Colunas
Nutrição Aquícola
01 de Agosto de 2016 Artur Nishioka Rombenso
É sustentável a indústria de alimentos aquícolas?

O que é sustentabilidade? O que é uma atividade sustentável? A definição e a aplicação da sustentabilidade são mais complexas do que parecem. De modo simples, esse termo pode ser definido como uma abordagem que visa a permanência de um processo durante um período de tempo. Uma atividade sustentável pressupõe que ela seja economicamente viável (lucrativa), ambientalmente consciente e socialmente responsável. A partir desse pressuposto, é sustentável a indústria de alimentos aquícolas?

Mais de 70% da produção aquícola mundial (principalmente a de carpa, tilápia, camarão, bagre, peixes marinhos e salmão) depende do fornecimento de ração. Estima-se que a produção de alimentos aquícolas aumente de 49,7 milhões de toneladas em 2015 para 87,1 milhões de toneladas em 2025. Uma gama de ingredientes é utilizada na fabricação de ração, porém os de origem marinha (farinha e óleo de peixe) são considerados os mais importantes. A indústria aquícola é a maior consumidora, demandando anualmente 68% da produção de farinha de peixe e 74% da produção de óleo de peixe. As “reduction fisheries” (espécies pesqueiras que servem de matéria-prima e são reduzidas para a produção de farinha e óleo de peixe) são consideradas estáveis e bem regulamentadas, mas é improvável que sua produção aumente no futuro. Vale ainda ressaltar alguns pontos normalmente esquecidos:

(1) a aquacultura consome 20-30 milhões de peixes selvagens na produção de farinha e óleo de peixe, mas produz 74,3 milhões de toneladas de pescado (dados de 2014 – FAO 2015), e (2) a produção global de farinha e óleo de peixe se mantém constante por mais de cinco décadas, enquanto que a aquacultura continua a crescer.

Dessa forma, a oferta limitada frente à crescente demanda é um fator determinante na majoração dos preços desses ingredientes. Por outro lado, essa realidade estimula a procura e o desenvolvimento de fontes alternativas de proteínas e lipídios para promover uma expansão sustentável da indústria aquícola.
O debate sobre a crescente utilização da farinha e óleo de peixe nos alimentos aquícolas é bastante polêmico. Nesse contexto, surgiu o conceito FIFO (do inglês “fish in fish out ratio”), que tem como objetivo mostrar quantas toneladas de peixes selvagens são necessárias para produzir uma tonelada de peixe de criação. O cálculo do FIFO é:

Para entender melhor a aplicação do FIFO, é importante saber os níveis de inclusão desses ingredientes nos alimentos aquícolas (Figura 1).

De maneira geral, as rações comerciais utilizam em média 24% de farinha e óleo de peixe. Mais especificamente, em alimentos para peixes herbívoros e omnívoros são utilizados em média apenas 4%, para peixes marinhos e carnívoros 30%, e para camarões Peneídeos 21%. A partir dessas informações, nota-se uma grande diferença entre as espécies de diferentes níveis tróficos ou níveis de carnivoria (esse tema será explorado futuramente).

A Tabela 1 exemplifica formulações típicas e modernas utilizadas para diferentes espécies com exigências nutricionais distintas (níveis de energia elevado, médio e baixo). Nota-se claramente a diminuição do uso da farinha de peixe, principalmente nas formulações de elevada energia para peixes carnívoros, e o aumento da inclusão de produtos vegetais como o concentrado proteico de soja.

No período de 1995 até 2006 houve um grande declínio no valor do FIFO, especialmente para peixes marinhos e peixes carnívoros (TACON e METIAN 2008). O salmão (1995-2006: 7,5 – 4,9), por exemplo, tinha um valor de 7,5 em 1995, indicando que para produzir uma tonelada de salmão eram necessárias 7,5 toneladas de peixes selvagens, mas em 2006 esse valor caiu para 4,9, sendo esperada uma diminuição ainda maior nos próximos anos.

Outras espécies também apresentaram redução no valor do FIFO, como a truta (6,0 – 3,4), os peixes marinhos (3,0 – 2,2) e os camarões Peneídeos (1,9 – 1,4). Apesar das espécies herbívoras e omnívoras apresentarem valores baixos do FIFO, algumas espécies como a tilápia (0,9 – 0,4) e os crustáceos de água doce (1,0 – 0,6) também apresentaram uma diminuição.

É previsto que a inclusão de farinha e óleo de peixe na composição dos alimentos aquícolas diminua progressivamente nos próximos anos, visando reduzir a utilização e a dependência dos mesmos. Assim, a tendência é que a farinha e o óleo de peixe se tornem ingredientes especiarias devido ao preço elevado e à oferta limitada, e portanto sejam utilizados em alimentos de altíssima qualidade apropriados para períodos específicos do ciclo de produção, como larvicultura, berçário, pré-despesca e reprodução.

Por fim, o propósito desse artigo foi apresentar alguns dos principais fatos relevantes para o desenvolvimento sustentável da indústria de alimentos aquícolas e gerar debate sobre os mesmos. Além disso, contribuir com seu conhecimento para uma reflexão sobre esse importante tópico.

Faça o download e confira o texto completo com todas as ilustrações. Clique aqui

 

Próxima
Patrocínio do colunista Artur Nishioka Rombenso
Colunista
Capa do colunista Artur Nishioka Rombenso
Artur Nishioka Rombenso

Artur N. Rombenso é oceanólogo Brasileiro de 28 anos e doutor em Nutrição aquícola pela Southern Illinois University Carbondale – EUA. Atualmente é professor/pesquisador no Instituto de Oceanografia na Universidade Autônoma de Baja California – México. Nos últimos 5 anos o Artur vem trabalhando com nutrição de peixes com ênfase em fontes alternativas de lipídeos e requerimentos de ácidos graxos. Possui vários trabalhos publicados em revistas científicas e técnicas, nacionais e internacionais, e ganhou 5 prêmios de melhor trabalho científico durante seu doutorado. Possui também grande experiência internacional participando e colaborando em projetos de pesquisa e extensão em mais de 7 países. Além do lado acadêmico, Artur auxilia na coordenação de pesquisa, extensão e produção de uma maricultura em Angra dos Reis – RJ. As principais linhas interesse se extendem desde nutrição (organismos aquáticos e humanos) à aquacultura, maricultura, lipídeos, ácidos graxos, e qualidade nutricional de frutos do mar. 

E-mail: arturnr@yahoo.com.br

Skype: artur.nishioka

CV: Research Gates

Categorias
Charges
Capa Que ventania!
Que ventania!
Charge Edição nº Publicado em 18/09/2023
Informativo

Assine nosso informativo para receber promoções, notícias e novidades por e-mail.

+55 (48) 9 9646-7200

contato@aquaculturebrasil.com

Av. Senador Gallotti, 329 - Mar Grosso
Laguna - SC, 88790-000

AQUACULTURE BRASIL LTDA ME
CNPJ 24.377.435/0001­18

Top

Preencha todos os campos obrigatórios.

No momento não conseguimos enviar seu e-mail, você pode mandar mensagem diretamente para contato@aquaculturebrasil.com.

Contato enviado com sucesso, em breve retornamos.

Preencha todos os campos obrigatórios.

Preencha todos os campos obrigatórios.

Você será redirecionado em alguns segundos!