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30 de Janeiro de 2020 Giovanni Lemos de Mello
Berçários intensivos na carcinicultura catarinense: novos tempos!

A história da criação de camarões marinhos em Santa Catarina passa pelo pioneirismo nacional na tentativa de produção com espécies nativas, ainda no final da década de 60, ou seja, há mais de 50 anos!

Entretanto, somente a partir de 1998, com a introdução do Litopenaeus vannamei, a atividade deslanchou, embora os tempos áureos tenham durado muito pouco. O “apogeu” foi de 1998 até novembro de 2004, ou seja, apenas 6 anos... e hoje, passados 15 anos, o setor ainda não se recuperou. Seis anos de produção para mais de 15 anos de paralisação? Por enquanto sim, mas as coisas parecem estar mudando...

Sem dúvidas, o estado de SC não é o local ideal para a produção de uma espécie tropical como o L. vannamei. As temperaturas ótimas para esta espécie (28 – 32 °C) não ocorrem em mais do que três meses durante o ano (dez/jan/fev). Fora as oscilações para baixo desta sua faixa ideal de conforto, mesmo nessa época de verão.

Se houve algum erro estratégico do ponto de vista de concepção dos projetos catarinenses, certamente foi a questão da não utilização de estruturas como pré-berçários ou berçários intensivos para recepção/ aclimatação das pós-larvas, visando sua “proteção” nos primeiros dias ou semanas. O Estado, mais do que qualquer outro produtor de camarões marinhos do Brasil, necessita de um local seguro e de um ambiente controlado para acondicionar as pós-larvas. Acondicionar ou quem sabe até cultivá-las durante os primeiros 30 dias, concebendo uma pré-engorda. O fator clima atrapalha demais a região... Liberar pequenas pós-larvas em viveiros de até 8,0 hectares, em meio a tamanha incerteza e adversidades climáticas, não foi a melhor estratégia até então.

A grande novidade da safra 2018-2019 na região Sul de SC foi a adoção de berçários intensivos para receber as pós-larvas e mantê-las seguras nos primeiros 30 dias. Duas fazendas saíram na frente nesta questão, construindo berçários individuais para cada um de seus viveiros de engorda. Foram os primeiros 10 berçários intensivos no Sul de SC.

Os berçários intensivos, na prática, foram construídos dentro dos viveiros de engorda (Figura 1), aproveitando o próprio material existente para movimentação de terra e construção dos taludes. Houve o revestimento com geoemembrana e cobertura por estufas feitas de eucalipto tratado, além da aeração por sistema misto (aeradores de pás + compressores radiais e mangueiras microperfuradas). Em geral, os berçários trabalharam com densidades ao redor de 800-1000 pós-larvas/m³.

Os resultados foram surpreendentes para o Estado! Em uma das fazendas, os berçários propiciaram a adoção de três ciclos completos, nas duas fases, atingindo um patamar acima de 5.000/kg/ha/ano. Em outra, dois ciclos completos foram realizados com sucesso e, já em meados de janeiro, todas as despescas destes dois ciclos estavam concluídas.

Com os povoamentos em geral sendo realizados na região entre setembro e outubro, de forma inédita, uma destas fazendas que fez o uso dos berçários intensivos despescou todos os camarões no mês de novembro (média de 10 g). Os cultivos monofásicos jamais permitiram a realização de despescas no mês de novembro, algo impensável até então.

Hoje, com os camarões sendo recebidos em berçários, tendo maior conforto, temperatura e biosseguridade, após os 30 dias iniciais em sistema intensivo e com a “liberação” para os viveiros de engorda, o efeito do crescimento compensatório somado a redução drástica da densidade (de 1.000 para 10-20 camarões/ m²), tem provocado um ganho de peso semanal bastante interessante (1,5 – 2,0 g/semana).

Apesar do “encurtamento” significativo da fase de engorda, somente a utilização desta tecnologia não é garantia de sucesso na produção, e os produtores locais já sabem disso. Tanto que a síndrome da mancha branca novamente assombrou os carcinicultores do Sul de SC após alguns anos em silêncio. De fato, trata-se apenas de uma ferramenta, entre tantas disponíveis para o enfrentamento das enfermidades nos cultivos de camarão.

Para a safra 2019-2020 no Sul de SC, que iniciará em setembro de 2019, durante o início da primavera, praticamente todas as fazendas que produzirão, utilizarão berçários para a pré-engorda. Há anos atrás, os produtores catarinenses já tiveram que receber pós-larvas em meio a frentes frias causadas por massas de ar polar que derrubam a temperatura na região, ficandoreféns da situação, tendo em vista a falta de previsibilidade com relação à oferta de pós-larvas em SC. Hoje em dia, produtores e laboratórios podem dormir um pouco mais tranquilos, pelo menos com relação a este aspecto. Se chegar uma massa de ar polar em meio a aclimatação, as pós-larvas ficarão seguras dentro dos berçários, até que o clima melhore do lado de fora.

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Giovanni Lemos de Mello

Graduado na primeira turma do Brasil de Engenharia de Aquicultura, pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC (2003), possui Mestrado (2007) e Doutorado (2014) pelo Programa de Pós-Graduação em Aquicultura da UFSC. A partir de 2002 atuou como consultor técnico em diversas fazendas de cultivo de camarão marinho de SC. Em 2006 fundou a empresa AQUACONSULT – Projetos e Serviços em Aquicultura e Meio Ambiente, sendo homenageado pelo Presidente do CREA-SC como a primeira empresa de aquicultura filiada ao órgão, no Estado. Atualmente é Professor Adjunto II do curso de Engenharia de Pesca da Universidade do Estado de Santa Catarina, campus Laguna, secretário de relações internacionais da Peixe BR e editor-chefe da Revista Aquaculture Brasil.

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