A criação de peixes ornamentais de água doce vem crescendo significativamente, resultado do avanço de técnicas de produção que tornam viável fazer chegar ao aquarista peixes em diversidade, quantidade e qualidade. A possibilidade de utilizar tanques externos, onde a produção de organismos alimento é facilitada, é uma das explicações para estes resultados. A par dos avanços dos últimos anos, e da entrada no mercado de empresas inovadoras e dispostas a mudar a realidade do setor, a produção de peixes ornamentais de água salgada ainda está restrita a poucas espécies, ficando dependente do extrativismo nos recifes de corais.

Uma das principais razões disto é a dificuldade na reprodução em cativeiro de diferentes espécies de peixes de recifes de corais. Melhor dizendo, muitas vezes os peixes até se reproduzem nos aquários, mas suas larvas são muito pequenas, inviabilizando a utilização de técnicas tradicionais de larvicultura (que usam rotíferos Brachionus sp. e artemias Artemia sp.). Ocorre que a abertura da boca destas larvas é muito diminuta, impedindo que consigam ingerir organismos alimento tão grandes.

Nos oceanos, a base da alimentação das larvas de peixes de recifes de corais está relacionada a náuplios de copépodes. Muitos copépodes apresentam náuplios com tamanho inferior a 50 micra, facilitando a ingestão por parte das larvas de peixes marinhos. Em alguns casos, entretanto, recentes estudos apontam que larvas de certas espécies de peixes precisam de organismos alimento ainda menores. Já existem pesquisas visando avaliar a utilização de protozoários ciliados como o Strombidium sp. que têm dimensões inferiores a 40 micra!!!

Vamos ponderar que o maior gargalo atualmente na produção de peixes ornamentais marinhos em cativeiro reside em conseguir realizar larviculturas com sucesso. E que o sucesso de uma larvicultura está intrinsecamente ligado a conseguir fazer com que as larvas se alimentem adequadamente e se desenvolvam até a metamorfose.

Neste aspecto, será que não deveríamos estar alocando nossos esforços de pesquisa em evoluir as técnicas de produção de organismos alimento? Em investigar novas espécies de organismos alimento (protozoários e copépodes), desenvolvendo técnicas de produção massal de baixo custo?

Considerando a questão complexa em isolar os organismos, identificar adequadamente as espécies e desenvolver as técnicas de cultivo para produção destes organismos em larga escala, será que não é a hora de criarmos uma “força tarefa” no Brasil, se possível com apoio internacional, para avançarmos nesta questão? E preferencialmente com a participação das empresas brasileiras que já estão trabalhando com estas técnicas?

Possivelmente, somente será possível obter produção de peixes ornamentais marinhos de recifes de corais em larga escala quando a questão da produção de organismos alimento adequados a estas espécies estiver dominada e difundida para os produtores e interessados.

E exatamente aqui chegamos na pergunta título desta coluna: criar peixes ou criar organismos alimento? Ou melhor o que vem primeiro: o peixe ou o alimento para o peixe?

Acredito que vocês já têm algumas informações para tentar responder esta pergunta. Se queremos que o Brasil se destaque no mercado internacional de peixes ornamentais marinhos, se queremos que os peixes marinhos deixem de ser extraídos dos delicados recifes de corais, já está na hora de focarmos nossos esforços em desenvolver a produção de organismos alimento de maneira mais pragmática.

Até a próxima coluna. E não esqueçam que a aquicultura ornamental, de pequena, só tem o peixe!!!

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