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Genética
01 de Outubro de 2018 Rodolfo Luís Petersen
O que é um Programa de Melhoramento Genético

 

 

 

Para qualquer área do conhecimento humano, um programa de melhoramento significa ajustar algum aspecto de um determinado processo em uma determinada circunstância para a obtenção de um resultado desejado. Sendo assim, em nosso caso, seria melhorar os indices zootécnicos através de um programa de seleção e cruzamentos, para um determinado sistema de cultivo (intensivo, semintensivo, em jaulas, em tanques de terra, superintensivo heterotrófico, RAS etc.) em um determinado ambiente (região geográfica, estuário, época do ano etc.)

Como definimos na primeira coluna, o fenótipo é o resultado da ação combinada do genótipo e o ambiente de cultivo. As diferenças fenotípicas (variabilidade fenotípica) entre indivíduos podem ser devidas a diferencias genéticas (variabilidade genética) ou ambientais (variabilidade ambiental), assim como de uma ação combinada de ambas.

A variabilidade ambiental está determinada por fatores bióticos e abióticos, sendo que ambos podem variar entre um estado ótimo e um estado estressante. Entre os fatores bióticos podemos considerar todos os seres vivos que atuam no ambiente de cultivo (microalgas, bactérias, vírus, invertebrados planctônicos e bentônicos), incluindo o HOMEM (manejo). Já entre os abióticos se destacam as propriedades físicas e químicas da água, do solo, infraestrutura disponível e insumos utilizados para o manejo das populações (rações, probióticos etc).

Devido a grande variabilidade ambiental em sistemas extensivos e semintensivos, estes sistemas de cultivo justificam em muitos casos o desenvolvimento de PROGRAMAS LOCAIS, ou seja, o desenvolvimento de linhagens para uma determinada região. Já para o caso de sistemas intensivos com “controle ambiental”, o desenvolvimento de populações melhoradas possibilita a repetição de resultados médios mesmo em diferentes regiões e países com o uso de uma única população.

O melhoramento genético está estritamente ligado aos centros de produção de formas jovens. A partir do momento que os animais entram em um sistema de reprodução, a origem dos reprodutores e a forma de cruzá-los passam a ter uma importância vital na estrutura genética da população que estamos comercializando, seja para degradá-la ou melhorá-la, dependendo do caminho escolhido.

Ainda não existe na aquicultura um monopólio na produção de sementes por grandes empresas de reprodução. Aliada a variabilidade ambiental dos sistemas e as doenças emergentes ao longo do tempo, existe a dificuldade de esterilizar os produtos e obter suas patentes. Como consequência disso, existe um número significativo de centros de reprodução no mundo todo, sem um controle genético e sanitário adequado.

 

 

 

 

 

Um programa de melhoramento genético clássico envolve:

  • Seleção das populações base para a formação de uma população sintética;
  • Definição da estratégia de melhoramento: seleção ou cruzamento;
  • Estimar a resposta à seleção ou a heteroses;
  • Controlar a endogamia e a variabilidade genética;
  • Estudar correlações genéticas e fenotípicas entre as características zootécnicas de maior interesse;
  • Verificar a possível existência de interação genótipo ambiente entre diferentes regiões de onde as larvas serão utilizadas;
  • Estabelecer um programa de controle sanitário.

 

Dependendo do nível de inversão econômica podemos dividir um programa em básico e avançado. Tudo é uma questão de equilíbrio entre custo e benefício. Cada empresa que possua o ciclo fechado (reprodução e engorda) e um número significativo de hectares de engorda, pode ter um plano básico de melhoramento para suas condições de cultivo. Alternativamente, se podem estabelecer associações de empresas com a unificação de recursos destinados ao melhoramento genético de suas áreas de engorda.

Não podemos deixar de mencionar a importância do controle sanitário das larvas do programa, principalmente das principais viroses que deixam fortes impactos econômicos na indústria. Existem dois caminhos: construindo áreas específicas de seleção e produção de reprodutores em condições de estrito controle sanitário (NBC: núcleos de reprodução livres de enfermidades conhecidas), ou certificando os animais candidatos para reprodução como “livres” dos principais vírus de interesse (local ou mundial) com o auxílio de técnicas de biologia molecular.

Poucas empresas no mundo desenvolvem programas familiares sofisticados. O foco destas empresas é o desenvolvimento de populações de crescimento rápido para semear sistemas intensivos ou superintensivos com controle ambiental.

A grande maioria das empresas de reprodução anunciam programas de melhoramento, mas com variados níveis de execução real na prática, transformando a genética também numa ferramenta de marketing. Como Roger Doyle (famoso geneticista americano especialista em melhoramento genético de organismos aquáticos) menciona:

“Identificar os melhores animais constituí 90% da arte na genética em aquicultura”.

Poderíamos acrescentar:

“Identificar a melhor estratégia economicamente viável e sustentável é o 100 % da arte dos cultivos aquícolas”.

 

 

 

 

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Capa do colunista Rodolfo Luís Petersen
Rodolfo Luís Petersen

Zoólogo, Mestre em Aquicultura pela Universidade Federal de Santa Catarina e Doutor em Genética e Evolução pela Universidade Federal de São Carlos (SP). Pesquisador e Gerente do Setor de Maturação do Laboratório de Camarões Marinhos (UFSC) desde 1990 até o ano 2001. Em 2003 trabalhou no Departamento de Genética da AQUATEC e desde janeiro de 2004 até dezembro de 2006 foi Gerente de Produção e Diretor Técnico do Laboratório Estaleirinho (Balneário Camboriú/SC). Como professor da UNISUL (Universidade do Sul de Santa Catarina), trabalhou em genética de peixes em parceria com a Piscicultura Panamá (Paulo Lopes/SC), entre 2006 e 2009. Atualmente trabalha como professor e pesquisador no curso de Engenharia de Aquicultura de Centro do Estudo do Mar (CEM/UFPR) e coordena o GECEMar (Laboratório de Biologia Molecular e Melhoramento de Organismos Aquáticos) da Instituição.

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