A pergunta do título desta coluna é comum e geralmente aparece em eventos, aulas, cursos e palestras e para responde-la é necessário entender um pouco sobre a reprodução em ambiente natural. Nos rios, a reprodução ocorre após a combinação de fatores ambientais e fisiológicos em que cada espécie apresenta suas táticas e estratégias reprodutivas conforme sua necessidade. Entretanto, algo em comum é verificado, que é o comportamento de migração rio acima, conhecido como “piracema”, evidenciado em peixes considerados “reofílicos”, ou seja, peixes que se deslocam com intuito reprodutivo.
Para que a reprodução tenha êxito, os peixes percebem às características ambientais tais como, temperatura, fotoperíodo, chuvas, nível do rio e qualidade de água que funcionam como o gatilho para o desenvolvimento hormonal, responsável pela produção de gametas e desova. Os hormônios envolvidos na reprodução são conhecidos como “gonadotrópicos” ou “gonadotrofinas” sendo que o Hormônio Folículo Estimulante (FSH) responsável pela proliferação e desenvolvimento dos gametas e o Hormônio Luteinizante (LH) atua na ovulação e desova. No ambiente natural, a produção do FSH ocorre a partir da percepção dos fatores ambientais e o LH após a migração reprodutiva, gatilho fundamental para que ocorra a ovulação no lugar e momento em que haverá melhores condições para a sobrevivência da prole.
No ambiente de criação, os peixes geralmente são mantidos em viveiros escavados e submetidos às condições de vida totalmente diferentes do ambiente natural. Este fato poderá proporcionar três disfunções reprodutivas, sendo:
1ª - Falha completa na vitelogênese e espermatogênese (pode estar relacionada ao ambiente não adequado aos animais, impedindo a produção de FSH suficiente para a produção de gametas, tais como, peixes muito adensados, mal nutridos, baixa qualidade de água, iluminação inadequada, entre outros);
2ª - Falta de maturação final dos ovócitos e liberação de sêmen (geralmente está relacionado à ausência do processo de migração reprodutiva, impedindo a produção do LH necessário para promover a ovulação e desova, necessitando de indução hormonal externa);
3ª - Falha na liberação de ovos ou liberação de ovos com fertilização malsucedida (nesta situação, apesar das condições ambientais e hormonais serem favoráveis, algum fator pode influenciar no processo final de reprodução, interferindo na liberação de gametas ou na fertilização).
Para a maioria das espécies de peixes reofílicas criadas no Brasil, observa-se que as condições ambientais propiciam aos peixes a produção do FSH, porém por não haver migração reprodutiva os mesmos não conseguem produzir o LH e consequentemente ovular e liberar os gametas na água. Devido esta ausência, ocorre então um processo conhecido como regressão, ou seja, reabsorção dos gametas e preparação para um novo ciclo reprodutivo. Antes que isso ocorra, os produtores aplicam a reprodução induzida, ou seja, induzem os peixes com indutores que vão suprir a necessidade de hormônios ausentes no animal.
O indutor mais utilizado é o extrato bruto de hipófise de carpa (EBHC), que é uma hipófise desidratada coletada de peixes abatidos no ápice da reprodução, contendo grande quantidade de LH que vai favorecer a maturação final, ovulação e liberação dos gametas. Apresenta praticidade (fácil diluição em soro fisiológico) e doses previamente definidas e frequentemente bem sucedidas em peixes nativos (5,5mg de EBHC/ kg em fêmeas e 1,0 a 3,0 mg de EBHC/kg para machos). Outros indutores também são aplicados com sucesso, como é o caso dos hormônios liberadores de gonadotrofinas (GnRH), que são hormônios sintéticos que tem ação direta na hipófise do peixe, favorecendo a produção intrínseca de LH, estes, geralmente são associados a agente antagonista da dopamina (domperidona, pimozida e metoclopramida). Marcas comerciais contendo GnRH são aplicadas em peixes tais como Ovaprim®, Ovopel®, Sincroforte®, entre outros, com doses variadas para as espécies nativas. As induções geralmente são intramusculares, sendo na base da nadadeira peitoral (Fig. 1 e 2) para peixes de escamas e no dorso para peixes de couro (Fig.3).
De um modo geral, frequentemente ocorrem relatos de propriedades que verificaram peixes desovando sozinhos nos viveiros sem a indução de hormônios. Quais fatores levaram a isso? Domesticação? Condição adequada de criação? Características ambientais favoráveis? Ou tudo isso? O certo é que precisamos conhecer mais sobre nossas espécies e assim adaptarmos nossas estruturas e condições para que a reprodução de peixes nativos se torne cada vez mais eficiente para atender as demandas do mercado.
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Engenheiro de Pesca formado na Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Unioeste/Toledo, possui mestrado e doutorado em Aquicultura pelo Centro de Aquicultura da Unesp - CAUNESP/Jaboticabal. Realizou estágio de pós-doutorado pela Fapesp no Instituto de Pesca na área de Reprodução de Peixes.
Atualmente é Professor da Unesp vinculado ao Curso de Engenharia de Pesca da Faculdade de Ciências Agrárias do Vale do Ribeira - FCAVR/Unesp Campus Registro e do Programa de Pós Graduação em Aquicultura do Caunesp. Atua na área de reprodução de peixes de água doce com ênfase em qualidade de gametas e reprodução induzida.
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