Caros leitores, desta vez vamos abordar um aspecto pouco “iluminado” na produção de organismos aquáticos: a iluminação (desculpem o trocadilho...). Vocês já notaram como sempre estamos focados em sistemas de filtragem, novos modelos de produção, diferentes estratégias alimentares, a constante busca na melhoria dos índices de produção, mas praticamente nenhuma atenção é direcionada aos sistemas de iluminação de nossos laboratórios?
Que atire a primeira pedra quem trabalha em um laboratório de produção de organismos aquáticos que possui um sistema de iluminação que leva em conta as exigências das espécies criadas, e que as lâmpadas são trocadas dentro de sua vida útil e não quando simplesmente “queimam”... Vocês sabiam que é recomendável substituir as lâmpadas fluorescentes após 8 a 10 meses de uso? Após este tempo estas lâmpadas sofrem grande decréscimo na quantidade de luz emitida.
Agora que detenho a atenção de vocês vou falar um pouco da complexa questão da iluminação e do quanto temos que avançar neste aspecto da aquicultura de precisão.
E por falar em aquicultura de precisão e medição de parâmetros, vocês sabiam que a luz pode ser medida? A quantidade de luz é medida em lux e a temperatura da luz é medida em Kelvin. Dá para ser ainda mais específico e avaliar a radiação fotossinteticamente ativa (o espectro de luz “visível” por animais ou plantas que realizam o processo de fotossíntese) através da medida de radiação expressa em PAR (Photosynthetically Active Radiation). Por exemplo, em recifes de corais tropicais ao meio dia recebem até 130.000 lux por metro quadrado!!! Vocês ainda acham que aquelas lampadazinhas fluorescentes de 40W são adequadas???
Os diferentes organismos aquáticos apresentam distintas exigências por luz. Para acompanhar as variações de luminosidade, os peixes possuem um relógio endógeno, constituído de fotorreceptores sensíveis à luz e de sistemas humorais e neurais que informam a todo o organismo o estado de iluminação ambiental (Falcón et al., 2010). Imaginem a importância da luz para ambientes de recifes de coral em comparação com o habitat de grandes bagres de rios de águas com elevada turbidez. Ou as diferentes necessidades de luz dos peixes de meia água como os olhetes (Seriola lalandi) e peixes de fundo que utilizam abrigos como a garoupa-verdadeira (Epinephelus marginatus). É óbvio que apresentam exigências diferentes. Isso sem falar do fotoperíodo, que corresponde à duração do tempo de luz ao longo do dia. Qual é o fotoperíodo que é recomendado para o organismo aquático que estamos trabalhando?
Aqui começa o desafio. Poucos estudos foram realizados com diferentes espécies de organismos aquáticos para se definir as exigências de iluminação (quantidade e disponibilidade de luz ao longo do tempo). Um dos segmentos mais desenvolvidos é o dos aquários de ornamentação, onde muito investimento é realizado por grandes empresas para desenvolver sistemas de iluminação que atendam as exigências de plantas aquáticas e corais. O mercado disponibiliza atualmente uma expressiva variedade de lâmpadas de diferentes espectros luminosos, comprovando a importância da iluminação na manutenção de organismos aquáticos.
Estudos avaliando os efeitos da iluminação na larvicultura já comprovaram que substanciais melhorias podem ser obtidas no crescimento e sobrevivência quando uma iluminação adequada é disponibilizada. Larvas de peixes são reconhecidamente predadoras visuais. Na larvicultura de peixes marinhos a iluminação é essencial, visto a necessidade das larvas localizarem as presas vivas por contraste. Um estudo com larvas de peixe palhaço (Amphiprion melanopus) comprovou que um fotoperíodo de 16C:8E (16 horas de iluminação seguida por 8 horas de escuro) proporcionou crescimento mais rápido e redução no período da larvicultura comparativamente ao fotoperíodo de 12C:12E ou 24C:0E. Outro estudo avaliou distintas intensidades de iluminação (20–50, 600–850 e 2700–3500 lux) sobre a coloração do peixe palhaço (Amphiprion ocellaris). O melhor resultado foi obtido com a menor intensidade de luz. Por outro lado, a iluminação também interfere na reprodução. O binômio temperatura e fotoperíodo já vem sendo utilizado por laboratórios produtores de formas jovens, visando alongar o período reprodutivo e maximizar a utilização de suas instalações.
Entretanto, uma busca na literatura comprova que praticamente não existem estudos disponíveis sobre as exigências de iluminação necessárias ao cultivo da maioria das espécies nativas do Brasil. Quando disponíveis, a maioria compara diferentes fotoperíodos mas não avalia nenhum aspecto relativo à quantidade de luz. Espero que esta coluna estimule a expansão dos estudos sobre a importância da iluminação para nossas espécies. Temos no conforto luminoso uma grande oportunidade para sermos cada vez mais precisos na aquicultura que desenvolvemos. Precisamos, portanto, voltar nossos esforços para ampliar o conhecimento sobre todos os aspectos relativos ao efeito da luminosidade sobre as espécies que estudamos e cultivamos.
Até a próxima coluna!
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