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Green Technologies
07 de Agosto de 2021 Maurício Emerenciano
Casamento pra lá de produtivo! Parcerias público-privadas nos cultivos superintensivos em escala comercial

 

Tema debatido e citado em diversos fóruns, as parcerias público-privadas são iniciativas que aproximam a academia e o setor produtivo. É o melhor dos dois mundos: o rigor da ciência com a escala, demanda, especificidade e experiência da indústria. Na aquicultura, mais especificamente nos cultivos de camarões marinhos, essas parcerias vêm crescendo principalmente na área de nutrição (com testes de aditivos nas rações) ou com avaliações de suplementos na água. No entanto, são escassos no Brasil e no mundo os testes com aprimoramento de técnicas de produção ao longo de diversos ciclos, com desenvolvimento de protocolos específicos para determinada fazenda ou região, com sua respectiva análise de viabilidade econômica, acompanhamento rigoroso dos parâmetros de qualidade, da saúde dos animais, microbiologia da água e do manejo alimentar.  

Neste sentido, a coluna Green Technologies desta edição traz um exemplo inédito neste sentido no mundo (ao menos que se tem conhecimento). Uma parceria público-privada entre o CSIRO-Austrália e a empresa Viet-Uc do Vietnã realizada em uma de suas fazendas de engorda localizada no Mekong Delta. O CSIRO é a agência nacional de pesquisa da Austrália, e a Viet-Uc é a maior produtora de pós-larvas daquele país (Vietnã produz mais de 600 mil ton/ano), e que recentemente está investindo na engorda e processamento. Este projeto, no qual tive o imenso prazer de participar, ao longo de 3 anos acompanhou minuciosamente mais de 130 viveiros comerciais de produção. Todos os detalhes desse pioneiro projeto foram detalhados em recente artigo publicado na revista Global Aquaculture Advocate e replicado na revista Panorama Acuícola do México/Equador. 

 

 

Entre as principais características e o que mais chamam a atenção estão o trabalho de base de identificar os pontos críticos e de riscos. Um verdadeiro trabalho de “detetive” com intuito de antever os problemas, trazer consistência e uniformidade na produção, aumentar os índices produtivos, mas sempre com foco na lucratividade. Ao contrário de muitas frentes que priorizam os “quilos/m3” (produzir mais), um dos objetivos deste projeto foi identificar ao longo do tempo oportunidades de melhorias na viabilidade econômica. Ou seja, não basta somente produzir mais, mas sim produzir mais de maneira viável e competitiva, identificando os pontos de equilíbrio. 

Outra frente importante foi o treinamento constante de funcionários, a criação de um laboratório específico de qualidade de água (exclusivo para o projeto), com assistência de outros laboratórios com testes de PCRs, microbiologia da água e histologia dos animais. Além disso, foram realizados testes de novos sensores de água acoplados a inteligência artificial e arquivos em nuvem, e desenvolvimento de softwares customizados de manejo. A cada experimento, 20 a 24 viveiros de 600m³ em ambiente fechado (estufas) eram monitorados testando diferentes abordagens: sistemas (bioflocos, água-clara, híbridos, etc.), manejo alimentar, capacidade de suporte (150 a 600 camarões/m2), microbiologia da água e controle de patógenos, aditivos e suplementos na ração e na água, sistemas de aeração, estratégias de despesca, sensores e monitoramento em tempo real, manejo de sólidos, entre outros.  Os resultados ao final de 5 experimentos trouxeram sobrevivências constante com mais de 85%, conversões alimentares abaixo de 1,3 e produções uniformes com mais de 40 ton/ha/ciclo (últimos ciclos ultrapassando os 45 ton/ha/ciclo, com viveiros com média de apenas 1,2 m de profundidade).

Este projeto demonstrou que as parcerias público-privadas são um casamento pra lá de produtivo. O rigor da academia, com método e embasamento científico pode sim trazer benefícios para a indústria, identificando oportunidades de melhorias, mitigando riscos, trazendo resiliência e competitividade. Até a próxima! 

Para acessar os artigos completos citados acima, os links são:

https://www.aquaculturealliance.org/advocate/collaboration-drives-innovations-in-super-intensive-indoor-shrimp-farming/

https://panoramaacuicola.com/2021/02/25/panorama-acuicola-26-2_enero_febrero_2021/

 

 

Faça o download e confira o texto completo com todas as ilustrações. Clique aqui

 

 

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Maurício Emerenciano

Maurício Emerenciano é graduado em Zootecnia (UEM), mestre em aquicultura (FURG) e doutor em Ciências pela UNAM (México). Em 2014 foi ganhador da Medalha Alfonso Caso (menção honrosa designada às melhores teses e dissertações dos Programas de Pós-Graduação da UNAM/México). Atua na aquicultura desde 2002 e como pesquisador já realizou cooperação científica em diversos centros de pesquisa como Waddell Mariculture Center (EUA), CSIRO (Austrália) e IFREMER (França). Foi consultor científico em aquicultura para o governo do Chile, do México e Polinésia Francesa (Pôle d’Inovación de Tahiti). Membro do Biofloc Technology Steering Committee (AES), voltado a ações científicas e tecnológicas referentes ao sistema BFT. Possui capítulo de livro referência mundial da tecnologia de bioflocos (Biofloc Technology - The practical guide 3rd edition). Já proferiu mais de 20 cursos e diversas palestras sobre tecnologias “mais verdes” de produção para produtores, indústria e academia no México, Brasil, Chile e Colômbia. Atualmente é professor e pesquisador da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), campus Laguna/SC, onde coordena projetos de pesquisa vinculados ao setor público e privado.

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Charge Edição nº Publicado em 18/09/2023
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