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Ranicultura
01 de Junho de 2018 Andre Muniz Afonso
Monitoramento da qualidade da água: Fatores químicos parte II e fatores bióticos

 

 

Dando continuidade aos parâmetros químicos de qualidade da água, de forma complementar ao que explicamos na última coluna, a dureza e a alcalinidade da água, ambas mensuradas por meio da quantidade de CaCO3 em mg/L, determinam o que chamamos de efeito tampão, impedindo oscilações bruscas no pH diário do tanque. A dureza é representada pela quantidade de íons metálicos bivalentes na água (ex. Ca+2 e Mg+2), enquanto que a alcalinidade considera as bases valoráveis presentes nela (ex. CO3 -2, HCO3 - e OH- ). Outros fatores químicos que merecem destaque são: o ferro, cloreto de sódio e o cloro.

O ferro (Fe) é um elemento químico comumente encontrado no solo brasileiro, inclusive em águas subterrâneas não muito profundas, como aquelas oriundas dos poços semiartesianos. Quando encontrado em concentrações superiores a 1mg/L pode representar perigo para os girinos. O processo de aeração, realizado na filtragem anterior ao abastecimento, contribui para a precipitação do ferro solúvel, diminuindo os riscos aos animais.

O cloreto de sódio ou sal comum (NaCl), quando presente na água, inviabiliza a sobrevida dos anfíbios, sejam eles adultos ou não. Este fenômeno é conhecido como “equilíbrio osmótico”, ou seja, ocorre a movimentação de água do meio menos concentrado para o mais concentrado, até que este equilíbrio seja estabelecido. O anfíbio (meio hipotônico), por possuir a pele altamente permeável (pele porosa), não possui barreira eficiente para evitar a perda de líquidos (desidratação) para o meio externo salino (água salobra ou salgada; meio hipertônico), evoluindo à óbito.

 

 

 

 

Já o cloro (Cl), por ser oxidante, remove o muco presente na pele dos animais, levando-os ao estresse pela dificuldade nas trocas gasosas (respiração cutânea) e irritabilidade (queimação), além de promover danos diretos às brânquias, prejudicando, mais uma vez, a respiração. Os girinos são mais afetados do que imagos e rãs (pós-metamorfoseados) e seu nível de tolerância pode ser bem baixo. O teor de cloro livre presente nas águas tratadas (água potável), que varia de 0,2 a 2 mg/L, é considerado letal para girinos e não letal para imagos e rãs. Cabe lembrar que, nos ambientes de reprodução dos anfíbios, recomenda-se a utilização de águas sem resíduos de cloro e que, quanto mais ácido o pH, mais tóxico fica o cloro. Caso exista a necessidade da utilização de águas contendo cloro para girinos, recomenda-se que seja realizada uma aeração prévia por 24h (eliminação) ou uma neutralização por meio do uso do tiossulfato de sódio.

Os fatores bióticos ou biológicos que interferem na qualidade da água são todos aqueles promovidos por seres vivos que, de alguma forma, influenciam às suas mudanças gerando algum benefício ou malefício aos animais de interesse. Citamos em colunas anteriores que, a presença do plâncton de origem vegetal (fitoplâncton) em quantidade equilibrada nos tanques, pode representar um interessante incremento alimentar para os girinos, enquanto que a presença de predadores, altas densidades, sobremanejo (manejo excessivo) ou a competição por alimento em policultivos, são considerados prejudiciais ao desenvolvimento dos animais.

Ao longo das colunas relacionadas ao tema “qualidade de água para a ranicultura”, procuramos apresentar, de forma resumida, alguns itens que possuem relação direta com a vida e o bem-estar dos animais. É importante lembrar que, o animal aquático depende de um ambiente equilibrado para poder viver de forma saudável e expressar o potencial produtivo desejado pelo criador, logo, cuidar da água é cuidar dos animais aquáticos!

Saudações ranícolas!

 

 

 

 

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Andre Muniz Afonso

Formado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Fluminense (UFF/2000), com mestrado em Medicina Veterinária (Área de concentração: Patologia e Reprodução Animal-UFF/2004) e doutorado em Medicina Veterinária (Área de concentração: Higiene Veterinária e Processamento Tecnológico de Produtos de Origem Animal-UFF/2016). Desde 2009 é professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), no Setor Palotina (Palotina/PR), sendo responsável pelas disciplinas de Tecnologia do Pescado, Ranicultura e Análise Sensorial de Alimentos e Bebidas, bem como pelo Laboratório de Ranicultura (LabRan-UFPR). Tem experiência na produção, beneficiamento, industrialização e sanidade de organismos aquáticos, tendo atuado em diversos órgãos voltados a esta temática. Atua principalmente nos seguintes temas: Processamento e Inspeção Higienicossanitária de Produtos de Origem Animal, Vigilância Sanitária, Aquicultura, Sanidade Aquícola e Extensão Rural.

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