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Genética
03 de Agosto de 2020 Rodolfo Luís Petersen
Correlações genéticas e fenotípicas

Na última coluna publicada na 19° edição, abordei o tema das diferenças entre caraterísticas (crescimento e sobrevivência) de importância econômica na aquicultura mundial e a estratégia de melhoramento adotada em cada caso. Em um dos parágrafos da mencionada coluna coloquei: “Outro fator desmotivador é que os dados existentes da correlação genética entre resistência a doenças e crescimento é negativa, resultando que as famílias que mais crescem são as menos resistentes”. Sendo assim, o que significa “correlação genética negativa”?

 

1. O que é uma correlação?
No campo da estatística e da matemática a correlação se refere a uma medida entre duas ou mais variáveis que se relacionam, e é calculada através do produto da soma dos desvios das medições de cada caraterística com relação a sua média aritmética (você pode consultar a fórmula completa na internet). Essa relação pode ser positiva ou negativa porque o somatório dos desvios com relação à média pode resultar em um número positivo ou negativo. Definimos como correlação positiva quando uma das variáveis aumenta e a outra também aumenta, e vice-versa. Correlação negativa quando uma variável aumenta e a outra diminui. Na estatística é definido como o coeficiente de correlação de Pearson e pode variar entre o valor máximo de correlação positiva (+ 1) ou o máximo valor negativo (-1). Quanto mais o “r” (correlação) se aproxima de r= -1, maior será a correlação negativa, ou seja, quanto maior esse valor de uma variável, menor será o valor da outra que estejamos analisando. Por outro lado, quanto mais próximo de r= +1, maior será a correlação positiva, ou seja, quanto maior o valor de uma variável, maior será o valor da outra. Após esta compreensão, dentro dos parâmetros genéticos que são calculados em um programa de melhoramento genético, podemos incluir as correlações genéticas e fenotípicas. 

 

 

2.1 Qual o seu interesse prático?
Poderia citar inúmeras correlações fenotípicas de interesse zootécnico e prático. A mais comum é a correlação existente entre Peso Total e o Comprimento Total. Se esta correlação é alta e muito significativa, podemos optar por medir o indivíduo sem a necessidade de pesarmos. Na prática, esta correlação é muito alta e utilizada nos programas de melhoramento de camarões marinhos com o objetivo de diminuir o erro da pesagem devido a um excesso de água extracorpórea que o indivíduo carrega no momento da biometria, evitando a necessidade de um mecanismo de secagem rápida. Outra utilidade é evitar o excesso de manipulação e estresse, assim como, a diminuição do tempo necessário para os processos de biometrias e seleção (uma vez que depois desses manejos esse indivíduo pode ser selecionado e formar parte de nosso futuro plantel de reprodutores). Em resumo: uma correlação fenotípica nos permite MEDIR uma variável sem a necessidade de medir a outra, em nosso exemplo, podemos medir o comprimento total do camarão individualmente e estimar o peso total estatisticamente. É importante ressaltar que as correlações precisam ser muito altas e significativas, do contrário estaríamos colocando um erro importante em nosso valor fenotípico, levando ao erro do que mais nos interessa: o valor genético.

 

3. O que é uma correlação genética?
Uma correlação genética é a correlação existente entre os valores genéticos das caraterísticas incluídas no programa. Igualmente às correlações fenotípicas, podem ser negativas ou positivas, entre os valores -1 e +1.

 

3.1 Para que se utiliza seu cálculo?
Vamos supor que temos uma correlação genética alta, positiva e significativa entre a caraterística “crescimento” e “sobrevivência” a desafios frente ao Vírus da Mancha Branca (WSSV) em camarões marinhos. Isto quer dizer que, quanto maior for o valor genético de uma família para a caraterística “crescimento”, maior será o valor genético da família para a caraterística “sobrevivência” frente a uma determinada patologia (no exemplo, resistência ao WSSV). Este resultado nos permitiria selecionar os indivíduos ou famílias com maior peso (g) em um determinado tempo de cultivo, nos garantindo que serão os indivíduos ou famílias mais tolerantes à doença em questão. BINGO! Não preciso gastar dinheiro com testes de desafios. Outra aplicação interessante é para a seleção de caraterísticas onde precisamos sacrificar o indivíduo para poder mensurá-la, como por exemplo, a textura do músculo (filé). Se o comprimento da cabeça está correlacionado geneticamente com a textura do músculo, poderemos desenvolver uma população com uma textura de músculo ideal exigida pelo mercado, medindo e selecionando o comprimento da cabeça. 

 

Onde mais se usa o conceito de correlação?
Deixamos isso para a próxima coluna.

 

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Capa do colunista Rodolfo Luís Petersen
Rodolfo Luís Petersen

Zoólogo, Mestre em Aquicultura pela Universidade Federal de Santa Catarina e Doutor em Genética e Evolução pela Universidade Federal de São Carlos (SP). Pesquisador e Gerente do Setor de Maturação do Laboratório de Camarões Marinhos (UFSC) desde 1990 até o ano 2001. Em 2003 trabalhou no Departamento de Genética da AQUATEC e desde janeiro de 2004 até dezembro de 2006 foi Gerente de Produção e Diretor Técnico do Laboratório Estaleirinho (Balneário Camboriú/SC). Como professor da UNISUL (Universidade do Sul de Santa Catarina), trabalhou em genética de peixes em parceria com a Piscicultura Panamá (Paulo Lopes/SC), entre 2006 e 2009. Atualmente trabalha como professor e pesquisador no curso de Engenharia de Aquicultura de Centro do Estudo do Mar (CEM/UFPR) e coordena o GECEMar (Laboratório de Biologia Molecular e Melhoramento de Organismos Aquáticos) da Instituição.

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