A seleção do local ideal para o cultivo de moluscos é um processo crítico que pode definir o sucesso ou o fracasso da fazenda. Cultivos instalados em locais errados podem nunca se dar bem, apesar dos melhores esforços do maricultor. E como a obtenção de uma concessão geralmente é um processo burocrático e demorado, não é fácil para o produtor simplesmente reiniciar em um novo local. Por isso, a melhor abordagem é não se apressar nesta etapa e realmente fazer uma seleção bastante criteriosa do local.
Ao selecionar um local, deve-se considerar cuidadosamente uma série de fatores que podem ser agrupados em fatores primários e secundários. Fatores físicos, ecológicos e biológicos (fatores primários) são de importância primordial na seleção de locais adequados de cultivo, enquanto fatores de risco e econômicos geralmente vêm a seguir em termos de prioridades. É importante entender que, se os fatores primários não forem totalmente satisfeitos, o local específico em consideração deve ser descartado, independentemente de todos os fatores secundários serem satisfeitos.
Como para qualquer outro organismo cultivável, a água do local de cultivo deve apresentar parâmetros físicos e químicos dentro da faixa de conforto para a espécie utilizada. Temperatura e salinidade são os fatores primários mais críticos, que podem causar mortalidades em massa devido a choque osmótico ou estresse térmico, e o produtor deve se assegurar de que valores médios e extremos encontrados durante o ano estão dentro do intervalo ideal.
Para o sistema de cultivo suspenso como balsas ou longlines, a profundidade da água pode ser um fator limitante, pois normalmente uma altura mínima de três metros de coluna de água é essencial durante as marés baixas. Os petrechos de cultivo suspensos nunca devem tocar o fundo, principalmente para evitar que os predadores atinjam os mmenos um metro acima do fundo do mar durante as marés mais baixas reportadas para o local.
Informações sobre as épocas do ano com maior incidência de incrustantes também podem auxiliar no planejamento operacional da fazenda e na definição das melhores épocas para introduzir sementes e para colher os moluscos. Organismos incrustantes crescem em resposta aos mesmos fatores ambientais que são desejáveis para o bom crescimento e sobrevivência do estoque cultivado, então este é um problema que deve ser controlado em vez de evitado.
A qualidade sanitária do estuário ou da baía é outro aspecto secundário muito importante, dado que a atividade filtradora dos moluscos pode causar sérios danos à saúde do consumidor. Embora os moluscos cultivados em locais com a presença moderada de coliformes possam ser purificados através da depuração, este tratamento implica custos adicionais, além de complicar a logística e a integração das etapas de cultivo e de processamento. A seleção de locais distantes de centro urbanos aumenta as chances de evitar contaminação de origem fecal.
A condição de logística é outro fator a ser considerado. A proximidade de uma propriedade com um ponto de apoio para manejar os moluscos e guardar equipamentos, a presença de um atracadouro, trapiche ou rampa para barcos, as vias de acesso para os seus empregados e para o escoamento do produto, a disponibilidade de mão de obra local, o acesso à energia elétrica e o abastecimento de água doce, a proximidade de mercados consumidores e de fornecedores de insumos e a segurança nas redondezas são todos aspectos a serem analisados no quesito logístico.
O roubo é um problema para a maricultura em todos os países onde ela é realizada. Embora roubos e atos de vandalismo sejam riscos reais ao cultivo, o fato de o local selecionado ser bem na frente da casa do produtor não garantirá necessariamente que estes eventos não ocorram, a menos que ele possa arcar com os custos de manter uma vigilância contínua da fazenda.
Um aspecto importante é a boa relação com seus vizinhos e com os demais usuários da zona costeira. Se sua fazenda empregar máquinas e motores que façam barulho, é importante verificar com antecedência qual seria a distância da costa que o ruído não incomodaria os moradores e, mesmo assim, operar as máquinas apenas no horário comercial. Certifique-se de que sua fazenda não será localizada em uma área de tráfego intenso de embarcações, e mantenha uma sinalização náutica instalada para evitar que navegantes inadvertidos atropelem suas estruturas de cultivo. Como nem sempre é possível reunir todas as características desejáveis de um local para a instalação de uma fazenda marinha, o produtor deve primeiramente atender as necessidades biológicas da espécie e tentar encontrar um local que atenda satisfatoriamente a maior parte dos aspectos logísticos.
Em alguns casos, onde fatores como disponibilidade de alimento, qualidade sanitária da água e segurança não estejam simultaneamente disponíveis, pode ser interessante manter duas áreas de cultivo, sendo uma para as sementes no início do cultivo e outra área para a fase de crescimento final. A proibição temporária de colheita em um determinado local devido à floração de algas tóxicas, e a consequente interrupção no abastecimento pode enfurecer seus clientes se você não tiver outra área onde possa colher seu produto. Embora a manutenção de duas áreas de cultivo possa significar um aumento no custo de produção, em algumas circunstâncias esta alternativa pode ser desejável ou necessária.
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Felipe Matarazzo Suplicy começou sua carreira como um produtor artesanal de mexilhões de 1990 a 2000. Formado em Biologia, obteve Mestrado em Aquicultura pela UFSC e PhD em Aquaculture pela University of Tasmania. Em 1998, foi agraciado com o Prêmio Jovem Cientista cujo tema naquele ano foi "O Oceano como Fonte de Alimentos". Entre 2003 e 2010, atuou como Coordenador Geral de Maricultura no Ministério da Pesca e Aquicultura, onde auxiliou a desenvolver o marco legal para o setor e coordenou projetos de fomento em todos estados costeiros brasileiros. Atuou como consultor especialista da FAO, governos, empresas e outras instituições internacionais. Em 2011 criou a Marine Equipment, uma empresa especializada na prestação de serviços e equipamentos para a aquicultura, com ênfase na mecanização e produção industrial. Desde 2014 exerce o a função de pesquisador em maricultura no Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca – CEDAP da Epagri.
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