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Atualidades e Tendências da Aquicultura
16 de Julho de 2021 Fábio Rosa Sussel
Ainda somos criadores de peixe e camarão, não produtores de proteína aquática

 

Vaidades por espécies, por sistemas de cultivos, costumes regionais, fazer melhor que o vizinho e individualidade. Essas são ainda as principais características da nossa aquicultura. Pessimismo? Negativismo? Não, não... apenas uma constatação da realidade. Ao menos é a minha percepção a respeito de uma grande maioria dos pioneiros da atividade. Felizmente temos bons cases de criadores que transformaram suas pequenas produções em grandes negócios, seja na tilápia, no camarão, nos nativos, na produção de alevinos ou na larvicultura de camarão. Não há problema algum em ter preferência ou apostar em uma espécie ou sistema de cultivo. O que não pode é ter vaidade ou resistência para ajustar a rota. Até porque, todos que encontram-se na atividade estão, acima de tudo, como negócio.

Enquanto isto, o que se vê são grandes organizações especializadas em produção de proteína animal cada vez mais voltando suas ações para a proteína aquática. Copacol, C. Vale, JBS (Seara), são alguns exemplos. O que é bom, muito bom por sinal. Mas poxa, por que não os aquicultores tomarem a frente disso? Talvez não com a mesma pujança destas grandes empresas, mas ao menos com o mesmo foco, com a mesma visão de negócios. Eu mesmo tenho a resposta pra isto: individualidade! Ressalta-se que mesmo individualmente, alguns foram lá e fizeram acontecer. Tiro o chapéu pra estes. Não vou citar estas empresas aqui porque corro o risco de deixar algumas de fora. Mas se estas empresas buscassem estratégias de compartilhamento de estrutura, de logística, de campanhas de marketing, entre outras, talvez teríamos uma atuação mais agressiva partindo dos aquicultores pioneiros. Como sempre digo: sozinho se vai mais rápido, juntos vamos vai longe.

Faço alguma ideia do quanto é complicado a gestão de algo do tipo. Só que enquanto isto, grandes empresas não especializadas em pescado estão ficando com a maior fatia do bolo. Colocando em check inclusive estas empresas especializadas em proteína aquática que tiveram louváveis iniciativas individuais. 

A inspiração para abordar este tema surgiu por conta das discussões que acompanho nos grupos de WhatsApp, tanto de piscicultura quanto de carcinicultura. É recorrente a reclamação dos produtores em relação aos intermediários. A bem da verdade, atravessadores. Entendo que tenha uma grande diferença entre um e outro. Intermediário é aquele que faz a intermediação entre as partes interessadas. Atravessador é aquele que só está interessado em ganhar, tanto na compra quanto na venda. E lamentavelmente, seja no peixe ou no camarão, só temos atravessadores. Os quais não estão nem um pouco preocupados com a qualidade do produto. Já vi exceções, mas via de regra, por falta de cuidados, depreciam a qualidade do peixe e do camarão, implicando em menor valor de revenda e, desta forma, impossibilitados de pagar melhor para o produtor. 

Constata-se então dois cenários bem caracterizados: 1) Os aquicultores pioneiros que individualmente conseguiram se verticalizar disputando mercado com grandes empresas não especializadas em proteína aquática; e 2) Produtores de peixe e camarão brigando com os atravessadores para sobreviverem no negócio. Em ambos os casos, pouca ou nenhuma ação coletiva para resolver sendo realizada. Aliás, no caso dos atravessadores, nota-se que são mais organizados que os produtores. Talvez porque um atravessador não tem interesse em ter um caminhão mais bonito que o seu colega de profissão. Enquanto que o aquicultor ainda tem como meta ser melhor que o vizinho. O que não tem problema algum, desde que o vizinho em questão tenha resultados extraordinários.

 

 

Sei bem que apontar defeitos é fácil, difícil é trazer soluções. Mas neste caso, o começo da solução do problema passa pela identificação do cenário e em seguida uma mudança de mentalidade. Vou dar um exemplo: No meu tempo de vendedor de ração, quando frequentava muito as feiras agropecuárias, era nítida a vaidade dos pecuaristas pelas raças bovinas. Cada raça tinha uma associação e ainda uma revista impressa. Notava-se um orgulho diferenciado especialmente nos criadores de raças europeias, maior porte e carne mais marmorizada. Lindas, mas só põem peso se tiver comida boa no cocho. Logo, a conta não fecha. Até raças sintéticas surgiram. Por sinal, super válida a iniciativa. Porém, o mercado ditou a regra: “É pra ganhar dinheiro? Então vai no nelore ou no máximo em um cruzamento industrial pra algumas situações específicas.” Sei que no caso do peixe isto nunca irá acontecer, pois, trata-se de espécies diferentes. Mas o paralelo que quero traçar com a bovinocultura é em relação ao entendimento do negócio: produzir carne bovina e não esta ou aquela raça.

O cenário de escoamento do pescado produzido está aí, não enxerga quem não quer. Quanto a produção, precisamos urgentemente começar a pensar em produzir proteína aquática. Criar peixe ou camarão X produzir proteína aquática, pode ser só um jogo de palavras. Igualmente é intermediário X atravessador. Ter o devido entendimento do que realmente é um e outro, pode fazer toda a diferença. #VaiAqua!

 

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Fábio Rosa Sussel

Fábio Sussel é Zootecnista formado pela Universidade Estadual de Maringá, possui mestrado em nutrição de peixes pela UNESP de Botucatu e doutorado, também em nutrição de peixes, pela USP de Pirassununga. Pesquisador Científico em Aquicultura do Instituto de Pesca de São Paulo (em licença temporária). Especialista em proteína aquática, com ênfase na produção comercial de lambari e produção de camarão marinho em água salinizada. Idealizador e primeiro apresentador do programa AquaNegócios da Fish TV. Apresentador do Canal #VaiAqua do Youtube.

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Charge Edição nº 26 Publicado em 06/11/2022
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