Colunas
Aquicultura Ornamental
29 de Julho de 2021 Eduardo Sanches Gomes
A magia dos pigmentos

 

O ano de 2020 foi muito complicado. A pandemia, a crise econômica e a redução significativa dos investimentos em ciência fizeram cada um de nós repensar suas estratégias e posicionamentos para uma realidade bem diferente. Aqui no Instituto de Pesca não tem sido diferente. Cada pesquisador buscou “reinventar-se”.

As atividades com a aquicultura ornamental aqui no laboratório trouxeram de volta os desafios e a empolgação que, dada as condições atuais, andavam meio que dormentes. Os ciclídeos ornamentais (discos, bandeiras e apistos) estão se reproduzindo e seus filhotes têm possibilitado que diversas pesquisas possam ser executadas. Paralelamente, a cada dia surgem questões que demandam respostas por meio da investigação científica.

Uma das questões recentes e que citei na coluna anterior, foi o fato de que os discos (Symphysodon sp.) variedade “red royal” (dotados de um vermelho intenso) após um pequeno período nos aquários perderam grande parte da intensidade da cor. Não foi preciso muito empenho para descobrir que o vermelho intenso era resultado de doses elevadas de astaxantina (um pigmento que acrescido na dieta intensifica a coloração vermelha). Sem esta “dieta especial” a intensidade das cores diminuiu. Confesso que isto não foi legal... a sensação era de que tínhamos sido “enganados” e isto não é bom pensando em termos da relação fornecedor e consumidor. Por outro lado, canalizamos nossa “indignação” para investigar o que poderíamos aprender com esta situação.

 

 

A qualidade e o valor de uma espécie ornamental são determinados por diversos fatores, sendo a coloração a mais importante. A cor é um valor estético que afeta o valor econômico. Um dos desafios na aquicultura ornamental consiste em obter peixes com cores intensas. Aqui cabem algumas considerações. A cor da pele dos peixes é originada dos cromatóforos que são células que contêm pigmentos que refletem a luz. Dentre estes pigmentos se destacam os carotenóides. Os peixes, assim como outros animais, não têm capacidade de síntese de carotenóides e, assim, estes precisam ser supridos via dieta. Portanto, dietas deficientes em carotenóides causam diminuição da pigmentação da pele e conseqüente diminuição do valor de mercado dos peixes ornamentais. Até aqui tudo bem. O problema é que super dosagens de carotenóides provocam coloração intensa, mas quando esta dieta é suprimida esta coloração “diferenciada” vai embora... isto gera uma questão ética que cabe reflexão. Mas isto é assunto para outro momento. Vamos continuar tentando entender a questão da pigmentação em peixes.

O carotenóide mais utilizado mundialmente na aquicultura é a astaxantina. A suplementação de astaxantina na dieta representa 15-20% do custo total da alimentação, ou 6-8% do custo total de produção para o salmão do Atlântico (para que os filés tenham aquela cor alaranjada). E na aqüicultura ornamental, a suplementação de astaxantina na dieta também implica em elevação significativa de custos. Outra coisa que aprendemos é que em função do alto custo da astaxantina é preciso avaliar diferentes fontes naturais de carotenóides como substitutivos.  E aqui começa algumas experiências interessantes que pesquisadores brasileiros têm conduzido avaliando substitutos para a astaxantina. O urucum Bixa orellana é uma planta com distribuição ao longo da América Central e América do Sul. Apresenta-se como um arbusto perene, podendo ser encontrada de forma grande ou como uma árvore pequena, variando de 2 a 5 metros de altura. Muito utilizada pelas comunidades indígenas com o intuito de pigmentar a pele com a cor vermelha sendo a palavra urucum originada da palavra “uru-ku” que tem origem na língua indígena tupi. O Brasil se destaca como o maior produtor mundial de urucum, sendo que o estado de São Paulo detém 28% da produção nacional. Diversos trabalhos demonstraram a eficiência da utilização de sementes de urucum na alimentação animal, sendo que o principal tema abordado tem sido a alimentação de aves com o objetivo de melhorar a coloração das gemas de ovos. Estudos recentes mostram a viabilidade da utilização do urucum também para incrementar a pigmentação em peixes ornamentais.

Existem diversos outros pigmentos de origem vegetal (as flores são uma excelente fonte de carotenóides) que poderiam ser utilizados para intensificar a pigmentação de peixes ornamentais. A par desta relevante linha de pesquisa que pretendemos iniciar, não podemos deixar de refletir sobre a intensificação “exagerada” das cores através de “super” dosagens de carotenóides na dieta. Seria importante proporcionar maiores esclarecimentos ao consumidor, visando reduzir a “sensação de ter sido enganado”. Por outro lado, não se pode ignorar os benefícios que a suplementação de carotenóides pode proporcionar aos peixes ornamentais mantidos em aquários, sem acesso a fontes naturais de pigmentos. A lição que fica é que parece que o bom senso, uma matéria prima cada vez mais rara nas relações humanas, precisa existir, ao se introduzir astaxantina na dieta de peixes ornamentais. Sabe o título da coluna “a magia dos pigmentos”? Sabe a definição de magia? “Arte tida como capaz de produzir, por meio de certas práticas ocultas, efeitos ou fenômenos extraordinários”. Fica a reflexão. Até a próxima coluna. E não esqueça que a aquicultura ornamental, de pequena, só tem o peixe !!!

 

 

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