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Nutrição Aquícola
13 de Julho de 2020 Artur Nishioka Rombenso
Nível trófico prevê a essencialidade nutricional de ácidos graxos em peixes

Recentemente escrevemos o artigo “Ácidos graxos essenciais em peixes, introdutório a uma seção especial”*, publicado na North American Journal of Aquaculture. Essa seção especial é o resultado de uma série de estudos com cinco espécies-chave da aquacultura mundial, incluindo a truta arco-íris, o bagre, a tilápia, o pampo e o híbrido striped bass.

Definir as exigências nutricionais de ácidos graxos na nutrição de peixes é uma tarefa complexa devido ao grande número e diversidade de espécies de peixes criadas mundialmente, às preferências biológicas em relação a salinidade, temperatura e nível de carnivoria, aos diferentes sistemas de criação e à flexibilidade na formulação das rações. Até o presente, o conceito de exigência de ácidos graxos mais utilizado na literatura se resume nas preferências biológicas de salinidade e temperatura nas quais se encontram a espécie em questão. Em outras palavras, as espécies de água doce e tropicais não exigem os ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa (em inglês LC-PUFA, como DHA - ácido docosahexaenóico, EPA - ácido eicosapentaenóico, e ARA - ácido aracdônico) pois são capazes de sintetizar os LC-PUFA através dos precursores C18 PUFA, 18:3n-6 (ácido linoleico) e 18:3n-3 (ácido linolénico). Por outro lado, as espécies de água salgada e frias necessitam a suplementação de LC-PUFA nas dietas por não sintetizarem esses nutrientes a partir dos C18 PUFA. Apesar de bem aceito, esse conceito não é muito preciso e adequado para várias espécies.

Nesse contexto, introduzimos o nível trófico ou nível de carnivoria, que classifica os organismos em relação à posição que ocupam dentro da cadeia alimentar que varia de 1 a 5, onde 1 é o produtor primário e 5 é o predador mais elevado, como um conceito mais preciso para prever as exigências nutricionais de peixes. Também defendemos a hipótese dos C18 PUFA possuírem limitadas funções fisiológicas servindo estritamente como precursores dos LC-PUFA, enquanto que os LC-PUFA são os ácidos graxos mais relevantes fisiologicamente.

Combinando esses fatores com a literatura existente e os cinco estudos com as espécies anteriormente mencionadas chegamos aos seguintes resultados e conclusões:

1.Tilápia e bagre - espécies com baixo nível trófico que não exigem LC-PUFA; rações contendo C18 PUFA nas proporções e concentrações corretas já são suficientes para atender as exigências nutricionais de ácidos graxos dessas espécies;

2.Truta arco-íris e pampo - espécies de médio nível trófico que podem ou não exigir LC-PUFA, ou seja, elas têm capacidade de sintetizar LC-PUFA através dos C18 PUFA, porém dependendo das espécies a suplementação de LC-PUFA nas rações pode resultar em uma economia energética e, consequentemente, maior crescimento;

3.Híbrido striped bass - espécie de nível trófico elevado que exige LC-PUFA nas dietas para atender suas exigências de ácidos graxos;

4.Espécies menos carnívoras não exigem LC-PUFA enquanto que em espécies mais carnívoras há exigência dos LC-PUFA nas rações.

 

 

Como toda regra, esse conceito também pode apresentar exceções. Porém, com base na atual literatura e conhecimento nessa área, podemos afirmar que o conceito de nível trófico como previsor da essencialidade de ácidos graxos em peixes é atualmente o conceito mais preciso que existe e serve de base para profissionais no campo da aquacultura e manejo pesqueiro.

Você sabe o nível trófico da(s) espécie(s) com que você trabalha? Caso não saiba, acesse sites como o fishbase.com e coloque o nome comum ou científico do seu peixe e descubra o nível trófico. Uma vez com essa informação você já terá uma ideia sobre a essencialidade de ácidos graxos da(s) espécie(s).

Para mais detalhes e informações, recomendo a leitura do nosso artigo bem como de todos os outros artigos que compõem a seção especial da revista acima mencionada. Espero ter trazido algo novo e útil para todos.

*Trushenski, J.T., & Rombenso, A.N. 2020. DOI: 10.1002/naaq.10137

 

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Artur Nishioka Rombenso

Artur N. Rombenso é oceanólogo Brasileiro de 28 anos e doutor em Nutrição aquícola pela Southern Illinois University Carbondale – EUA. Atualmente é professor/pesquisador no Instituto de Oceanografia na Universidade Autônoma de Baja California – México. Nos últimos 5 anos o Artur vem trabalhando com nutrição de peixes com ênfase em fontes alternativas de lipídeos e requerimentos de ácidos graxos. Possui vários trabalhos publicados em revistas científicas e técnicas, nacionais e internacionais, e ganhou 5 prêmios de melhor trabalho científico durante seu doutorado. Possui também grande experiência internacional participando e colaborando em projetos de pesquisa e extensão em mais de 7 países. Além do lado acadêmico, Artur auxilia na coordenação de pesquisa, extensão e produção de uma maricultura em Angra dos Reis – RJ. As principais linhas interesse se extendem desde nutrição (organismos aquáticos e humanos) à aquacultura, maricultura, lipídeos, ácidos graxos, e qualidade nutricional de frutos do mar. 

E-mail: arturnr@yahoo.com.br

Skype: artur.nishioka

CV: Research Gates

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