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Navegando na Aquicultura
05 de Julho de 2022 Rodolfo Luís Petersen
Qual é a razão do esvaziamento dos cursos de Engenharia de Aquicultura?

O projeto Cultura da Água é um projeto de extensão universitária da Universidade Federal do Paraná que visa a divulgação da Aquicultura na sociedade. E a pergunta do milhão é: A sociedade sabe o que é a Aquicultura?

Para mim a resposta é: NÃO

Muitos respondem: Apicultura? O que é isso, criação de peixes de aquário?

Quando me perguntam o que é um Engenheiro de Aquicultura respondo: “Assim como na terra existem os Engenheiros Agrônomos, na água existem os Engenheiros em Aquicultura, eles cultivam organismos aquáticos”.

 

 

 

 

Histórico dos cursos no Brasil

Trabalhos interessantes foram realizados analisando a situação dos cursos de Engenharia de Aquicultura no Brasil. Trompeta e Nunes, na edição número 21 da Revista Aquaculture Brasil (2019), exploram e analisam vários aspectos dos engenheiros em Aquicultura e de Pesca como perfis, mercado de trabalho e remunerações, mas não analisam o nível de ingresso e egresso dos cursos ao longo do tempo. Já Jussara Gonçalves na sua tese de mestrado na Universidade Federal de Santa Catarina (2016), analisando dados de evasão do Curso de Engenharia de Aquicultura (UFSC) observou 25% de evasão entre os anos de 1999 e 2004, e a partir de 2015 o porcentual subiu, chegando a 45,68%. Entende-se por evasão qualquer saída do aluno da universidade ou de um de seus cursos, definitiva ou temporariamente, por qualquer motivo, exceto a diplomação. Dados mais recentes indicam que esses números veem subindo, ou se mantendo, não havendo melhorias. Já no curso de Engenharia de Aquicultura do Campus Pontal do Paraná (UFPR), reformulado no ano 2015 a partir de um curso de Tecnólogo Superior em Aquicultura, até o ano 2018 a média de evasão foi de 61,79%. Se analisarmos o número de alunos candidatos por vaga que inscrevem-se no vestibular na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o primero curso de Engenharia de Aquicultura do Brasil, entre os anos 2010 e 2018, o índice era aproximadamente 2 candidatos/vaga, no ano 2019 caiu para 1,1 candidato/vaga e nos anos 2020, 2021, e 2022 de 0,59, 0,35 e 0,16 respectivamente. Na UFPR não está muito diferente, os ingressantes no presente ano, tanto no curso de Engenharia de Aquicultura de Palotina como de Pontal do Paraná, o número é menor de dez alunos. Parte da problemática pode ser atribuída ao reflexo da pandemia do coronavírus, mas a situação já era crítica.

Na minha opinião, a raíz do problema, da falta de procura nos cursos, é o desconhecimento da Aquicultura pela sociedade como um todo. No curso de Agronomia não acontece. A aquicultura está fora de nossa cultura. Mas... como assim? o Brasil não chegou a ter um Ministério de Aquicultura e Pesca? Pois é, mas ainda acho que é extremamente pouco conhecida. Nem os alunos ingressantes sabem ao certo do que se trata. Eles aparecem para “ver qual é”, assim como pela facilidade de ingresso ao curso em função da baixa demanda.

Tratando-se de Universidades Federais e recursos públicos, em primeiro lugar, precisamos de uma divulgação massiva do que significa a Aquicultura e seu rol para o desenvolvimento social e produção de alimentos. E, passado o período pós-pandemia, com regularização e ajustamento de nossos jovens, uma avaliação criteriosa. O resultado da avaliação nos levará a um reordenamento, com dados precisos, que auxiliem a tomada de decisão sobre o destino de alguns cursos. Alternativamente, poderemos verificar a possibilidade de transformar em cursos de especialização ou mestrados profissionalizantes para os graduados em zootecnia, veterinária, agronomia, oceanografia e biologia, como sempre foi antes da criação dos cursos de Engenharia.

