Aproximadamente no dia 10 de dezembro de 1989, eu biólogo recém formado na Argentina, me apresentei ao Laboratório de Camarões Marinhos (LCM) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) na Barra da Lagoa, Florianópolis. Professor de tênis, sujo de saibro alaranjado da quadra, fui entrando devagar e dei-me de cara com um baixinho de nariz grande, de shortinho pequeno, descalço e com a vassoura na mão. Lhe perguntei então pelo responsável do laboratório. -Sou eu, o que você deseja? Incrédulo, em portunhol, lhe respondo: -Fazer um estágio. Direto ao assunto me mira nos olhos e diz: -Você está disponível para trabalhar finais de semana? Respondo prontamente: -Sim. -Você trabalharia nos feriados? -Sim. -Você tem alguma restrição para lavar tanques? -Não -Bom, então pode começar amanhã. Meu primeiro e único estágio se iniciou em janeiro de 1990. Iniciei de forma ilegal já que tinha o visto vencido, e fiquei quase um ano morando no laboratório até regularizar minha situação. Zero burocracias.
Ano 2022
Mais de uma dúzia de cursos de Aquicultura abertos pelo Brasil. A maioria com projetos pedagógicos que incluem estágios obrigatórios aos alunos. Leis trabalhistas para evitar que as empresas driblem impostos, formulários de aqui para lá cheios de necessidades de assinaturas (setor responsável de estágios na universidade, coordenador do curso, orientador de estágio, supervisor na empresa etc ). As empresas precisam pagar um seguro para os alunos.
Resultado: as empresas entram no rolo quando realmente precisam de contratar pessoal especializado e usam o estágio como um método de seleção. O aluno já tem que estar praticamente em sua última atividade universitário a desenvolver, para finalizando o estágio e poder ficar trabalhando, caso seja selecionado. Alternativamente, treinando esse aluno e dando- -lhe a possibilidade de que tenha uma visão da parte prática, além de sala de aula. Então surge a seguinte pergunta: O que a empresa ganha com isso? Aparentemente NADA.
Porém, no meu ponto de vista, quem ganharia seria o setor, que teria um corpo técnico de base, que quando necessário, poderia ser contratado com uma melhor formação prática. Estaria certo considerar que é responsabilidade da universidade criar estruturas de ensino e laboratórios compatíveis com a realidade da indústria. Me criei dentro de um exemplo internacional disso, o LCM - UFSC, onde me possibilitou conhecer a nível comercial os meandros da carcinicultura marinha. Existe outros exemplos, uma aqui outro acola, raros e falídos. Muitos alunos optam por fazer o estágio na própria universidade no laboratório de um de seus próprios professores que já estão carecas de saber o que faz. Quem perde? Para mim quem perde é a Aquicultura.
Minha proposta?
Deixar as empresas livres de possuírem estagiários até 90 dias em uma condição legal totalmente libertaria, e os alunos assinarem um termo de compromisso certificado em cartório que se fazem totalmente responsáveis de qualquer acidente que possa ocorrer dentro da empresa nesse período de treinamento intensivo. Realizar parcerias oficiais entre os centros de ensino e os centros de produção, com a participação das associações de aquicultores locais e nacionais.
É fácil?
Não. Sabemos da correria que envolve um sistema produtivo para os gerentes de produção, responsáveis por encaminhar as atividades destes estagiários. Sabemos que muitos setores dentro das empresas não possuem pessoal que tenha a mínima visão de estratégias de treinamento, reclamando que os estagiários lhes fazem perder mais tempo que ajudando. Muitas empresas ainda acham que tem a fórmula mágica de produção e que estão perdendo abrindo sua caixinha a um profissional recém formado, que pode levar conhecimento e ideias para as concorrentes. Outras tem manejos não adaptados à aquicultura sustentável ou com surtos constantes de doenças, e preferem manter-se em sigilo absoluto evitando vazamento de informações. Bom, estas ficam de fora, mas, e a grande maioria? Ou a grande maioria está inserida nestas duas categorias? Particularmente concluo que é um grande desafio na área de recursos humanos extremadamente valido. Pensando positivamente, nossos manejos zootécnicos são ainda muito braçais, e o estagiário pode ser um excelente colaborador quando bem orientado, e aprender a vivência do dia a dia do setor. A juventude atual está muito informada de uma forma geral, e uma nova ideia pode vir de uma pessoa de fora, que apesar de ainda não saber muito de produção comercial, tem de quatro a cinco anos de universidade e muita vontade de aprender. Se lhe adicionamos a possibilidade de o aluno realizar seu TCC (trabalho de conclusão de curso) na sequência do estágio, em algum tema específico de interesse da empresa, onde o orientador acadêmico também possa participar, a formação e a interação técnica ficam mais fortes.
Autor: Rodolfo Luis Petersen - Laboratório de Melhoramento Genético de Organismos Aquáticos - GECEMar Universidade Federal do Paraná - UFPR Pontal do Paraná, PR rodolfopetersen@hotmail.com
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Zoólogo, Mestre em Aquicultura pela Universidade Federal de Santa Catarina e Doutor em Genética e Evolução pela Universidade Federal de São Carlos (SP). Pesquisador e Gerente do Setor de Maturação do Laboratório de Camarões Marinhos (UFSC) desde 1990 até o ano 2001. Em 2003 trabalhou no Departamento de Genética da AQUATEC e desde janeiro de 2004 até dezembro de 2006 foi Gerente de Produção e Diretor Técnico do Laboratório Estaleirinho (Balneário Camboriú/SC). Como professor da UNISUL (Universidade do Sul de Santa Catarina), trabalhou em genética de peixes em parceria com a Piscicultura Panamá (Paulo Lopes/SC), entre 2006 e 2009. Atualmente trabalha como professor e pesquisador no curso de Engenharia de Aquicultura de Centro do Estudo do Mar (CEM/UFPR) e coordena o GECEMar (Laboratório de Biologia Molecular e Melhoramento de Organismos Aquáticos) da Instituição.
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