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Visão Aquícola
29 de Junho de 2021 Giovanni Lemos de Mello
Delivery na aquicultura: prós e contras

Com o advento da pandemia do Covid-19, restaurantes fechados e frigoríficos retraídos, o carcinicultor brasileiro, calejado de tantas dificuldades nos últimos 18 anos (quase uma geração de crises!), enfrentou mais um desafio: o que fazer com os camarões prontos para serem despescados nos viveiros?

Outro marco relevante desta pandemia: o crescimento exponencial dos deliverys. Segundo estudo da Mobills, startup de gestão de finanças pessoais, os gastos com os principais aplicativos de entregas de comida – iFood, Uber Eats e Rappi – cresceram 149% em 2020. Em dezembro, foi registrado o número mais alto de gastos, sendo R$ 2.184.752,54 em pedidos de delivery. Segundo a pesquisa, isso representa um aumento de 187% em relação a março de 2020. Para chegar a estes números, foram analisadas as despesas de 46 mil usuários, entre os meses de janeiro e dezembro do ano passado.

O bacana do delivery aquícola é que quem começa as entregas são os próprios produtores, sem muita utilização de aplicativos ou ferramentas digitais. É o aquicultor raiz se reinventando, mas sem perder a essência!

Aliás, quem não tem algum amigo ou familiar fazendo um “porta a porta”? Eu entreguei muitos camarões para amigos, conhecidos e “desconhecidos” nos finais de semana pós-pandemia. Até meu filho primogênito, na época ainda com 6-7 anos (verão de 2020), abriu informalmente uma empresa de comercialização de camarões, chamada “LH Camarões”. Bora estimular a vocação empreendedora na molecada!

 

 

Eis que surgiram no País dezenas (ou provavelmente centenas!) de deliverys de frutos do mar, desde o início da pandemia. Quem não segue algo do gênero no Instagram que atire a primeira pedra.

Falando nisto, dezenas de perfis no Instagram foram recentemente criados, onde a ideia é levar uma proteína extremamente nobre e saudável, a preços baixos, diretamente até a mesa do consumidor. Disrupção no mais genuíno dos seus conceitos: quebrar uma cadeia de intermediários! E funcionou! O consumidor inclusive, feliz da vida, depois da entrega tira uma foto do prato pronto e marca o produtor no Insta. Conhece marketing melhor?

Como fator contrário, sem dúvidas, a questão dos maiores custos associados ao varejo. Você vai gastar com gelo, embalagens plásticas e combustível para o delivery. Se tiver boas tarrafas e uma equipe “afiada”, reduz os custos com despescas parciais. Camarões e peixes retirados da água. Agora é levar até o cliente!

Entendemos de produzir camarão, e não de fazer entregas. É até estranho nas primeiras vezes, onde você acha que a pessoa estará lhe esperando na porta de casa, mas depois você descobre que tem que estacionar o carro, interfonar, entrar no condomínio, pegar o elevador e bater na porta do cliente. Se ajeite rapaz, você é um “entregador” e tem que ter paciência, educação e um sorriso no rosto! Além de máquina de cartão... sem esquecer de mais este investimento e dos custos associados às tarifas do crédito e débito. Isto quando o cliente está em casa...

Organizar as rotas de entrega, priorizar a entrega dos congelados antes dos frescos, manter os produtos bem preservados no veículo, separar o troco e torcer para o sinal do wifi da máquina de cartão funcionar são mais alguns dos desafios.

O que tem de melhor?

Além do aumento substancial do preço de venda e consequentemente das margens de lucro, a satisfação dos clientes! Não há produto igual a um camarão ou peixe retirado do viveiro ou tanque-rede e entregue em domicílio minutos ou horas depois.

Trata-se de outro produto, outro patamar de qualidade!

Os consumidores não fazem ideia desta diferença de qualidade e quando descobrem, se apaixonam, sem exceção.

No fim das contas, vários produtores têm se descoberto exímios comerciantes e hoje pensam inclusive em mudar de ramo. Tem amigo meu que vai deixar de produzir para se dedicar somente ao comércio de camarões. Menos risco e maior faturamento, segundo ele.

Esta é a nossa aquicultura, se reinventando a cada dia, e descobrindo a importância da busca incessante por novos métodos de comercialização para as contas fecharem no positivo ao final do mês.

Se a legislação sanitária permite fazer tudo isto? Resposta para uma futura coluna. Entretanto, antes de julgar, lembre-se, trata-se de uma questão de sobrevivência!

Ótimas lições de um dos períodos mais sombrios da humanidade.

 

 

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Giovanni Lemos de Mello

Graduado na primeira turma do Brasil de Engenharia de Aquicultura, pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC (2003), possui Mestrado (2007) e Doutorado (2014) pelo Programa de Pós-Graduação em Aquicultura da UFSC. A partir de 2002 atuou como consultor técnico em diversas fazendas de cultivo de camarão marinho de SC. Em 2006 fundou a empresa AQUACONSULT – Projetos e Serviços em Aquicultura e Meio Ambiente, sendo homenageado pelo Presidente do CREA-SC como a primeira empresa de aquicultura filiada ao órgão, no Estado. Atualmente é Professor Adjunto II do curso de Engenharia de Pesca da Universidade do Estado de Santa Catarina, campus Laguna, secretário de relações internacionais da Peixe BR e editor-chefe da Revista Aquaculture Brasil.

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Charge Edição nº Publicado em 18/09/2023
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