 a 1,0mm) para manter a integridade do ovário e dos peixes.
Esses procedimentos são passíveis de serem realizados em campo e muito úteis na economia de hormônio e preservação da vida dos reprodutores, neste sentido, encontrar um padrão das espécies que se está trabalhando é fundamental, algo que é realizado muitas vezes de forma empírica e muito assertiva por técnicos experientes de várias pisciculturas.
Autor: Eduardo Antônio Sanches - Doutor em Aquicultura Faculdade de Ciências Agrárias do Vale do Ribeira - UNESP Registro, SP eduardo.sanches@unesp.br
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Engenheiro de Pesca formado na Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Unioeste/Toledo, possui mestrado e doutorado em Aquicultura pelo Centro de Aquicultura da Unesp - CAUNESP/Jaboticabal. Realizou estágio de pós-doutorado pela Fapesp no Instituto de Pesca na área de Reprodução de Peixes.
Atualmente é Professor da Unesp vinculado ao Curso de Engenharia de Pesca da Faculdade de Ciências Agrárias do Vale do Ribeira - FCAVR/Unesp Campus Registro e do Programa de Pós Graduação em Aquicultura do Caunesp. Atua na área de reprodução de peixes de água doce com ênfase em qualidade de gametas e reprodução induzida.
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