As garoupas estão entre os peixes marinhos mais produzidos no mundo. Segundo a FAO, a produção global é de 155 mil toneladas, focada no mercado asiático de peixes vivos, a preços por volta de 60 dólares o quilo. Os serranídeos em geral possuem alta demanda para exportação. Em 2019, somente os Estados Unidos importaram 6.715 toneladas, 15% do Brasil (oriundas da pesca extrativista), a preços entre 10-12 dólares/kg.
A garoupa-verdadeira (Epinephelus marginatus) é uma espécie hermafrodita sequencial protogínica caracterizada por alta fidelidade ao local, crescimento lento, maturação sexual tardia e suscetível à sobrepesca. Essas características levaram sua inclusão na lista de espécies ameaçadas de extinção na categoria vulnerável, tanto pela União Internacional para a Conservação da Natureza, quanto pelo Ministério do Meio Ambiente no Brasil, onde atualmente no País a espécie tem sua captura proibida durante o período de 1° de novembro a 28 de fevereiro.
Devido à sobrepesca da espécie, a piscicultura marinha surge como uma forma de amenizar esses impactos em populações naturais. Assim, a criação da garoupa-verdadeira tem sido impulsionada pela redução da oferta da pesca de captura e pela sua relevância econômica, uma vez que é considerada um peixe nobre e muito apreciado, apresentando elevados valores de mercado.
No Brasil, a partir de 2007 a Redemar Alevinos, localizada em Ilhabela (SP), centrou esforços visando o desenvolvimento da criação da garoupa-verdadeira, E. marginatus. De forma inédita no mundo, a espécie teve o domínio de sua reprodução, larvicultura e alevinagem, em condições laboratoriais. Um marco para a piscicultura marinha brasileira e global!
Desde 2016 a Redemar produz com regularidade juvenis de garoupa-verdadeira, com peso médio individual de 2,0 g. Contudo, nestes primeiros anos, houve pouco interesse dos aquicultores brasileiros em aventurar-se na engorda da espécie. Desta forma, a empresa voltou-se para projetos ambientais, como o repovoamento de ambientes recifais do litoral paulista.
Com objetivo de fomentar o início da engorda no Brasil, através do apoio da Fapesp (Projeto GAROUPATEC) em 2019 a Redemar produziu juvenis de 100 g, para que a engorda pudesse ser validada em distintos sistemas de produção, sob escala produtiva, incluindo sistemas abertos e fechados, em terra e no mar.
Uma das experiências mais exitosas foi em viveiros originalmente construídos para a carcinicultura marinha, no Sul do Brasil. Ressalta-se que na Ásia a maior parte das garoupas são produzidas em pequenos viveiros de terra. No Brasil, este modelo de produção também mostrou potencial para a garoupa-verdadeira.
Uma parceria com a Mar do Brasil Aquicultura, empresa localizada em Laguna (SC), possibilitou a engorda de 2.000 juvenis até 500 g de peso médio. Face aos desafios de cultivá-las pela primeira vez, os resultados zootécnicos foram bastante positivos.
Atualmente, existem três empreendimentos de engorda no Brasil. A Mar do Brasil (Laguna/SC), Maricultura Costa Verde (Angra dos Reis/ RJ) e Prime (Alcobaça/BA). O curioso é que são três diferentes sistemas de produção (viveiros de camarão, tanques-rede marinhos e sistema aberto próximo ao mar). Hoje, estão alojadas 15.000 garoupas-verdadeiras na água, nestes três empreendimentos.
Para o próximo verão (2021-2022), a Redemar já possui mais de 150 mil alevinos encomendados, incluindo um novo player no Pará. Ou seja, um aumento de dez vezes em relação ao ano anterior, visando principalmente atender ao mercado externo. A partir de 2022, outras três fazendas de engorda serão instaladas. Duas empresas envolvidas pretendem trabalhar em sistema de integração, o que abrirá oportunidades para “engordadores” interessados na criação de garoupas.
Será a maior produção da história da empresa e, consequentemente, de 2023 em diante o Brasil passará a ter uma produção regular. A estatística da produção de garoupas no Brasil está saindo do zero e dos sonhos de muitos profissionais envolvidos, em especial da Cláudia e do Pedro, fundadores da Redemar.
Em princípio, o modelo de produção é bifásico, com duração de 18 meses e peso médio final de 600 g. Trata-se de um novo produto no mercado, a “garoupa prato”, o qual não concorre com a pesca extrativista.
O mercado atualmente busca regularidade, padronização, rastreabilidade e sustentabilidade, e estes critérios somente a piscicultura marinha poderá oferecer.
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Graduado na primeira turma do Brasil de Engenharia de Aquicultura, pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC (2003), possui Mestrado (2007) e Doutorado (2014) pelo Programa de Pós-Graduação em Aquicultura da UFSC. A partir de 2002 atuou como consultor técnico em diversas fazendas de cultivo de camarão marinho de SC. Em 2006 fundou a empresa AQUACONSULT – Projetos e Serviços em Aquicultura e Meio Ambiente, sendo homenageado pelo Presidente do CREA-SC como a primeira empresa de aquicultura filiada ao órgão, no Estado. Atualmente é Professor Adjunto II do curso de Engenharia de Pesca da Universidade do Estado de Santa Catarina, campus Laguna, secretário de relações internacionais da Peixe BR e editor-chefe da Revista Aquaculture Brasil.
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