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Gestão de Resíduos
26 de Fevereiro de 2023 Ivã Guidini Lopes
A digestão anaeróbia pode ser uma solução para os resíduos da pesca e aquicultura

 

 

 

 

Muitos são os métodos para tratar resíduos orgânicos de produções animais. A digestão anaeróbia, tecnologia que ainda não tratamos aqui na coluna Gestão de Resíduos é um deles, método este usado em abundância para gerir estrumes e outros resíduos sólidos orgânicos no Brasil. Pensando em nossa realidade, os resíduos da aquicultura e da pesca também podem ser biodigeridos por este método, gerando-se biogás e fertilizantes em abundância.

O processo da digestão anaeróbica é caracterizado pela degradação biológica de materiais orgânicos por microorganismos em condições de ausência de oxigênio, ou seja, em condições de anaerobiose. O biogás gerado no processo é composto principalmente por gás metano (CH4 ) e gás carbônico (CO2 ), podendo ser considerado um biocombustível renovável, este sendo mais sustentável do que combustíveis fósseis. Além do biogás, é também gerado um outro produto chamado digestato, tendo características fertilizantes. A construção de biodigestores na pecuária de leite já teve sua viabilidade comprovada pela EMBRAPA há muitos anos (clique aqui para ler uma notícia sobre o assunto), porém a realidade da digestão anaeróbia pode ser extendida para outros setores da produção animal, como a pesca e a aquicultura.

 

 

 

 

 

Resíduos diversos da pesca e aquicultura podem ser utilizados para a digestão anaeróbia, desde os efluentes de sistemas fechados com recirculação, os materiais coletados no fundo dos tanques escavados e os resíduos animais em si, como carcaças de animais abatidos. A eficiência da biodigestão varia principalmente de acordo com o tipo de resíduo a ser colocado no biodigestor, mas outros fatores como temperatura e pH dos resíduos também influenciam o processo.

Uma das mais claras aplicações para a digestão anaeróbia na aquicultura relaciona-se aos sistemas fechados, como a aquaponia, quando o objetivo é tratar os dejetos dos peixes e os outros resíduos sólidos coletados nos filtros do sistema. A viabilidade de um pequeno sistema de tratamento de resíduos orgânicos por biodigestão anaeróbia foi comprovada em um estudo recente realizado no Estado do Ceará (clique aqui para acessar o estudo). Nesse estudo, a produção de biogás foi realizada a partir de uma mistura de diferentes resíduos: resíduos da produção de filés e óleo de víscera de tilápias, resíduos da produção de camarões de água doce e alface, todos derivados de um sistema aquapônico. Os autores comprovaram que em um sistema relativamente pequeno de digestão anaeróbia é possível aumentar a sustentabilidade da produção aquapônica como um todo, gerando biogás e fertilizante com o processo. No entanto, a viabilidade econômica do sistema é atingida após período relativamente longo de operação, como normalmente ocorre quando novas tecnologias são colocadas em prática.

 

 

 

 

Assim como qualquer tecnologia de gestão e tratamento de resíduos orgânicos, a viabilidade de sua aplicação e o real aumento da sustentabilidade do negócio é dependente do desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias, da condução correta dos processos e do empenho dos produtores ao longo do tempo. Seja uma compostagem, uma digestão anaeróbia, um tratamento com larvas de inseto ou outra realidade, é sempre necessário tempo, investimento e resiliência até que tudo esteja funcionando bem e gerando lucros! A digestão anaeróbia para tratar resíduos da aquicultura é um método promissor e com grande potencial para o setor. Podemos ter a certeza de que biodigestores adaptados para a realidade e para as necessidades de diferentes sistemas da aquicultura serão desenvolvidos no futuro, de modo a contribuir para a sustentabilidade do setor.

 

Autor: Ivã Guidini Lopes - Doutor em Aquicultura Pesquisador na Ingredient Odyssey - EntoGreen Santarém, Portugal ivanguid@gmail.com

Faça o download e confira o texto completo com todas as ilustrações. Clique aqui

 

 

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Ivã Guidini Lopes

Ivã Guidini Lopes é biólogo, formado pela UNESP de São José do Rio Preto/SP, realizou mestrado e doutorado em aquicultura pelo Centro de Aquicultura da UNESP, em Jaboticabal/SP. Atua na aquicultura desde 2014, realizando pesquisas científicas e práticas de extensão aquícola na área de gestão e tratamento de resíduos sólidos orgânicos. Possui experiência com métodos de compostagem termofílica e de tratamento de resíduos com larvas de mosca soldado-negro, assim como da aplicação dos produtos gerados nestes processos, visando a promoção da economia circular e o aumento da sustentabilidade do setor produtivo como um todo.

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