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Visão Aquícola
01 de Junho de 2018 Giovanni Lemos de Mello
Robalos não crescem?

 

Relutei um pouco em ser colunista da AB. Enquanto editor, a ideia sempre foi muito mais priorizar e dar voz a grandes nomes de nossa aquicultura, do que ocupar algumas páginas de edição impressa com minha opinião e talvez algumas bobagens... Mas enfim... chegou o dia!

Para estrear na AB, nada mais justo do que abordar o tema “criação de robalos”. Isto porque dediquei os 4,5 anos do meu doutorado para tentar compreender melhor a produção de robalos pelo mundo. Definitivamente, não foi um doutorado “acadêmico-científico”, aliás, nunca tive esta pretensão. Por outro lado, conduzir diversos experimentos de engorda, no laboratório e em fazendas de carcinicultura marinha, desde juvenis com 2,9 gramas até peixes com tamanho comercial, e ao final degustalos em um restaurante de culinária japonesa, foi incrível! Imagino que neste exato momento você deve estar se perguntando: “mas robalo cresce?” Ou talvez afirmando: “Ah Giovanni, pena que os robalos não crescem nada, né”. Calma lá amigo leitor, muita calma nessa hora.

Há muitos e muitos anos escuto muita gente falando algumas besteiras por aí, dizendo que os nossos centropomídeos não crescem nada, que sua criação comercial é inviável economicamente. Quanta bobagem! Ouvi também uma vez numa palestra, que o Brasil já gastou milhões em pesquisas com seus peixes marinhos, e que eles não têm potencial para produção. Que a solução seria importar o barramundi (robalo asiático) para o Brasil... sem comentários! A verdade é que pouquíssimos recursos foram investidos na ENGORDA dos peixes marinhos brasileiros, qualquer que seja a espécie (robalos, linguados, tainhas, serranídeos, etc).

Quem trabalha com aquicultura no Brasil está acostumado com os 90 dias de engorda do Litopenaeus vannamei, ou os 56 meses da tilápia. Ponto! Você não consegue convencer ninguém que um peixe que leve dois anos para chegar a 1 (um) quilo possa ser viável economicamente. A cultura brasileira do imediatismo está encravada no ambiente aquático de produção. Temos que lutar para mudar isso. Tempo de cultivo, por si só, não quer dizer nada.

 

 

 

 

Sim, engordar peixes marinhos tem lá seus desafios! Vejamos o caso do salmão do Atlântico (Salmo salar). Primeira espécie animal aquícola a dispor de programas de melhoramento genético, além de muitos avanços tecnológicos, numa indústria global com mais de 30 anos. Mesmo assim, são 100 gramas para os primeiros 18 meses. E qual o problema? Faça-se uma pré-engorda/berçário para esta fase inicial de crescimento mais lento e está resolvido! E o seabass (Dicentrarchus labrax), o robaloeuropeu? Quase dois anos para chegar em 400-450 gramas (segundo a FAO), e a Europa produziu 156,4 mil toneladas da espécie em 2014.

Confesso a vocês, até pensei em intitular esta coluna “Cultivo de robalos”, ou algo assim. Neste momento, enquanto escrevo este parágrafo, na verdade ainda tenho dúvidas. Seria uma satisfação enorme a cada dois meses apresentar algo sobre a produção de robalos pelo mundo e o potencial brasileiro (acho que os robalos são para mim o que os lambaris são para o Fábio Sussel, embora, em meu caso, ainda nem começamos a engatinhar!). Entretanto, já temos uma coluna sobre Piscicultura Marinha. Além disto, acompanho de perto a aquicultura de modo geral, e quero ter liberdade para poder escrever sobre outras espécies e sistemas produtivos nas próximas edições.

Contudo, o assunto sobre criação do robalo-flecha (ou outros robalos) não tem como acabar por aqui. Na verdade, mal vai dar para começar com esta primeira coluna... Apenas introduzindo alguns dados, o que eu descobri através de minhas pesquisas e o que posso afirmar sobre a espécie: em temperatura acima de 28°C, podese produzir um peixe de 1 (um) quilo em dois anos, a partir de juvenis de 2 ou 3 gramas. Isto partindo-se de reprodutores selvagens, sem nenhum tipo de domesticação ou melhoramento genético, além de rações nacionais inadequadas para a espécie. Como não há produção, não há ração.

No dia em que tivermos reprodutores domesticados, algumas gerações de melhoramento (por mais simples que seja) e uma nutrição adequada, o Centropomus undecimalis vai passar fácil de 1 kg nos primeiros 1824 meses. Se eu acredito no cultivo dos robalos, mesmo que seja o robalo-peva (C. parallelus), no Brasil? Eu aposto!

 

Faça o download e confira o texto completo com todas as ilustrações. Clique aqui

 

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Capa do colunista Giovanni Lemos de Mello
Giovanni Lemos de Mello

Graduado na primeira turma do Brasil de Engenharia de Aquicultura, pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC (2003), possui Mestrado (2007) e Doutorado (2014) pelo Programa de Pós-Graduação em Aquicultura da UFSC. A partir de 2002 atuou como consultor técnico em diversas fazendas de cultivo de camarão marinho de SC. Em 2006 fundou a empresa AQUACONSULT – Projetos e Serviços em Aquicultura e Meio Ambiente, sendo homenageado pelo Presidente do CREA-SC como a primeira empresa de aquicultura filiada ao órgão, no Estado. Atualmente é Professor Adjunto II do curso de Engenharia de Pesca da Universidade do Estado de Santa Catarina, campus Laguna, secretário de relações internacionais da Peixe BR e editor-chefe da Revista Aquaculture Brasil.

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Charge Edição nº Publicado em 18/09/2023
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