O Dr. Giovanni Lemos de Mello, professor da UDESC (SC) no curso de Engenharia de Pesca, e editor-chefe da revista Aquaculture Brasil, na sua edição número 23 ressalta: “Há tempos que características como comprometimento, iniciativa, assiduidade, honestidade, responsabilidade, ética, capacidade de trabalhar em equipe, criatividade, entre outras, são importantes para qualquer profissional de qualquer área. O “feijão com arroz” da aquicultura vários profissionais podem se especializar, na linguagem comum, podem “desenrolar”. Agora, as características acima citadas, como aprender ou desenvolver? Vêm de berço? Viva os administradores, nutricionistas, engenheiros de alimentos, engenheiros de produção, médicos e advogados que queiram se especializar na área de aquicultura”.

 

 

 

 

A pergunta é: será que as caraterísticas supracitadas pelo professor se encontram enraizadas em nossos gestores e em nós mesmos como professores universitários, e que nos levem a uma boa tomada de decisões com relação a problemática dos cursos de Engenharia de Aquicultura no Brasil?

O caso do Chile é muito interessante. Meu amigo e colega Francisco Lagreze me explica: “Dos 10 cursos de Engenharia de Aquicultura criados a partir do boom da indústria do salmão, todos fecharam. Universidades privadas sem procura, sem ser negócio, fecham. A indústria do salmão precisando de profissionais. São contratados Engenheiros de Produção, mas... existe uma forte demanda técnica. Meus amigos Engenheiros de Aquicultura da minha geração estão ganhando muito bem no Chile”. Pancho acrescenta, quando lhe pergunto, por que você acha que no Chile não tem procura? Ele responde: “Em princípio pela necessidade de ir trabalhar em locais isolados e com salários iniciais baixos quando comparados com outros engenheiros, terminam contratando biólogos, veterinários etc.”

E no Brasil, quando os cursos vão fechar?

Se precisam de Engenheiros de Aquicultura no Brasil?

Quais são os anseios das novas gerações? Estão dispostos a ir a trabalhar no campo? Estão dispostos a ter aquele plus de dedicação que Aquicultura precisa?

Bom, na prática, vamos deixar para descascar este abacaxi para a nova leva de gestores públicos que assumam a pasta dos ministérios e para que os coordenadores e gestores das universidades públicas reflitam sobre este tema. Gostaria de deixar claro que não acredito que nem sequer um real seja mal gasto em educação. Todo e qualquer real é válido, nem tampouco acredito na universidade privada. O único que acho importante é que cada real investido seja bem gasto. Como professor universitário tenho visto muitos estudantes engessados, e até mesmo que tem se distanciado do curso antes de sua formação, porém, que independentemente de sua atuação ou não na área de estudo, se transformaram em pessoas mais cultas e capazes de realizar funções importantes para o desenvolvimento do país. Vamos torcer e trabalhar para que este cenário mude, e que aquicultura continue crescendo de forma sustentável no Brasil, com o apoio de profissionais específicos e bem formados.

 

 

 

 

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Rodolfo Luís Petersen

Zoólogo, Mestre em Aquicultura pela Universidade Federal de Santa Catarina e Doutor em Genética e Evolução pela Universidade Federal de São Carlos (SP). Pesquisador e Gerente do Setor de Maturação do Laboratório de Camarões Marinhos (UFSC) desde 1990 até o ano 2001. Em 2003 trabalhou no Departamento de Genética da AQUATEC e desde janeiro de 2004 até dezembro de 2006 foi Gerente de Produção e Diretor Técnico do Laboratório Estaleirinho (Balneário Camboriú/SC). Como professor da UNISUL (Universidade do Sul de Santa Catarina), trabalhou em genética de peixes em parceria com a Piscicultura Panamá (Paulo Lopes/SC), entre 2006 e 2009. Atualmente trabalha como professor e pesquisador no curso de Engenharia de Aquicultura de Centro do Estudo do Mar (CEM/UFPR) e coordena o GECEMar (Laboratório de Biologia Molecular e Melhoramento de Organismos Aquáticos) da Instituição.

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Charge Edição nº Publicado em 18/09/2023
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