A ranicultura, como toda atividade de exploração animal, dá origem a produtos de interesse comercial. A exemplo de outras atividades zootécnicas, este comércio não se restringe à produtos alimentícios, gerando o que chamamos de “produtos comestíveis” e “produtos não-comestíveis”. Neste primeiro, de três artigos, iremos abordar algumas características dos produtos usados na alimentação, de forma geral.
O grupo de produtos comestíveis, também conhecido como “produtos primários”, se destaca, principalmente, pela presença da famosa “carne de rã”, a menina dos olhos da ranicultura. Suas propriedades nutricionais são mundialmente conhecidas, inclusive a ela são atribuídas curas muitas vezes milagrosas. Dentre as suas propriedades podemos destacar as seguintes características:
a) proteína de alto valor biológico, configurada pela presença de todos os aminoácidos essenciais, com ótimo balanço aminoacídico e alta digestibilidade, ou seja, altamente biodisponível;
b) baixo teor de gorduras, uma vez que nas análises de composição centesimal seu teor de lipídios não ultrapassa os 0,3 % (0,3 g em 100 g de carne), podendo ser intitulada como carne branca e magra;
c) boa concentração de minerais, com destaque para o cálcio, cujos teores se apresentam três vezes maiores do que no leite;
d) hipoalergenicidade, que exprime o baixo potencial que o produto tem em provocar alergias alimentares no consumidor, por isso muitas vezes indicada para recém-nascidos, que rejeitam os outros produtos de origem animal, como o próprio leite e outras carnes.
Ainda em relação aos produtos comestíveis existe a classe daqueles outrora denominados “subprodutos”, hoje conhecidos como coprodutos, pois além de não serem inferiores em termos de potencial de comercialização, constituem o ponto de equilíbrio em muitas indústrias que processam o pescado, globalmente. O que antes era, literalmente, “jogado fora”, desprezado ou utilizado apenas na indústria da alimentação animal (rações e afins), hoje constitui importante matéria prima para produtos usados na alimentação humana. Prova disso é a carne mecanicamente separada (CMS), um coproduto extraído da prensa mecânica do dorso da rã, que pode ser utilizado como matéria prima para pré-fritos (empanados, “nuggets”, entre outros) e massas cárneas.
Os órgãos, normalmente, não são aproveitados para consumo, sendo esta uma área ainda muito pouco explorada tanto pelas indústrias como pela comunidade científica. Novos produtos alimentícios podem surgir a partir da utilização destas partes do animal, melhorando o seu aproveitamento pelos abatedouros, a lucratividade na cadeia produtiva, como um todo, e diminuindo a quantidade de rejeitos a receberem o devido tratamento para que não se tornem passivos ambientais. Cabe lembrar que, estamos nos referindo ao consumo da rã no Brasil e em alguns países cuja culinária nos é mais familiar, com destaque para França, Bélgica, Espanha, Estados Unidos e México. Ultimamente, temos recebidos vídeos, provenientes de países do oriente, onde se verifica que toda rã é utilizada como alimento. Alguns autores vêm explorando o tema também em países africanos, com destaque para o Oeste Africano (Burkina Faso, Nigéria, Camarões etc.), onde as rãs nativas são exploradas sem qualquer tipo de estratégia de captura, gerando a extinção de espécies locais e, consequentemente, desequilíbrios ecológicos.
A carne de rã, um produto de excelente qualidade nutricional, de leve sabor, de boa aparência, ainda não conquistou o consumidor brasileiro, dado o seu baixo consumo. O que precisa ser feito para que isso aconteça? Abordaremos essa e outras questões nas próximas edições.
Saudações ranícolas!
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Formado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Fluminense (UFF/2000), com mestrado em Medicina Veterinária (Área de concentração: Patologia e Reprodução Animal-UFF/2004) e doutorado em Medicina Veterinária (Área de concentração: Higiene Veterinária e Processamento Tecnológico de Produtos de Origem Animal-UFF/2016). Desde 2009 é professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), no Setor Palotina (Palotina/PR), sendo responsável pelas disciplinas de Tecnologia do Pescado, Ranicultura e Análise Sensorial de Alimentos e Bebidas, bem como pelo Laboratório de Ranicultura (LabRan-UFPR). Tem experiência na produção, beneficiamento, industrialização e sanidade de organismos aquáticos, tendo atuado em diversos órgãos voltados a esta temática. Atua principalmente nos seguintes temas: Processamento e Inspeção Higienicossanitária de Produtos de Origem Animal, Vigilância Sanitária, Aquicultura, Sanidade Aquícola e Extensão Rural.
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