Colunas
Reprodução de Peixes
03 de Outubro de 2022 Eduardo Antônio Sanches
Indução hormonal em peixes migradores - Por que é necessário induzir para obter desovas?

 

A pergunta do título desta coluna é comum e geralmente aparece em eventos, aulas, cursos e palestras e para responde-la é necessário entender um pouco sobre a reprodução em ambiente natural. Nos rios, a reprodução ocorre após a combinação de fatores ambientais e fisiológicos em que cada espécie apresenta suas táticas e estratégias reprodutivas conforme sua necessidade. Entretanto, algo em comum é verificado, que é o comportamento de migração rio acima, conhecido como “piracema”, evidenciado em peixes considerados “reofílicos”, ou seja, peixes que se deslocam com intuito reprodutivo.

 

 

 

 

Para que a reprodução tenha êxito, os peixes percebem às características ambientais tais como, temperatura, fotoperíodo, chuvas, nível do rio e qualidade de água que funcionam como o gatilho para o desenvolvimento hormonal, responsável pela produção de gametas e desova. Os hormônios envolvidos na reprodução são conhecidos como “gonadotrópicos” ou “gonadotrofinas” sendo que o Hormônio Folículo Estimulante (FSH) responsável pela proliferação e desenvolvimento dos gametas e o Hormônio Luteinizante (LH) atua na ovulação e desova. No ambiente natural, a produção do FSH ocorre a partir da percepção dos fatores ambientais e o LH após a migração reprodutiva, gatilho fundamental para que ocorra a ovulação no lugar e momento em que haverá melhores condições para a sobrevivência da prole.

 

No ambiente de criação, os peixes geralmente são mantidos em viveiros escavados e submetidos às condições de vida totalmente diferentes do ambiente natural. Este fato poderá proporcionar três disfunções reprodutivas, sendo:

1ª - Falha completa na vitelogênese e espermatogênese (pode estar relacionada ao ambiente não adequado aos animais, impedindo a produção de FSH suficiente para a produção de gametas, tais como, peixes muito adensados, mal nutridos, baixa qualidade de água, iluminação inadequada, entre outros);

2ª - Falta de maturação final dos ovócitos e liberação de sêmen (geralmente está relacionado à ausência do processo de migração reprodutiva, impedindo a produção do LH necessário para promover a ovulação e desova, necessitando de indução hormonal externa);

3ª - Falha na liberação de ovos ou liberação de ovos com fertilização malsucedida (nesta situação, apesar das condições ambientais e hormonais serem favoráveis, algum fator pode influenciar no processo final de reprodução, interferindo na liberação de gametas ou na fertilização).

 

 

 

 

Para a maioria das espécies de peixes reofílicas criadas no Brasil, observa-se que as condições ambientais propiciam aos peixes a produção do FSH, porém por não haver migração reprodutiva os mesmos não conseguem produzir o LH e consequentemente ovular e liberar os gametas na água. Devido esta ausência, ocorre então um processo conhecido como regressão, ou seja, reabsorção dos gametas e preparação para um novo ciclo reprodutivo. Antes que isso ocorra, os produtores aplicam a reprodução induzida, ou seja, induzem os peixes com indutores que vão suprir a necessidade de hormônios ausentes no animal.

O indutor mais utilizado é o extrato bruto de hipófise de carpa (EBHC), que é uma hipófise desidratada coletada de peixes abatidos no ápice da reprodução, contendo grande quantidade de LH que vai favorecer a maturação final, ovulação e liberação dos gametas. Apresenta praticidade (fácil diluição em soro fisiológico) e doses previamente definidas e frequentemente bem sucedidas em peixes nativos (5,5mg de EBHC/ kg em fêmeas e 1,0 a 3,0 mg de EBHC/kg para machos). Outros indutores também são aplicados com sucesso, como é o caso dos hormônios liberadores de gonadotrofinas (GnRH), que são hormônios sintéticos que tem ação direta na hipófise do peixe, favorecendo a produção intrínseca de LH, estes, geralmente são associados a agente antagonista da dopamina (domperidona, pimozida e metoclopramida). Marcas comerciais contendo GnRH são aplicadas em peixes tais como Ovaprim®, Ovopel®, Sincroforte®, entre outros, com doses variadas para as espécies nativas. As induções geralmente são intramusculares, sendo na base da nadadeira peitoral (Fig. 1 e 2) para peixes de escamas e no dorso para peixes de couro (Fig.3).

De um modo geral, frequentemente ocorrem relatos de propriedades que verificaram peixes desovando sozinhos nos viveiros sem a indução de hormônios. Quais fatores levaram a isso? Domesticação? Condição adequada de criação? Características ambientais favoráveis? Ou tudo isso? O certo é que precisamos conhecer mais sobre nossas espécies e assim adaptarmos nossas estruturas e condições para que a reprodução de peixes nativos se torne cada vez mais eficiente para atender as demandas do mercado.

 

Faça o download e confira o texto completo com todas as ilustrações. Clique aqui

 

 

Anterior
Próxima
Colunista
Capa do colunista Eduardo Antônio Sanches
Eduardo Antônio Sanches

Engenheiro de Pesca formado na Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Unioeste/Toledo, possui mestrado e doutorado em Aquicultura pelo Centro de Aquicultura da Unesp - CAUNESP/Jaboticabal. Realizou estágio de pós-doutorado pela Fapesp no Instituto de Pesca na área de Reprodução de Peixes.

Atualmente é Professor da Unesp vinculado ao Curso de Engenharia de Pesca da Faculdade de Ciências Agrárias do Vale do Ribeira - FCAVR/Unesp Campus Registro e do Programa de Pós Graduação em Aquicultura do Caunesp. Atua na área de reprodução de peixes de água doce com ênfase em qualidade de gametas e reprodução induzida.

Categorias
Charges
Capa Que ventania!
Que ventania!
Charge Edição nº Publicado em 18/09/2023
Informativo

Assine nosso informativo para receber promoções, notícias e novidades por e-mail.

+55 (48) 9 9646-7200

contato@aquaculturebrasil.com

Av. Senador Gallotti, 329 - Mar Grosso
Laguna - SC, 88790-000

AQUACULTURE BRASIL LTDA ME
CNPJ 24.377.435/0001­18

Top

Preencha todos os campos obrigatórios.

No momento não conseguimos enviar seu e-mail, você pode mandar mensagem diretamente para contato@aquaculturebrasil.com.

Contato enviado com sucesso, em breve retornamos.

Preencha todos os campos obrigatórios.

Preencha todos os campos obrigatórios.

Você será redirecionado em alguns segundos!