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Genética
17 de Junho de 2020 Rodolfo Luís Petersen
As diferenças entre o crescimento e a resistência a doenças

Na coluna da edição 18 finalizamos com o seguinte parágrafo:

“Existem duas formas de obter maiores respostas à seleção:

a) Obtendo maiores herdabilidades através da padronização e manejo do ambiente de cultivo ao longo das gerações.

b) Aplicando intensa seleção reduzindo a população selecionada.”

 

 

 

 

Quando analisamos a caraterística “crescimento” não existem dúvidas a nível da carcinicultura internacional que há linhagens de crescimento rápido. Dependendo das condições de cultivo, podem apresentar taxas de crescimento de até 5,0 gramas/semana (já recebi e-mail de até 7,0). A resposta positiva no melhoramento da taxa de crescimento se deve ao fato da caraterística apresentar elevada herdabilidade na maioria das populações estimadas, assim como, de possibilitar aplicar elevadas intensidades de seleção.

 

Por que é possível aplicar elevadas intensidades de seleção?

Em primeiro lugar pelo tamanho da população que pode ser desafiada a um determinado sistema de cultivo. Além disto, a variável “crescimento” não tem apresentado interação genótipo-ambiente quando as populações são cultivadas em diferentes densidades. Isto significa que famílias e indivíduos selecionados em cultivos de alta densidade, suas progênies crescem muito bem em baixas densidades. Os programas familiares aplicam o método de seleção combinada (os melhores indivíduos das melhores famílias), geralmente cultivando as gerações sob seleção em cultivos controlados heterotróficos ou em recirculação. Esta estratégia garante um ambiente estável e similar dentro de Núcleos de Reprodução (NBC / Nucleus Breeding Centers) possibilitando a obtenção de altas herdabilidades estimadas, e como consequência, elevadas respostas à seleção. Alternativamente, como no caso da indústria equatoriana, as estratégias adotadas foram de seleção individual no campo, visando elevar a taxa de crescimento de cultivos semi-intensivos. Neste caso, as populações desafiadas são muito grandes, possibilitando fortíssimas intensidades de seleção. Estes programas que aplicam a seleção individual têm aplicado estratégias de formação de sub-populações com rastreabilidade para entrecruzar-lhas e evitar um acréscimo importante da endogamia em função da ausência de controle do pedigree.

 

E a resistência a doenças?

Aqui o buraco é mais em baixo. A resistência a doenças apresenta baixas herdabilidades em função da dificuldade de padronizar o ambiente. Para desafiar os indivíduos precisamos infectá-los com o patógeno ao qual queremos produzir resistência. Entre as variáveis que deveríamos controlar para garantir que todos os indivíduos desafiados tenham o mesmo ambiente podemos destacar: modo de infecção, tempo de exposição, quantificação do inóculo viral e genótipo viral utilizado.

Por outro lado, no caso da resistência, precisamos realizar seleção familiar, já que teremos que utilizar como futuros reprodutores os irmãos dos desafiados. Isto limita o tamanho da população e a intensidade de seleção que pode ser aplicada. Neste caso, o tamanho da população desafiada geralmente é baixo, não ultrapassando as 250 famílias por ano, e ainda divididas em 3 lotes de formação (75-80 famílias por lote), o que dificulta ainda mais a padronização do ambiente de cultivo. Sendo assim, as intensidades de seleção terminam sendo muito baixas já que a proporção selecionada não pode ser muito elevada. Outro fator desmotivador é que os dados existentes da correlação genética entre resistência a doenças e crescimento são negativos, resultando no fato de que as famílias que mais crescem são também as que possuem menor resistência.

 

 

 

 

Existem experiências interessantes com relação a isto. Uma delas é o caso de uma empresa de genética muito famosa que abordou o problema de outro ponto de vista. O programa genético de resistência consistiu na formação de famílias consanguíneas cruzando irmãos completos e desafiando as progênies a fortes intensidades de seleção intra-familiar. Isto levaria ao longo de uma série de gerações ao aumento da resistência pelas elevadas pressões de seleção, fixando genes de interesse e “purgando = eliminando” aqueles genes deletérios, sendo expressos pela endogamia. A ideia era tornar essas famílias resistentes e entrecruzar-lhas entre elas para a produção do produto comercial.

Outro caso de análise é novamente o caso equatoriano. Quando o Equador foi acometido pelo vírus da mancha branca, as empresas que tinham recursos para enfrentar o problema começaram a desafiar milhares de pós-larvas de forma maçal (sem controle de pedigree), assim como separar os juvenis sobreviventes no campo a surtos da doença. Tratando-se de um dos maiores produtores mundiais com um número muito elevado de laboratórios de produção de pós-larvas, com muitas empresas desafiando e produzindo reprodutores selecionados. Isto levou a aplicar elevadíssimas intensidades de seleção. A endogamia foi evitada em função do tamanho populacional e elevado fluxo gênico entre empresas devido ao “roubo” constante de material genético. Após um número significativo de gerações, a sobrevivência média foi melhorada. Apesar da reduzida taxa de crescimento em função da correlação genética negativa existente entre as caraterísticas mencionadas, os resultados médios eram compatíveis a nível comercial. Após esta etapa “empírica” da genética equatoriana, programas sérios de seleção para crescimento foram implementados. Não foi mais do que uma seleção em tandem não intencionada. Primeiro selecionando para uma caraterística para posteriormente iniciar a seleção para outra.

 

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Capa do colunista Rodolfo Luís Petersen
Rodolfo Luís Petersen

Zoólogo, Mestre em Aquicultura pela Universidade Federal de Santa Catarina e Doutor em Genética e Evolução pela Universidade Federal de São Carlos (SP). Pesquisador e Gerente do Setor de Maturação do Laboratório de Camarões Marinhos (UFSC) desde 1990 até o ano 2001. Em 2003 trabalhou no Departamento de Genética da AQUATEC e desde janeiro de 2004 até dezembro de 2006 foi Gerente de Produção e Diretor Técnico do Laboratório Estaleirinho (Balneário Camboriú/SC). Como professor da UNISUL (Universidade do Sul de Santa Catarina), trabalhou em genética de peixes em parceria com a Piscicultura Panamá (Paulo Lopes/SC), entre 2006 e 2009. Atualmente trabalha como professor e pesquisador no curso de Engenharia de Aquicultura de Centro do Estudo do Mar (CEM/UFPR) e coordena o GECEMar (Laboratório de Biologia Molecular e Melhoramento de Organismos Aquáticos) da Instituição.

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