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Aquicultura Latino-Americana
01 de Agosto de 2016 Rodolfo Luís Petersen
Universidades Latino-americanas como geradoras de aquicultura produtiva

O que me motivou a escrever um artigo deste tipo foi o fato de trabalhar em um laboratório de uma universidade latino-americana com características particulares. Uma delas é ter coordenadores com o objetivo principal, além de formar profissionais, desenvolver o cultivo de camarão em nossa região, assim como promover a venda de pós-larvas para a manutenção de parte da equipe de trabalho. A venda é realizada a empresas privadas e a organismos estatais interessados no repovoamento de lagoas costeiras.

Uma característica importante do sistema é que o laboratório pode se manter sem recursos do Estado. Nosso laboratório como qualquer empresa privada está submetido as leis do mercado. Os gastos internos superaram as vendas pela quebra das empresas que cultivavam a espécie nativa Farfantepenaeus paulensis e pela avultada folha de pagamento para a manutenção de especialistas em cada área. Um empresário local introduziu a espécie exótica Litopenaeus vannamei e deu uma luz para resolver os problemas econômicos e sociais, já que manteve o emprego de vários pesquisadores e técnicos que dependiam da venda de pós-larvas.

A produção das empresas quebradas foi reativada oferecendo um caminho para o crescimento da atividade com a geração de emprego e renda. O produto “camarão nativo” não teve êxito por apresentar deficientes características zootécnicas, ou pelo menos ainda não possuímos a tecnologia para melhorá-las. E aqui é que entramos no aspecto negativo: o direcionamento da energia dos pesquisadores para produção paralelamente à atividade acadêmica torna deficiente o avanço no desenvolvimento de tecnologia. O resultado é positivo no âmbito de uma universidade de um país subdesenvolvido: gera emprego e o contato direto da universidade com a realidade do setor produtivo.

 

 

Investigação e Produção

Na Revista Panorama Acuícola Vol. 4 No 1, o doutor Jorge Calderón, diretor da Fundação CENAIM-ESPOL (Equador), manifestou que a ideia de integrar os setores acadêmicos e produtivos tem sido um tema discutido por mais de duas décadas na ESPOL, e que nenhum modelo havia chegado a materializar-se com êxito.

Tendo como base minha formação híbrida, penso que a dicotomia entre pesquisa básica e os centros de produção se deve à grande variabilidade que apresenta o camarão. Os trabalhos científicos oferecem um enorme volume de informação em todas as áreas, mas na maioria dos casos seus usos são restritos. Continuamos com a mesma tecnologia básica de produção faz 10 anos, tanto na reprodução como na engorda.

O cultivo de camarões gera milhões de dólares a nível mundial, e o segredo da atividade está mais escondido na seriedade e na eficiência técnico-administrativa da empresa que no manejo zootécnico. A variabilidade ecológica e biológica é muito ampla, e tanto o técnico como o administrador têm que ser extremadamente eficientes nas suas decisões. O gerente técnico deve possuir uma boa equipe de trabalho, excelentes caraterísticas de sociabilidade, respeito pelos demais, saber transferir informação, além de dar-lhe liberdade individual a cada pessoa para que não atue como um robô repetidor de rotinas.

Os doutores dos departamentos universitários (ou de centros de pesquisas) na sua grande maioria não valorizam o trabalho técnico. O problema é que por dentro da simplicidade técnica está escondido o grande nó de toda a questão: a grande variabilidade de resultados. Não temos muitas ferramentas tecnológicas para atuar e reverter situações adversas, dependendo na maioria das vezes da mão da mãe natureza. Isto faz que os doutores não resolvam a maior parte dos problemas e por isso se distanciem do setor produtivo, imaginando que suas pesquisas solucionaram os problemas no futuro, fazendo-os sentir importantes, alimentando seu ego, característica básica dos intelectuais.

 

Criação de Unidades de Produção

A infraestrutura de unidade de produção no contexto da universidade pode utilizar-se para o treinamento de futuros profissionais, oferecendo bolsas de trabalho a jovens universitários que necessitem trabalhar para financiar seus estudos. As pesquisas poderiam retirar amostras do Departamento de Produção, trabalhando desta forma em escala real. Esta visão pode valorizar o conceito de determinada universidade por parte dos alunos, ao sentirem-se formados dentro da realidade do mercado de trabalho.

O Departamento de Produção tem que competir com a empresa privada e inserida nas leis de mercado, sem subvenções do governo. Os lucros serão dirigidos ao financiamento das pesquisas do Departamento de Pesquisa e à formação de profissionais capacitados para o desenvolvimento sustentável da atividade.

A universidade tem como missão o ensino e a pesquisa, e anos após anos vem sofrendo cortes no orçamento igual aos órgãos de fomento à pesquisa. A proposta de criação de Unidades de Produção em universidades latinas subdesenvolvidas como maneira de financiar o desenvolvimento tecnológico pode ser interessante e conceitualmente positivista.

Hoje, quando os países subdesenvolvidos estão mais preocupados pela privatização das empresas estatais para o pagamento de suas dívidas públicas, a proposta de criar unidades produtivas em universidades do estado parece uma loucura. Temos que lembrar que existem milhares de jovens latino-americanos formados sem emprego que estariam concordando com a criação de departamentos de produção universitários.

Mas tudo bem, se é uma loucura este projeto para uma universidade do estado pode ser uma boa ideia para uma universidade privada.

* Este artigo foi publicado originalmente na revista Panorama Acuícola (México, Vol. 5 No 1 – Novembro/Dezembro de 1999) por Rodolfo Luís Petersen. Biólogo e Mestre em Aquicultura. Pesquisador e encarregado do Setor de Maturação do Laboratório de Camarões Marinhos da Universidade Federal de Santa Catarina (LCM), Florianópolis, Brasil.

 

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Rodolfo Luís Petersen

Zoólogo, Mestre em Aquicultura pela Universidade Federal de Santa Catarina e Doutor em Genética e Evolução pela Universidade Federal de São Carlos (SP). Pesquisador e Gerente do Setor de Maturação do Laboratório de Camarões Marinhos (UFSC) desde 1990 até o ano 2001. Em 2003 trabalhou no Departamento de Genética da AQUATEC e desde janeiro de 2004 até dezembro de 2006 foi Gerente de Produção e Diretor Técnico do Laboratório Estaleirinho (Balneário Camboriú/SC). Como professor da UNISUL (Universidade do Sul de Santa Catarina), trabalhou em genética de peixes em parceria com a Piscicultura Panamá (Paulo Lopes/SC), entre 2006 e 2009. Atualmente trabalha como professor e pesquisador no curso de Engenharia de Aquicultura de Centro do Estudo do Mar (CEM/UFPR) e coordena o GECEMar (Laboratório de Biologia Molecular e Melhoramento de Organismos Aquáticos) da Instituição.

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