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Gestão de Resíduos
22 de Junho de 2022 Ivã Guidini Lopes
A silagem de resíduos de pescado ainda é uma realidade?

 

 

O aproveitamento dos resíduos animais da aquicultura tem muitas formas e possibilidades. Para muitos, quando falamos sobre gerir e transformar esses resíduos, a produção de silagens de pescado logo vem à mente, especialmente para as pessoas que atuam na área da aquicultura há alguns anos. Esse método foi amplamente disseminado no Brasil e no mundo e, mesmo com certas limitações, ainda parece ser uma realidade para diferentes atores na aquicultura. Vamos discutir um pouco sobre ele neste e no próximo artigo da coluna Gestão de Resíduos.

A silagem de pescados pode ser definida como um produto líquido/pastoso produzido a partir do pescado inteiro ou de parte dele, ao qual se adicionam ácidos, enzimas ou bactérias produtoras de ácido láctico, o que resulta em uma liquefação desses resíduos sólidos. De modo geral, a aplicação das silagens é destinada à alimentação animal, sendo combinada com outros ingredientes proteicos para a formulação de rações. Em casos mais raros, a silagem pode ser também utilizada como fertilizante na agricultura. No entanto, devido ao seu pH geralmente ácido (variando entre 4 e 6,5), compostos orgânicos produzidos a partir desses mesmos resíduos são mais recomendados.

As silagens possuem composição variada, a qual depende em primeiro lugar do resíduo orgânico utilizado em sua produção. Por exemplo, resíduos mais ricos em proteínas como peixes inteiros, resultam em silagens de maior qualidade em comparação às silagens produzidas com as carcaças de peixes filetados. Silagens de pescado podem apresentar uma composição variando entre aproximadamente 35 e 60% de proteína bruta e 5 a 15% de gordura em base seca, e normalmente apresentam teor de umidade superior a 65%, sendo exatamente este o grande ponto da discussão. Além disso, devido ao processo químico de quebra de moléculas realizado na preparação das silagens, estas apresentam uma composição interessante de aminoácidos, como metionina, cisteína, arginina e outros, prontamente disponíveis para a absorção pelos animais.

 

 

 

 

Desde a década de 90, milhares de estudos já foram realizados com a introdução de silagens de pescado na alimentação de peixes, camarões e outros animais. Muitas dessas pesquisas trazem bons resultados no que diz respeito ao crescimento e desenvolvimento dos animais, à conversão alimentar e aos custos das dietas, os quais muitas vezes são mais baixos devido à utilização de um ingrediente proteico oriundo de resíduos. Não somente para animais aquáticos, mas diversos estudos também demonstraram os benefícios das silagens de resíduos de peixes no crescimento e desempenho produtivo de galinhas poedeiras. Isso demonstra claramente o alcance que essa tecnologia pode atingir na produção animal como um todo.

Mas aí vem a pergunta: por que não vemos rações produzidas com silagens de pescados no mercado, disponíveis para compra? Muitos fatores podem auxiliar na resposta para essa pergunta, como por exemplo uma das características colocadas nos parágrafos anteriores: o teor de umidade das silagens. Como é possível utilizar um alimento com tal teor de água na alimentação de animais da aquicultura? Pensando que a maioria das fábricas de ração trabalha com a farinha de peixe como ingrediente proteico, é fácil perceber que uma grande mudança nessa linha de produção tão bem estabelecida não é algo simples de se atingir. Adicionalmente, os resultados econômicos e de desempenho de rações com farinha de pescados geralmente são bastante superiores aos das silagens. Mas isso não significa que devemos ignorar essa tecnologia, pois ela tem suas possíveis aplicações!

Vamos imaginar um pequeno produtor de tilápia que queira reduzir um pouco seus custos com rações. É perfeitamente possível que este produtor produza silagens de pescado em sua propriedade, utilizando os resíduos gerados in situ, e prepare uma ração caseira com a inclusão desse material. É claro que este processo deve ser acompanhado por um técnico capacitado e que garanta a adequada higiene ao longo do processo e dos produtos finais produzidos. Esta é uma maneira simples e efetiva de se promover a sustentabilidade econômica e ambiental em uma propriedade!

 

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Capa do colunista Ivã Guidini Lopes
Ivã Guidini Lopes

Ivã Guidini Lopes é biólogo, formado pela UNESP de São José do Rio Preto/SP, realizou mestrado e doutorado em aquicultura pelo Centro de Aquicultura da UNESP, em Jaboticabal/SP. Atua na aquicultura desde 2014, realizando pesquisas científicas e práticas de extensão aquícola na área de gestão e tratamento de resíduos sólidos orgânicos. Possui experiência com métodos de compostagem termofílica e de tratamento de resíduos com larvas de mosca soldado-negro, assim como da aplicação dos produtos gerados nestes processos, visando a promoção da economia circular e o aumento da sustentabilidade do setor produtivo como um todo.

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