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Atualidades e Tendências da Aquicultura
01 de Dezembro de 2018 Fábio Rosa Sussel
Produção da própria ração: solução ou problema?

O propósito inicial desta coluna é alertar aqueles que crescem os olhos em relação a grande oferta de equipamentos (extrusoras e peletizadoras) atualmente disponíveis no mercado. Com novas tecnologias e novas empresas atuando neste segmento é fato que estes equipamentos tornaram-se muito mais acessíveis. Claro que isto é bom e abre novas perspectivas... mas... “muita hora nesta calma”. Aproveitando o trocadilho, muitas horas fazendo conta e analisando muito bem tudo que encontra-se envolvido a nova ideia.

Primeiro de tudo: quantos pequenos/médios aquicultores estão produzindo sua própria ração, com resultados satisfatórios, há mais de 1 ano? Este tipo de levantamento ajudará bastante na tomada de decisão.

 

 

 

 

Feito tal análise, levar em consideração que ter condições financeiras para adquirir o equipamento não significa nem meio caminho percorrido. Diria que a aquisição do equipamento representa somente 20% de todo o contexto. Ter um amigo nutricionista ou contratar um consultor para fornecer uma fórmula, também não representa muita coisa. Ter fácil acesso a 2 ou 3 ingredientes, também não é tão vantajoso assim. Também não se devem iludir-se com a eficiência dos equipamentos, do tipo: “Uau, faz 5 toneladas por dia!!! Em 2 dias faço toda a ração do mês!!!”.

É preciso pensar em logística de vários ingredientes, é preciso ter condições de mexer nas fórmulas a cada nova batida, alguém bem treinado para operar o equipamento e, principalmente, volumes que justifiquem investir na nova ideia.

Há mais de 10 anos que costumo responder as investidas de alguns produtores com o seguinte valor referencial: tem que ter um consumo mensal de 200 toneladas, porém, tem que produzir 1.000 toneladas mês. Com a venda da diferença de 800 toneladas se consegue produzir uma ração de boa qualidade e com um custo bem reduzido para o uso próprio.

Nos dias atuais, por uma séria de fatores, pode-se afirmar que estes valores referenciais caíram bastante. Talvez uma produção doméstica entre 80 a 100 toneladas já seja viável. Quanto maior a produção, melhor poder de compra das matérias-primas e melhor otimização do equipamento. E ainda ter muito claro em mente que além de todos os “porém” de uma piscicultura/carcinicultura, ainda terá que gerenciar um novo negócio. Diria que envolve tanta dedicação quanto a criação do peixe ou do camarão.

Atendido a todos os quesitos listados, o produto final precisa ser melhor e custar menos que as rações comerciais disponíveis. O que não é nada fácil!

Devo registrar que já começo a ter um olhar diferente sobre produzir a própria ração. Sempre fui um grande defensor das fábricas. Sempre acreditei muito na qualidade de nossas rações. Tenho até episódio gravado que ainda não foi ao ar onde minha explanação técnica sugere que melhores resultados podem ser obtidos a partir de melhorias no manejo alimentar. O que é fato, continuo com esta opinião (é impressionante o desperdício de ração e erros de manejo que observo nas propriedades por onde passo!).

 

 

 

 

Contudo, ao mesmo tempo, também por constatação prática, seja na minha unidade de pesquisa ou nas propriedades que visito, tenho a sensação que a genética está à frente da nutrição. Seja pra peixe ou camarão marinho. Não tenho constatação científica disso e nem tem sido foco das minhas pesquisas, mas tenho observado melhores resultados com formulações próprias.

Quando digo que a genética está na frente da nutrição, não é porque faltam pesquisas no segundo item. Sabemos fazer boas dietas, temos ótimas matérias- -primas, ótimos formuladores, equipamentos de ponta..., mas..., a concorrência por preços tem levado a melhor contra a concorrência por qualidade. E ficaria imensamente feliz e agradecido se alguém apresentasse opinião contrária a respeito.

Uma alternativa bastante interessante que surgiu recentemente no Nordeste é a customização da própria ração. Ou seja, surge a opção de comprar ração por fórmula e não por nível de proteína bruta. Além de ser uma alternativa ao invés de investir em extrusora ou peletizadora, certamente dará uma sacudida no mercado de rações para organismos aquáticos. Claro, desde que os aquicultores façam a conta certa.

Em tempos de crise a lógica é reduzir custos. Mas... nem sempre é o melhor caminho. Aumentar o custo de produção pagando maior valor por uma ração a qual implicará em maior produtividade, pode ser uma boa opção. Só que pra isto tem que ter registrado como era antes e como está sendo a partir da nova estratégia. Vale tanto para quem pensa em fazer a própria ração ou comprar uma customizada. Surpreendentemente, o que mais vejo é produtor não saber nem quanto custou o quilo do seu peixe ou camarão produzido, pensando em produzir a própria ração. Como vai saber se a nova estratégia é melhor ou pior?

Em resumo, antes de mudar a estratégia alimentar da produção, primeiro é necessário corrigir os manejos e depois fazer conta e bem-feita. Se não tiver condições de comparar como era antes, deixe do jeito que está.

 

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Fábio Rosa Sussel

Fábio Sussel é Zootecnista formado pela Universidade Estadual de Maringá, possui mestrado em nutrição de peixes pela UNESP de Botucatu e doutorado, também em nutrição de peixes, pela USP de Pirassununga. Pesquisador Científico em Aquicultura do Instituto de Pesca de São Paulo. Especialista em proteína aquática, com ênfase na produção comercial de lambari e produção de camarão marinho em água salinizada. Idealizador e primeiro apresentador do programa AquaNegócios da Fish TV. Apresentador do Canal #VaiAqua do Youtube.

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