O ano de 2020 foi muito complicado. A pandemia, a crise econômica e a redução significativa dos investimentos em ciência fizeram cada um de nós repensar suas estratégias e posicionamentos para uma realidade bem diferente. Aqui no Instituto de Pesca não tem sido diferente. Cada pesquisador buscou “reinventar-se”.
Neste sentido e pensando em oportunidades de inovação, resolvi dedicar parte do espaço do laboratório de pesquisa para a aquicultura ornamental. Quem sempre acompanha nossa coluna sabe do meu expressivo interesse nesta atividade, que remonta minha infância e de minha convicção do enorme potencial que o Brasil tem nesta cadeia produtiva, quer seja pela nossa riquíssima biodiversidade de peixes ornamentais, quer por nossa criatividade e capacidade de inovação. Ainda espero ver o Brasil como um dos maiores expoentes mundiais deste segmento. Nossa proposta é contribuir, utilizando nossa base de conhecimento para desenvolver inovação neste segmento.
Pensando no potencial de inovação e em uma espécie que pudesse simbolizar esta proposta aqui no laboratório, escolhemos um novo “inquilino”: o acará disco (Symphysodon sp). Trata-se de um ciclídeo neotropical originário da América do Sul, pertencente aos rios da bacia Amazônica do Brasil, Peru e Colômbia. Muito disputado no mercado nacional e internacional e que pode atingir valores elevados (já vi exemplares por mais de R$ 800,00 !!!). O primeiro desafio (ou oportunidade) reside na grande diversidade de cores das espécies selvagens (que os especialistas ainda não conseguiram chegar a um consenso sobre quantas são...). Das espécies selvagens, por cruzamentos seletivos foi possível desenvolver inúmeras variedades com belos padrões de coloração.
Sistemas de recirculação são os mais indicados para a produção de discos por oferecerem condições adequadas de qualidade da água e redução nos custos com aquecimento, visto a espécie necessitar de temperaturas ao redor dos 28°C. Neste sentido nosso laboratório, por já operar sistemas de recirculação, necessitou de poucas alterações. Paralelamente, sistemas de recirculação permitem a produção de discos em ambiente urbano, proporcionando uma interessante opção de negócio e expandindo as alternativas para a aquicultura urbana.
Para início dos trabalhos escolhemos a variedade “red royal” dotada de um vermelho intenso (Figura 1). Adquirimos exemplares para formação de casais e a primeira surpresa: o vermelho intenso era resultado de doses elevadas de astaxantina (um pigmento que acrescido na dieta eleva a coloração vermelha nesta espécie). Sem esta “dieta especial” a intensidade das cores diminuiu. Excelente. Já temos assunto para pensar. Mas vamos seguir em frente. Queríamos mais desafios. Resolvemos adquirir um lote de discos selvagens para ter acesso a uma “genética” mais robusta.
O resultado já começa a aparecer. Já obtivemos várias reproduções e os filhotes crescem e vem se desenvolvendo muito bem.
A cada acontecimento e a cada literatura pesquisada percebemos a escassez de informação que existe sobre esta espécie e do quanto de oportunidade de inovação uma espécie de peixe nativo pode oferecer.
Os acarás disco são ciclídeos e, portanto, não é novidade que apresentem cuidado parental (como por exemplo as tilápias onde as fêmeas carregam os ovos na boca). Agora nosso ciclídeo ornamental brasileiro apresenta uma característica mais especial. Vocês sabiam que o acará disco exibe um raro cuidado parental? Os pequenos filhotes recém eclodidos ficam ao redor do corpo dos pais se alimentando de um muco produzido pelos peixes. Este muco possui uma composição química muito específica e indispensável para o crescimento dos filhotes. O que teria este muco de tão especial? Alguns trabalhos já tentaram desvendar este mistério, mas ainda restam mais perguntas do que respostas.
Percebemos também que esta espécie tem uma legião de interessados, que movimentam grupos de discussão no mundo todo, sem contar os grandes criadores nacionais e internacionais. Inclusive temos algumas empresas brasileiras especializadas na exportação desta espécie diretamente da Amazônia para aquaristas em diversas partes do mundo.
Para concluir, porque se tivesse espaço teríamos muita coisa para contar destes primeiros meses de início do projeto, posso afirmar que esta vem sendo uma das espécies mais interessantes e desafiadoras que já trabalhei. Em breve pretendo trazer mais resultados da reprodução dos exemplares selvagens e imagens do cuidado parental executado pelos peixes. Até a próxima coluna.
E não esqueça que a aquicultura ornamental, de pequena, só tem o peixe!!!
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