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Green Technologies
30 de Janeiro de 2020 Maurício Emerenciano
Nitrogenados: explicando a confusão

Nesta edição da coluna Green Technologies trazemos dois convidados especiais para falar de um tema extremamente importante nos cultivos intensivos: compostos nitrogenados e sua correta interpretação. Por diversas vezes ao explicarmos sobre os níveis de segurança dos compostos nitrogenados, escutamos produtores que dizem: “meu nitrito chegou a 30mg/L e meus camarões estão ótimos!” ou “meus animais só começaram a morrer com níveis de nitrito acima de 50mg/L. Eles são muito resistentes!”. São fatos que até poderiam estar corretos se fossem cultivos em salinidades bem elevadas. Mas na verdade o que muitas vezes ocorre é uma confusão na leitura e interpretação dos resultados.

Vamos explicar então a questão dos valores dos compostos nitrogenados de acordo com o teste/leitura das diferentes moléculas. Existem duas maneiras principais de descrever as concentrações de amônia, nitrito e nitrato na água:

I. A partir da massa molecular do nitrogênio dessas moléculas, descrevendo apenas a massa do átomo de nitrogênio;

II. A partir da massa da molécula inteira.

Vejamos um exemplo: a fórmula N-NO2 (nitrogênio-nitrito) indica apenas a massa do átomo de nitrogênio presente na molécula. Já a fórmula NO2 indica a massa da molécula inteira de nitrito. Dessa forma, o valor de nitrogênio-nitrito terá um valor sempre menor do que o valor do íon nitrito associado. Assim podemos observar diferentes formas de descrever esses compostos: N-NH3 e NH3 (para amônia não-ionizada); N-NH4 e NH4 (para amônia ionizada);       N-NO2 e NO2 (para o nitrito); e N-NO3 e NO3 (para o nitrato). A conversão entre as duas formas é bastante simples e pode ser observada na tabela I. Os principais testes de detecção desses compostos são os colorimétricos (testes comuns de aquário), e os fotocolorimétricos (utilizam equipamentos que leem o comprimento de onda de cor). Geralmente os testes colorimétricos exibem no resultado as formas iônicas dos nitrogenados. Já os fotocolorímetros, no geral, quantificam as moléculas de nitrogênio ligadas ao composto em questão. Mas isso vai depender de cada marca/ equipamento utilizado.

E por que precisamos levar em consideração essa diferença de valores? É simples: uma interpretação errônea pode trazer consequências desastrosas. Um certo valor de nitrito interpretado de maneira equivocada pode estar sendo subestimado em até 3,28 vezes a menos! Por exemplo, em um cultivo de camarões marinhos da espécie Litopenaeus vannamei em salinidade 10, se o resultado para N-NO2 for 7,0 mg/L, você está dentro ou fora dos limites de segurança?

O nível de segurança de nitrito para essa espécie em salinidade 10 é de 2,5 mg/L de N-NO2. No entanto, utilizando a tabela acima e convertendo para a molécula NO2, o nível de segurança passa a ser 8,2mg/L. Assim, você está fora dos limites de segurança, e medidas de manejo devem ser tomadas. Um olhar rápido e menos atencioso poderia supor que tudo está sob controle. Mero engano! Para evitar confusão, sempre verifique qual molécula o teste utilizado apresenta como resultado e tenha em mãos boas literaturas. Fazendo a conversão pode-se saber corretamente a concentração do composto nitrogenado e tomar as devidas medidas necessárias no seu cultivo. Ótimas despescas!

*Colaboração: Maria Angélica Reis e William Bauer (Kona Blue Aquacultura)

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Maurício Emerenciano

Maurício Emerenciano é graduado em Zootecnia (UEM), mestre em aquicultura (FURG) e doutor em Ciências pela UNAM (México). Em 2014 foi ganhador da Medalha Alfonso Caso (menção honrosa designada às melhores teses e dissertações dos Programas de Pós-Graduação da UNAM/México). Atua na aquicultura desde 2002 e como pesquisador já realizou cooperação científica em diversos centros de pesquisa como Waddell Mariculture Center (EUA), CSIRO (Austrália) e IFREMER (França). Foi consultor científico em aquicultura para o governo do Chile, do México e Polinésia Francesa (Pôle d’Inovación de Tahiti). Membro do Biofloc Technology Steering Committee (AES), voltado a ações científicas e tecnológicas referentes ao sistema BFT. Possui capítulo de livro referência mundial da tecnologia de bioflocos (Biofloc Technology - The practical guide 3rd edition). Já proferiu mais de 20 cursos e diversas palestras sobre tecnologias “mais verdes” de produção para produtores, indústria e academia no México, Brasil, Chile e Colômbia. Atualmente é professor e pesquisador da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), campus Laguna/SC, onde coordena projetos de pesquisa vinculados ao setor público e privado.

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Charge Edição nº Publicado em 18/09/2023
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