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Genética
29 de Junho de 2021 Rodolfo Luís Petersen
As importações de material genético

A zootecnia vem cosmopolizando há décadas a criação de determinadas espécies que tem se mostrado mais doceis à domesticação humana. A Aquicultura como atividade zootécnica não foge da regra. Oreochomis niloticus entre os peixes e Litopenaeus vannamei entre os crustáceos são as principais commodities do comércio internacional no âmbito do agronegócio. Para ser eficiente em um mercado global é preciso várias condições, entre elas, a capacidade de crescimento e sobrevivência das populações cultivadas, visando maior nível de biomassa a menor custo.

Linhagens de crescimento rápido ou tolerante a doenças tem sido o alvo de todas as empresas de produção de formas jovens. É importante destacar tecnicamente que o desempenho de uma determinada população de cultivo depende de sua estrutura genética e do ambiente. A estrutura genética das populações muda ao longo do tempo. Neste contexto, pelo manejo inadequado das populações de determinado país, ou pelo desenvolvimento de linhagens melhoradas por empresas transnacionais, existe sempre a ideia, ou necessidade, de introduzir material biológico, ou seja, de realizar uma translocação de animais de uma região do planeta para outra.

As justificativas são variadas. Lembro no início da minha carreira profissional, quando o Brasil ainda engatinhava na aquicultura, onde na época justificava-se a criação de espécies nativas em função da dependência de introdução de material genético de espécies exóticas de outros países, e que sempre haveria uma demanda de novo material genético da natureza. Essa justificativa caiu por água abaixo, uma vez que atualmente, uma indústria como o Equador, proíbe o uso de reprodutores silvestres para a produção de larvas. O Litopenaeus vannamei tem se tornado uma espécie que se cultiva até na Ásia, substituindo em grande parte o gigante asiático, Farfantepenaeus monodon.

 

 

Entre as justificativas atuais mais comuns para a introdução de material genético em um país, podemos destacar:

•    Problemas de consanguinidade das populações existentes.

•    Aumento de diversidade genética para dar início a programas de melhoramento.

•    Problemas de tolerância a doenças e crescimento, havendo interesse de importação de linhagens melhoradas.

A grande limitação, e a explicação do porquê essas introduções são muito reguladas mundialmente, é a potencial introdução de microrganismos patogênicos como vírus e bactérias. Apesar de ser possível a realização de quarentenas certificadas dos patógenos registrados de notificação obrigatória pela OIE (Organização Internacional das Epizootias), nunca se pode estar totalmente seguro da introdução de novas doenças. Muitas bactérias e fungos não são cultiváveis, nem seus genomas conhecidos, e muitos patógenos podem estar em uma fase inicial de desenvolvimento no país de origem no momento de definir uma translocação. A Instrução Normativa do atual governo é a N° 2 (setembro do ano 2018) emitida pela Secretaria Especial de Aquicultura e da Pesca ficando revogada a Instrução Normativa N° 14 (dezembro do ano 2010) emitida pelo Ministério de Aquicultura e Pesca. Ambas são extremadamente similares com relação aos requisitos e trâmites para efetivar as introduções. Um exemplo mundial de destaque é a impossibilidade de translocar reprodutores de camarão da Tailândia para o resto da Ásia. Existem comentários nos âmbitos do melhoramento genético mundial de que a empresa CP da Tailândia está organizando uma unidade de produção de reprodutores na Flórida nos Estados Unidos, para poder distribuir as linhagens melhoradas de crescimento rápido. Numa live recente promovida pelo canal International Fish Congress, o empresário Werner Jost manifestou o interesse da empresa Camanor de introduzir as linhagens de crescimento rápido no Brasil para serem cultivadas no sistema AquaScience®, o que pode auxiliar na viabilidade dos sistemas de cultivo intensivo no Brasil.

Já houve várias introduções importantes. No âmbito do cultivo de tilápia podemos destacar a Linhagem Chitralada, introduzida pela Alevinopar (grupo de produtores do Paraná) no ano 1996 com a assessoria técnica do Dr Sérgio Zimmermann. Já no ano 2005 foi importada a Linhagem GIFT através do excelente trabalho realizado pela Universidade Estadual de Maringá (PR) liderada pelo Prof Dr Ricardo Ribeiro. Na indústria do camarão, uma das últimas introduções importantes foi realizada no ano 2006/2007 pela empresa Genearch Aquicultura Ltda, importando do Núcleo da empresa Syaqua em Kentucky-EUA e Oceanic Institute no Havaí, cinco populações SPF (Specific pathogen free) de Litopenaeus vannamei

As transferências de material biológico podem ser realizadas em diferentes estágios de desenvolvimento como embriões, larvas, juvenis e adultos. Na indústria do camarão, na tentativa de minimizar riscos de introdução de doenças, existe o interesse não consolidado de transportar espermatóforos (estrutura liberada pelos machos no momento da cópula). Desde os anos 2000, empresas americanas de genética de L. vannamei como Kona Bay e a Shrimp Improvement Systems / SIS, tem exportado milhares de reprodutores melhorados para os países asiáticos. Estas empresas ficam localizadas na Ilha do Hawai e na Flórida, longe de centros de produção, comercializando animais livres de patógenos específicos (SPF).

 

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Rodolfo Luís Petersen

Zoólogo, Mestre em Aquicultura pela Universidade Federal de Santa Catarina e Doutor em Genética e Evolução pela Universidade Federal de São Carlos (SP). Pesquisador e Gerente do Setor de Maturação do Laboratório de Camarões Marinhos (UFSC) desde 1990 até o ano 2001. Em 2003 trabalhou no Departamento de Genética da AQUATEC e desde janeiro de 2004 até dezembro de 2006 foi Gerente de Produção e Diretor Técnico do Laboratório Estaleirinho (Balneário Camboriú/SC). Como professor da UNISUL (Universidade do Sul de Santa Catarina), trabalhou em genética de peixes em parceria com a Piscicultura Panamá (Paulo Lopes/SC), entre 2006 e 2009. Atualmente trabalha como professor e pesquisador no curso de Engenharia de Aquicultura de Centro do Estudo do Mar (CEM/UFPR) e coordena o GECEMar (Laboratório de Biologia Molecular e Melhoramento de Organismos Aquáticos) da Instituição.

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